Black Country, New Road
14 de dezembro de 2025
9 de dezembro de 2025
Single do Ano - Votação 1
E eis que chegamos ao fim de mais um ano. Mudando um pouco o que venho fazendo nos últimos anos para a escolha de qual foi o grande sucesso do ano, esse ano escolhi fazer duas votações previas apenas. Sai os duelos e entre a fase classificação. Cinco canções de imenso sucesso durante o ano. As três mais votadas vão para a votação final. Aqui estão as escolhidas para o primeiro confronto:
Votem!
7 de dezembro de 2025
23 de novembro de 2025
A Magia da Música
Sympathy Magic
Florence + the Machine
Florence + the Machine
Possivelmente, Sympathy Magic, single de Everybody Scream, é uma das canções mais sinceras da carreira do Florence + the Machine — o que, por si só, já é impressionante, considerando que estamos diante de uma discografia marcada por composições devastadoras.
Refletindo sobre experiências de quase morte, Florence Welch entrega uma letra que desconcerta pela simplicidade e pela forma direta com que expõe sentimentos que muitas vezes não temos coragem de admitir. Sympathy Magic funciona como uma crônica sobre repensar a vida e buscar novas maneiras de enxergá-la, adotando um olhar realista que nem sempre encontra acolhimento. Por isso, a canção também se torna um “feitiço” lançado por Florence em busca de conexões verdadeiras. É a capacidade criativa dos envolvidos que permite que uma temática tão complexa seja abordada sem pretensão ou excesso, amparada por um apelo estético absolutamente preciso.
A faixa é defendida com a maestria graciosa e grandiosa da presença sempre imensa de Welch, que entrega uma de suas melhores performances recentes ao misturar doçura explosiva com sua rica textura vocal. Sonoramente, Sympathy Magic casa lindamente com a vertente seguida no álbum, unindo elementos de indie rock à essência art pop/barroca que consagrou a identidade do grupo.
Sympathy Magic reafirma que o Florence + the Machine continua plenamente capaz de entregar magia em forma de música.
nota: 9
Cápsula do Tempo
Doing It Too
Rochelle Jordan
Uma das melhores qualidades de uma canção que busca emoldurar uma sonoridade específica é saber ser nostálgica sem soar como uma cópia barata. Esse é o caso da sensacional “Doing It Too”, da Rochelle Jordan.
Capturando com perfeição a áurea do deep house do começo dos anos 1990, a canção consegue se sustentar perfeitamente pelas próprias pernas ao não soar ultrapassada nem ter cheiro de naftalina. Na verdade, “Doing It Too” possui um frescor delicioso e cativante, devido principalmente à sensacional performance de Rochelle, que domina a faixa com uma exatidão tocante e um carisma gigantesco. As adições sonoras — com toques de garage house e dance-pop — também elevam a qualidade da música, ampliando ainda mais seu escopo sonoro. Dançante, divertida, sensual e com uma personalidade iluminada, “Doing It Too” é uma das melhores canções que, possivelmente, você ainda não ouviu em 2026.
nota: 8,5
Send to Robin Immediately
Dopamine
Robyn
Robyn
Uma das artistas mais respeitadas do pop, Robyn está de volta após um hiato de sete anos desde o lançamento do álbum Honey. E, como primeiro single, lançou a ótima faixa Dopamine.
Longe de ser uma magnum opus do pop, a canção carrega a marca de qualidade constante da cantora: um synth-pop maduro, envolvente e encorpado, com toques de post-disco e house. Apesar de não explodir nos ouvidos, Dopamine é um slow burn invejável graças à sua impecável construção instrumental, que vai criando a atmosfera ideal para aquilo a que a produção se propõe. Mais uma vez, o cuidado de Robyn com cada detalhe da produção é o que a diferencia do restante da multidão — assim como sua voz delicada, melodiosa e atemporal, que sempre serve como ponto de equilíbrio de suas canções.
E assim, felizmente, um verdadeiro ícone pop está de volta, já oferecendo algo para nos fazer esperar ansiosamente por 2026.
nota: 8
16 de novembro de 2025
2 Por 1 - Charli xcx
House
Charli xcx & John Cale
Chains of Love
Charli xcx
Você estava sabendo que a Charli XCX lançou novo single? Na verdade, lançou dois singles para começar a divulgar o álbum Wuthering Heights, que será a trilha sonora da adaptação de O Morro dos Ventos Uivantes. E, apesar do pouco interesse do grande público, as duas canções dão uma percepção extremamente auspiciosa para o novo trabalho da cantora.
Acredito que boa parte do não envolvimento do público geral se deve ao fato de que ambos os singles são uma partida bem grande do hyperpop de Brat, partindo para algo mais synthpop, art pop e experimental. E isso, sinceramente, é algo de um frescor imenso, pois dá ainda mais profundidade à carreira da cantora. Entre as duas, o grande destaque fica para a incrível House.
Totalmente diferente de tudo que a cantora já fez, a canção tem como ponto de brilhantismo a genial participação de John Cale, da lendária banda The Velvet Underground. Dono de uma voz forte, marcante e profunda, o artista narra, em forma de poema, um longo verso que tem relações com a obra literária sem inserir trechos do livro. E é revigorante a ideia e a execução, pois criam toda uma atmosfera densa e sombria que vai crescendo até chegar a um clímax poderoso, no qual Charli aparece apenas para ajudar na quebra de expectativa sonora. Essa quebra vem do fato de que, por boa parte de “House”, enquanto temos a presença de Cale, a canção se comporta como uma épica e climática dark ambient com elementos neoclássicos, para terminar com influências de industrial e toques de synthpop. É uma produção ousada e majestosa que não teria razão para ser um sucesso comercial, mas que me deixa extremamente feliz por existir.
Em Chains of Love, porém, acredito que o não sucesso é ainda mais enfático, pois a canção tem uma produção mais acessível e que facilmente poderia ser um viral — especialmente lembrando que a canção que fez a Charli XCX estourar foi “Boom Clap”. Uma refinada, madura, romântica e bem construída power balada synth-pop/alt-pop, ela consegue mostrar um pouco da áurea pop e estilizada que essa nova adaptação do livro de Emily Brontë parece querer seguir. E, sendo bem honesto, o resultado funciona perfeitamente, especialmente devido à ótima construção instrumental e à performance mais tradicional da cantora. Talvez, com uma composição mais marcante — mesmo sendo um trabalho acima da média —, pudesse ter criado um vínculo mais forte com o público. De qualquer forma, Charli XCX já tem em mãos um dos primeiros trabalhos mais aguardados de 2026, que tem chances de ser mais interessante que o filme em que se baseia.
notas
House: 8,5
Chains of Love: 8
Um Oscar Para Miley - Parte 2
Dream As One
Miley Cyrus
Miley Cyrus
Depois de falhar em conquistar uma indicação ao Oscar neste ano, Miley Cyrus está de volta à corrida com a boa, mas clichê, Dream As One.
Tema do filme Avatar: Fire and Ash, a canção é uma balada pop rock que tem cara de tema de filme arrasa-quarteirão, como é a franquia Avatar, com seus prós e contras. Mais comercial e vendável que Beautiful That Way, mas menos inspirada, a canção tem como grande qualidade a performance segura da cantora, que consegue imprimir personalidade por saber usar o seu timbre.
Outra boa qualidade que também ajuda Dream As One a ficar acima da média é uma estética que parece casar a atmosfera de The Climb com a sonoridade mais recente da cantora, dando certa personalidade. O que falta de personalidade é claramente a composição, escrita pela cantora ao lado de Mark Ronson e Andrew Wyatt, que encaixa perfeitamente todos os boxes desse tipo de canção sem adicionar nada interessante.
Se fosse em outros anos, eu até poderia afirmar que Miley estava no caminho certo para uma indicação ao Oscar, mas em um ano tão concorrido ela deve ficar mais na categoria de azarão do que na de concorrente de verdade.
nota: 7,5
9 de novembro de 2025
A Consagração do Simples
Man I Need
Olivia Dean
Olivia Dean
É revigorante ver o sucesso comercial de Man I Need, pois é a consagração de que o simples ainda tem espaço no mainstream da música.
Não tomo “simples” como algo ruim, mas, nesse caso, simples é aquilo despido de pretensão, artifícios ou exageros. E é exatamente isso que a canção entrega: um pop soul singelo, honesto, cativante e doce, que conquista pela sua atmosfera iluminada e, claro, pela presença magnética de Olivia. Man I Need possivelmente não seria tão boa sem a performance segura, confortável e deliciosa da cantora, pois é ela quem dá a personalidade final à canção. Além disso, o refrão é tão gratificantemente direto e grudento que contribui — e muito — para a graciosidade do conjunto. Um sucesso raro, mas que merece ser louvado.
nota: 8
E Lá Vamos Nós...
bandaids
Katy Perry
Katy Perry
Depois de “sobreviver” ao que deve ter sido o massacre mais justificável do pop em décadas, Katy Perry pode estar iniciando uma nova fase com o lançamento da sólida bandaids.
Muito superior ao que a cantora entregou nos últimos tempos — o que, convenhamos, não seria exatamente difícil — o trabalho ainda está longe do pop que ela já mostrou ser capaz de fazer. Todavia, a canção é um pop/pop rock redondinho, bem estruturado e com alguns pontos realmente interessantes. O melhor deles é a boa e sentimental composição, que reflete claramente sobre o fim do casamento da cantora com o ator Orlando Bloom, mostrando que, com um pouco de verdade e criatividade, Katy ainda tem algo real para apresentar. O maior problema aqui é que o refrão não tem força suficiente, fazendo parecer mais um verso do que o ponto central de uma canção pop. Vocalmente, bandaids é o melhor trabalho da cantora em tempos, especialmente pelo toque emocional que ela imprime à interpretação. Ainda é um trabalho morno, mas é melhor do que uma bomba atômica musical.
nota: 6,5
2 de novembro de 2025
A Imensidade
Berghain
ROSALÍA, Björk & Yves Tumor
ROSALÍA, Björk & Yves Tumor
Já faz algum tempo que não havia dúvida do imenso talento da Rosalía, mas, sinceramente, nada poderia alertar para ouvir a magistral Berghain.
Primeiro single do álbum LUX, a canção é uma desconcertante, impressionante e magnífica experiência sonora em que a cantora resolve ir com toda força, sem olhar para trás, ao entregar a canção mais “de cair o queixo” da sua carreira e, sem nenhuma dúvida, dos últimos anos.
Deixando de lado algumas influências dos seus trabalhos anteriores, mas continuando a explorar os limites da sua sonoridade, Berghain é um trabalho inesquecível que mistura, de maneira genial, art pop, música clássica, avant-garde, orquestral, operático e barroco para criar uma verdadeira pièce de résistance na carreira da cantora. Mostra não apenas a sua capacidade, mas também a clara noção de que o “pop” pode ser muito mais amplo e profundo do que algumas cantoras fazem.
Pode ser experimental, cativante, estranho, nada comercial, revolucionário, grandioso, contemplativo e único — e isso em uma canção de dois minutos e cinquenta e oito segundos. Quando a ouvi pela primeira vez, achei que essa duração curta, especialmente diante da imensidão criativa colocada na canção, seria um grande problema, fazendo-a perder alguma força. De certa forma, isso acontece, pois, se Berghain fosse um minuto ou um minuto e meio maior, poderia explorar ainda melhor seus melhores pontos sem deixar nada a desejar. Todavia, os “pontos” que isso faz a canção perder não são suficientes para que ela deixe de ser considerada uma genialidade magistral.
Com um instrumental irretocável, que dá a base perfeita para toda a força da produção, o maior trunfo da canção é a presença da Rosalía em todos os “cantos”: começando com a sua atuação como produtora, passando por sua marca de compositora e chegando, claro, à sua magistral performance vocal. Sério — sabíamos que a formação clássica dava à cantora um imenso passo de vantagem em comparação com outros artistas, mas aqui tudo é elevado a um novo patamar, com sua dilacerante performance ao misturar a força do canto operístico com sua vertente mais pop.
Todavia, o que dá a liga aqui é a magistral passagem da presença descomunal da Björk, que entrega apenas um verso repetido, mas adiciona uma tonelada de personalidade e significância à canção. Queria algo mais profundo na presença de Yves Tumor, mas seu surgimento final ajuda a manter o toque de imprevisibilidade da faixa intacto.
Por fim, a composição é um triunfo que consegue transitar por três línguas (espanhol, inglês e alemão) sem perder força, mantendo essa deliciosa estranheza temática e de significação sem comprometer a impecável estética. E o mais fascinante é que, possivelmente, o álbum nem seguirá exatamente esse mesmo caminho, o que mostra ainda mais a genialidade da Rosalía.
nota: 9
Hard
CRANK
Slayyyter
Slayyyter
Ninguém vem entregando uma sequência mais “foda” de singles melhor do que a Slayyyter. Dessa vez, a escolhida foi CRANK.
Antes de elogiar, é melhor colocar de lado o aspecto mais negativo: o clímax final do single poderia ser mais explosivo, fazendo a construção sonora do resto da canção encontrar o escape final perfeito. Apesar disso, CRANK é uma sofisticada, borbulhante, barulhenta e potente faixa de industrial pop/electrocash/eletro hip hop que adiciona uma nova camada à construção sonora atual da cantora, mas sem perder o rumo artístico que a mesma vem seguindo. Divertida ao extremo, a composição é um trabalho tão especial e inteligente que a gente deixa de lado até mesmo algumas falhas aqui e ali, especialmente o refrão, que não é tão icônico. E Slayyyter entrega novamente uma performance extraordinária, com uma dose cavalar de personalidade. Assim é o que a gente chama de "servir horrores".
nota: 8
O Embrião de Uma Música
PIXELATED KISSES
JojiTinha esquecido completamente da existência do Joji, dono da sensacional Glimpse of Us de 2022, mas fui lembrado ao ver que ele havia lançado uma nova canção intitulada PIXELATED KISSES.
O novo single é o tipo de canção que tinha tudo para ser genial, mas termina sendo apenas uma promessa. E uma canção que é apenas promessa fica literalmente no meio do caminho. Isso se deve às escolhas feitas para a faixa ao ter apenas um minuto e cinquenta segundos e, principalmente, por apresentar somente a repetição do refrão e do pós-refrão, fazendo-a cair em um lugar criativamente raso.
E olha que o teor lírico em si não é nada ruim, mas a sua construção não reflete em nada a produção inspirada e ousada. PIXELATED KISSES é uma canção forte, estilizada, cativante e pesada, uma mistura de R&B alternativo com toques de industrial, wave e rage, criando uma batida realmente poderosa e impressionante. Além disso, a performance contida de Joji, que contrasta com a produção, adiciona mais substância ao resultado final.
Todavia, por mais inspirada que seja, a canção carece de execução, atrapalhando fortemente o resultado final que poderia facilmente ser genial. Uma pena de verdade que a faixa seja apenas o embrião de uma grande canção.
nota: 7
19 de outubro de 2025
12 de outubro de 2025
The Fate of Taylor
The Fate of Ophelia
Taylor Swift
Taylor Swift
Uma das melhores canções do álbum, The Fate of Ophelia é o exemplo básico da “alma” da atual era da Taylor: mediana, sem graça e decepcionante.
A tentativa de soar mais inteligente ao se comparar com a Ofélia de Shakespeare é tão piegas que até consegue gerar um sorriso sincero depois de ouvirmos o resultado tão massificado da canção, pois é uma dicotomia bem grande entre o pretendido e o alcançado. Uma letra mediana que só encontra algum ponto de brilho no formulaico e grudento refrão, The Fate of Ophelia poderia ser bem, mas bem melhor se não fosse mergulhada em tanta pretensiosidade. Além disso, a produção mediana entrega uma canção “chapa-branca” feita para ser comercial, mas sem uma alma verdadeira, que mistura de maneira capenga pop com toques de nu-disco e synth-funk, não dando nenhuma personalidade verdadeira para a canção. É uma canção com pompa e circunstância, mas completamente vazia.
nota: 5,5
New Face Apresenta: Alemeda
Beat A B!tch Up
Alemeda & Doechii
Quando vi que a Doechii tinha participado da canção Beat A B!tch Up, da novata Alemeda, pensei que sabia exatamente o que iria encontrar. E, para a minha total surpresa, não foi nada do que imaginei — e isso é muito bom, especialmente para a verdadeira “dona” da canção.
Uma sólida, potente e surpreendente faixa pop rock, a música mostra que Alemeda é um sopro de ar fresco ao seguir um caminho parecido com o da Willow, com toques de PinkPantheress. Isso é auspicioso, pois, apesar de ainda haver essas comparações, a cantora demonstra claro potencial não só para encontrar sua verdadeira voz como também para conquistar seu próprio nicho com o público.
O mais interessante de Beat A B!tch Up é sua ótima instrumentalização, que se mostra robusta e muito bem construída. Uma pena que a composição não tenha a mesma força, deixando uma certa lacuna de criatividade na canção. Felizmente, a excelente performance de Alemeda — que demonstra ter um grande e poderoso alcance vocal — amarra as pontas soltas, e a carismática e versátil participação de Doechii adiciona personalidade à faixa, mesmo não sendo explorada nem perto do seu máximo potencial. Assim, Alemeda mostra ter uma carreira promissora pela frente. A conferir.
nota: 7,5
Um Encontro Modesto
viscus
Oklou & FKA twigs
Oklou & FKA twigs
Dona de um dos álbuns de estreia mais interessantes do ano, a cantora Oklou vai lançar a versão deluxe de Choke Enough. Como primeiro single, foi lançada a parceria com FKA twigs em viscus.
Casando bem com o estilo das duas artistas, a canção é um refinado, contido e melódico downtempo/alt-pop, com uma construção instrumental inspirada que vai grudando na nossa cabeça quanto mais a escutamos. O problema da canção, porém, é não tornar esse encontro algo ainda mais profundo, pois a presença de FKA twigs é ótima, mas limitada, deixando o resultado final com aquela sensação clara de que poderia ter alcançado um nível maior. Isso fica evidente já que a química entre Oklou e FKA twigs é o ponto alto do trabalho. É uma faixa que, mesmo modesta, ainda merece ser descoberta.
nota: 7,5
Um Encontro Bem, Bem Modesto
EYES CLOSED
JISOO & ZAYN
JISOO & ZAYN
A capacidade de errar na produção de uma balada pop em forma de dueto é algo que precisa ser estudada. E isso fica ainda pior quando havia potencial para uma boa música, como é o caso de Eyes Closed, da Jisoo com o Zayn.
Trata-se de uma balada pop mid-tempo tão genérica que poderia ser distribuída pela Farmácia Popular. E nem assim a produção consegue oferecer uma instrumentalização realmente acima da média, pois o resultado aqui é completamente mediano do começo ao fim. Não que eu esperasse algo sensacional, mas, no mínimo, o resultado de Eyes Closed poderia ser menos preguiçoso.
O pior, porém, é a produção vocal, que faz dois bons vocalistas soarem sem graça, mesmo entregando performances sólidas. E o caso mais grave fica com o Zayn, que parece completamente perdido, sendo encoberto por uma produção esquisita que esconde sua voz em certos momentos. Uma pena, pois poderia ser aquele tipo de canção surpreendentemente boa.
nota: 5,5
5 de outubro de 2025
O Céu de Zara
Midnight Sun
Zara Larsson
Zara Larsson
A nova era de Zara Larsson veio para provar como o material certo é essencial para revelar o verdadeiro talento de um artista. E um dos ápices dessa fase é a elétrica Midnight Sun.
Faixa que dá nome ao álbum, a canção é, sem dúvidas, o melhor single da carreira da cantora — especialmente graças à sua produção inteligente e madura, que confere uma personalidade autêntica ao eletropop misturado com Jersey club e drum and bass. Não é, de forma alguma, uma revolução para o gênero, mas representa uma revolução pessoal na trajetória de Zara.
Isso se deve à visão única e coesa da produção, que constrói camadas sonoras ricas e impede que Midnight Sun soe clichê ou previsível. Além disso, com uma base tão sólida, Zara entrega uma performance dinâmica, carismática e cheia de personalidade — reforçando a ideia de que, finalmente, ela tem em mãos o material que sempre mereceu. Que essa seja, daqui em diante, sua nova constância.
nota: 7,5
2 Por 1 - Magdalena Bay
Second Sleep / Star Eyes
Magdalena Bay
Magdalena Bay
Lançar um single duplo não é novidade para ninguém, mas é muito raro a gente ouvir um single duplo que realmente faça sentido ter sido lançado em dupla. Esse caso raro acontece com o duo Magdalena Bay, com o lançamento de Second Sleep e Star Eyes.
O motivo principal para os dois singles fazerem sentido juntos é que a construção sonora das canções termina soando como uma única faixa dividida em duas, devido à clara ligação sonora entre elas. Não é uma conexão explícita e há espaço para essa conclusão ser negada, mas, para mim, as duas canções conversam diretamente entre si. E isso aumenta ainda mais a qualidade criativa das produções, mostrando uma continuação da evolução do duo.
Entre as duas, Second Sleep é a música mais interessante, devido à sua construção intricada e, por vezes, surpreendente, que vai costurando um instrumental corpulento, estiloso e majestoso em uma inspirada mistura de pop progressivo com art pop/rock e psicodelia. Apesar de menos inspirada, Star Eyes mantém o nível alto ao continuar a demonstrar a imensa qualidade instrumental da banda, entregando uma canção menos efusiva, beirando a contemplação delicada. E, mesmo com essas diferenças, fica bem claro que ambas saíram do mesmo pedaço de tecido sonoro, especialmente devido à condução impecável e brilhante da vocalista Mica Tenenbaum. Por mais singles duplos que possam mostrar a sua razão de existir.
notas
Second Sleep: 8,5
Star Eyes: 8
O Pior Hit de 2026
Ordinary
Alex Warren
Alex Warren
É uma conquista nada honrosa poder ser dono de um dos maiores hits comerciais do ano ao mesmo tempo em que é uma das piores músicas do ano. Todavia, esse é o caso de Ordinary, do Alex Warren.
A canção não é exatamente a pior de todos os tempos, mas, sinceramente, entra facilmente no top 10 entre as piores que atingiram o primeiro lugar da Billboard. E o grande problema da canção é — sem trocadilho — a sensação gigantesca de ordinariedade de tudo o que está envolvido na construção de Ordinary. Sonoramente, a canção é uma esquecível e precária balada pop rock/chamber pop que parece ter sido feita com ajuda de inteligência artificial, pois soa como uma combinação ainda mais medíocre de Ed Sheeran com Teddy Swims e toques de Lewis Capaldi. E isso já diz muito sobre a sonoridade da canção.
Tenho que apontar que, ao adicionar toques de gospel aqui e ali, tenta-se dar uma personalidade à canção, o que é rapidamente atrapalhado pela péssima composição — uma reunião sem graça e sem criatividade de clichês românticos sob o ponto de vista masculino. Sem nenhuma personalidade vocal, Alex, que ganhou fama como youtuber/influencer, entrega uma das performances mais sem graça e piegas que ouvi neste ano. A canção é exatamente uma das provas de que sucesso não é sinônimo de qualidade.
nota: 4,5
28 de setembro de 2025
Uma Dose de Dor de Coração
Vodka Cranberry
Conan Gray
Conan Gray
Uma das melhores faixas de Wishbone, Vodka Cranberry se consolida como uma das grandes baladas do ano, evidenciando de forma clara todo o potencial vocal de Conan Gray.
Assim como o restante do álbum, a canção é um indie pop/pop rock maduro, estilizado e muito bem produzido, que reflete influências dos anos 1990 e 2000. O resultado é uma sonoridade ao mesmo tempo familiar e nostálgica, sem jamais soar datada — mérito da produção refinada de Dan Nigro.
O verdadeiro destaque, no entanto, está na performance de Conan: ele conduz a faixa desde um início delicado e contemplativo até um final grandioso, no qual seu imenso alcance vocal se revela por completo. O ápice de Vodka Cranberry é justamente essa construção climática, erguida “tijolo por tijolo”, até se transformar em uma perfeita tempestade emocional. A composição também merece elogios, pois explora de maneira inspirada a dor de um coração partido, refletindo com maturidade os dilemas da vida adulta do artista. No fim, a faixa se consagra como um dos melhores momentos da crescente carreira de Conan Gray.
nota: 8
Uma das Melhores
One of the Greats
Florence + The Machine
Florence + The Machine
Obviamente, eu já espero nada menos que excelência vindo do Florence + The Machine, mas, sinceramente, fazia algum tempo que uma canção da banda não tinha o mesmo impacto fulminante como a genial One of the Greats.
Segundo single de Everybody Scream, a canção entra diretamente no hall das melhores da discografia da banda e, também, no topo entre as melhores do ano. E acho que isso não é de surpreender, mas a canção supera devido à sua imensa e descomunal força emocional, em que tem possivelmente a composição mais crua, honesta e devastadora que escutei em anos.
One of the Greats é uma crônica genial sobre a percepção da nossa mortalidade (influenciada diretamente por uma experiência de quase morte da Florence em 2023) ao mesmo tempo que é uma visão aguçadíssima e destemida sobre o lugar da mulher na indústria da música. Assuntos profundos e espinhosos como esses não são territórios desconhecidos para a banda, mas aqui é algo que, sinceramente, encontra a perfeição lírica devido a como a Florence, ao lado de Mark Bowen, consegue fundir os assuntos tratados com uma fluidez impecável, criando uma narrativa robusta sem nunca soar pretensiosa, que vai se desenrolando em um soco no estômago atrás de outro.
E o grande ápice de uma composição já de qualidade altíssima é quando surge o melhor verso de 2026: “It must be nice to be a man and make boring music just because you can”. Eu dei uma lufada de ar misturada com uma risada sincera ao ouvir o verso. Sonoramente, One of the Greats é uma classuda, poderosa e marcante mistura de indie rock, art rock e gothic rock, com uma inspirada instrumentalização que carrega toda a força da composição sem dar espaço para vazios e, também, sem se sobressair a ponto de tirar o foco principal da canção. Florence entrega uma performance sensacional, como sempre, transmitindo toda a emoção crua da sua composição sem exageros e sem fugir também da melancolia e da acidez.
One of the Greats já vem com o nome perfeito, que indica o seu lugar no panteão da discografia do Florence + The Machine.
nota: 9
Única
Cheap Hotel
FKA twigs
FKA twigs
A carreira da FKA twigs é, possivelmente, uma das mais imprevisíveis da música atual, já que a cantora sempre consegue surpreender a cada novo lançamento. E esse é o caso de Cheap Hotel.
Primeiro single de Eusexua Afterglow, continuação de Eusexua, a canção retoma a faceta mais experimental da artista em sua exploração do eletrônico. No entanto, é preciso admitir que algo não conecta tão bem aqui quanto se poderia esperar. A principal razão para isso está na quebra sonora causada pela repetida inserção de um verso com a voz distorcida da cantora, que não flui de maneira natural quando surge no meio da faixa. No início e no final, a escolha funciona bem, mas no trecho central acaba deixando a canção um pouco truncada.
Felizmente, Cheap Hotel ainda carrega a marca de qualidade de twigs, resultando em uma mistura suntuosa, contida e envolvente de trip hop com art pop e, principalmente, ambient. Essa combinação não só dialoga diretamente com a sonoridade do álbum anterior, como também adiciona novas camadas ao que está por vir. Mesmo com um leve tropeço, FKA twigs continua sabendo como aguçar o paladar musical de forma única.
nota: 8
Assinar:
Comentários (Atom)








.png)







































