2 de novembro de 2025

A Imensidade

Berghain
ROSALÍA, Björk & Yves Tumor


Já faz algum tempo que não havia dúvida do imenso talento da Rosalía, mas, sinceramente, nada poderia alertar para ouvir a magistral Berghain.

Primeiro single do álbum LUX, a canção é uma desconcertante, impressionante e magnífica experiência sonora em que a cantora resolve ir com toda força, sem olhar para trás, ao entregar a canção mais “de cair o queixo” da sua carreira e, sem nenhuma dúvida, dos últimos anos.

Deixando de lado algumas influências dos seus trabalhos anteriores, mas continuando a explorar os limites da sua sonoridade, Berghain é um trabalho inesquecível que mistura, de maneira genial, art pop, música clássica, avant-garde, orquestral, operático e barroco para criar uma verdadeira pièce de résistance na carreira da cantora. Mostra não apenas a sua capacidade, mas também a clara noção de que o “pop” pode ser muito mais amplo e profundo do que algumas cantoras fazem.

Pode ser experimental, cativante, estranho, nada comercial, revolucionário, grandioso, contemplativo e único — e isso em uma canção de dois minutos e cinquenta e oito segundos. Quando a ouvi pela primeira vez, achei que essa duração curta, especialmente diante da imensidão criativa colocada na canção, seria um grande problema, fazendo-a perder alguma força. De certa forma, isso acontece, pois, se Berghain fosse um minuto ou um minuto e meio maior, poderia explorar ainda melhor seus melhores pontos sem deixar nada a desejar. Todavia, os “pontos” que isso faz a canção perder não são suficientes para que ela deixe de ser considerada uma genialidade magistral.

Com um instrumental irretocável, que dá a base perfeita para toda a força da produção, o maior trunfo da canção é a presença da Rosalía em todos os “cantos”: começando com a sua atuação como produtora, passando por sua marca de compositora e chegando, claro, à sua magistral performance vocal. Sério — sabíamos que a formação clássica dava à cantora um imenso passo de vantagem em comparação com outros artistas, mas aqui tudo é elevado a um novo patamar, com sua dilacerante performance ao misturar a força do canto operístico com sua vertente mais pop.

Todavia, o que dá a liga aqui é a magistral passagem da presença descomunal da Björk, que entrega apenas um verso repetido, mas adiciona uma tonelada de personalidade e significância à canção. Queria algo mais profundo na presença de Yves Tumor, mas seu surgimento final ajuda a manter o toque de imprevisibilidade da faixa intacto.

Por fim, a composição é um triunfo que consegue transitar por três línguas (espanhol, inglês e alemão) sem perder força, mantendo essa deliciosa estranheza temática e de significação sem comprometer a impecável estética. E o mais fascinante é que, possivelmente, o álbum nem seguirá exatamente esse mesmo caminho, o que mostra ainda mais a genialidade da Rosalía.
nota: 9

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