FKA twigs
Poucos nomes da atualidade tem uma áurea artística como a da FKA twigs. Apesar de nunca ter tido um sucesso comercial propriamente dito, a cantora vem acumulando uma fanbase considerável ao longo dos anos e aclamação máxima dos críticos especializados. Depois de um hiato de três anos, a cantora volta para continuar a solidificar a sua imagem com o lançamento do ótimo EUSEXUA.
Antes de começar a chuva de elogios é necessário apontar que, mesmo sendo um trabalho sensacional, o terceiro álbum da sua carreira está um pouco abaixo do seu antecessor Magdalene de 2019. Todavia, o trabalho ainda não apenas mante a qualidade altíssima como também se torna um dos álbuns mais comerciais da sua carreira. E quando digo comercial quero dizer comercial ao estilo da FKA twigs. Por isso, não espere nem de perto nada que seja massificado ou batido, pois EUSEXUA é ainda uma continuidade da exploração sonora da cantora que a fez se destacar desde o começo. De maneira geral, o álbum é a trabalho mais mergulhado no eletrônico da cantora, pois claramente o gênero e vários dos seus subgêneros são injetados com força e maestria na base da sonoridade da cantora que mistura habilmente art pop, R&B alternativo, avant-pop e experimental. É bastante interessante notar que apesar de mudar relativamente o foco da sua sonoridade ainda é possível nitidamente notar que o resultado final do trabalho é uma obra com a marca indelével da artista devido a forma inspirada, intrigada e magistral que tudo é construído, adicionando camadas da personalidade única da artista. E é por isso que apesar do álbum ter sido construído em um solo já cultivado, pois é possível ver bem claro a influencia de outros grandes trabalhos no mesmo caminho vindo de nomes como Madonna e Björk, o resultado final é totalmente e belissimamente vindo da mente genial da FKA twigs.
Essa exaltação da presença da artista na produção é algo que precisa ser aclamado já que é claramente vindo da sua visão distinta, pois a EUSEXUA é composto de vários coprodutores como Koreless, Stargate, Stuart Price, entre outros, mas é fácil ver que o fio condutor é vindo de uma mesma direção. Devido a isso, o álbum ganha força devido a uma grande coesão sonora perfeitamente agrupada em uma sucessão impressionante de faixas. E essa sensação de brilhantismo aumenta quando a gente nota que as faixas por si são trabalho com essências bem diferente uma das outras, explorando facetas diferentes dentro da paleta de sonoridades escolhidas para o álbum. Essa linha criativa dá para perceber bem claramente nos singles lançados do álbum: começa com a faixa que dá nome ao trabalho EUSEXUA “a produção entrega uma elegante, complexa, intricada e efervescente mistura de art pop, trance, techno e experimental em que é possível sentir toda a força da cantora, mas também é possível ver a sua busca por novos caminhos”, passa por Perfect Stranger ao ser “uma competente e envolvente batida que mistura 2 step, drum bass, dance-pop e eurodance de maneira refinada, cativante e surpreendentemente digerível para todos os públicos. Acredito que a canção seja uma das mais comerciais que a cantora já lançou, ecoando o trabalho na mixtape Caprisongs. E isso poderia fazer Perfect Stranger não combinar com a áurea da cantora, mas, felizmente, a produção manter perfeitamente a personalidade única da cantora” e termina em Drums of Death que é “a canção mais alternativa devido a sua produção do DJ Koreless que entrega uma mistura pesada e bem construída de house, club, glitch pop, EDM e art pop que cria uma batida nada comercial, mas bastante marcante e em total sincronia com o que vem sendo mostrado. As mudanças sonoras entre os versos e o refrão e a progressão rítmica de Drums of Death conseguem dar uma personalidade única para a canção, mesmo não entregando nada que seja novidade”. E mesmo sendo diferentes em execução, as três faixas, assim como o resto do álbum, tem uma ancora poderosa e genial: FKA twigs. E não é apenas na visão sonora que a artista se destaca, mas, também, na sua presença física.
Mesmo já tendo toda a ciência do poder vocal inigualável e único da cantora, mas é EUSEXUA que a cantora entrega a coleção mais ampla e versátil de performances da sua carreira. A capacidade da cantora de mutar a sua presença para caber em qualquer tipo de estilo é algo impressionante, especialmente devido o fato que a mesma nunca perder a qualidade intrínseca do seu timbre, sabendo perfeitamente usar efeitos vocais para melhorar a maneira de interpretar cada canção e também sabendo o momento de tirar tudo isso e entregar algo cru e natural. E é dessa última qualidade que está o grande momento vocal do álbum logo no seu final na tocante balada indie pop/art pop Wanderlust em que a cantora entrega um momento sublime e emocional ao se despir vocalmente. E especial é preciso destacar a força como a sua voz carregar o refrão que chega a dar arrepios físicos e emocionais. Outro grande momento vocal é na ácida, sensual e ousada Striptease em que a cantora vai adicionando camadas a cada novo verso e mudança rítmica do instrumental. Entretanto, o maior momento do álbum fica por conta de Girl Feels Good: uma electro-pop/trip hop com tema feminista que bebe na fonte direta do Ray do Light da Madonna. Na verdade, a canção parece um trabalho que facilmente a Rainha do Pop teria feito nessa era, criando um ruido de ter acreditado que a canção deveria ter usado algum sample. E apesar dessa semelhança, a comparação é algo que deve ser levado em altíssima conta. Preciso, porém, apontar que EUSEXUA poderia ter sido ainda melhor se tivesse composições que realmente transcendessem emocionalmente como, por exemplo, nas geniais Mary Magdalene e Cellophane. Isso não quer dizer que o álbum não tem letras ótimas com socos emocionais poderosos que são emoldurados em construções líricas perspicazes e eficiente, mas, sim, que passa longe de um lugar de total plenitude que poderia ser o caso. De qualquer forma, outros grandes momentos do álbum ficam por conta da versão irresistível do que seria uma farofada para a cantora na sensacional Room of Fools que finaliza de maneira genial com uma quebra de expectativa devido a adição de uma passagem de sonoridade oriental e que continua a influenciar a contida e meticulosa Keep It, Hold It que termina mudando o foco de maneira descomunal. EUSEXUA é um trabalho incrível que pode não ser a carta magna definitiva da FKA twigs, mas que continua a mostrar uma jornada incomparável e brilhante.
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