Drake
Drake é o maior rapper da atualidade. Isso é fato comprovado pelos números astronômicos de vendas de álbuns e singles. Além da sua influência sobre a mídia em vários segmentos e, também, em outros artistas. Entretanto, Drake não é o melhor, cargo que fica para o Kendrick Lamar. O que falta, então, para o rapper canadense ocupar esses dois postos? Acredito que a resposta esteja no seu mais novo álbum, o bom Views.
Atenha-se ao fato que classifico o álbum apenas como bom. Drake tem todos os instrumentos nas mãos para ser o rapper que ele pretende ser: ótimos produtores, sonoridade distinta, domínio da técnica vocal e grande capacidade de composição. Tudo muito certo, tudo muito bonito. Entretanto, ainda falta um componente que faz toda a diferença: urgência. Ao contrário dos álbuns de Lamar parecem "gritarem" em busca de serem ouvidos, Drake carece dessa força motriz por trás da sua música. Claro, a própria temática politico-social de Lama já é motivo para isso, mas é uma questão mais ligada com a sonoridade do que outro aspecto.
Views não é exatamente um álbum de hip hop, mas uma refinada mistura do gênero com o R&B. Na verdade, muitas faixas são R&B puro com a inclusão do rap de Drake. Apesar de ter vários nomes de importância no meio do hip hop como produtores, o álbum tem a direção dada pelo parceiro de longa dada do rapper, o produtor Noah "40" Shebib. Responsável por produzir os primeiros sucessos de Drake, Noah encontrou um caminho próprio para a sonoridade do rapper com batidas limpas, minimalistas e a fusão de hip hop com R&B, sendo a marca principal. Esse nicho já rendeu ótimas faixas como, por exemplo, Hold On, We're Going Home e Tuscan Leather. Acontece que, infelizmente, a dupla parou de evoluir e as canções parecem ter perdido o brilho. Bem produzidas, sem dúvida nenhuma. Porém, a viagem por Views parece um grande looping de ideias recicladas e reproduzidas várias vezes. Quando o álbum ameaça decolar de vez com a boa Weston Road Flows com uma batida encorpada devido ao sample da canção Mary's Joint da Mary J. Blige, a decisão de não dar espaço para a batida ficar em segundo plano impede a canção de brilhar de verdade. Quando a produção arrisca sair da zona de conforto, Drake entrega a deliciosa e dançante One Dance. Com esses problemas, Views tem as suas qualidades.
Drake pode não ser o melhor rapper do mundo, mas, felizmente, domina o seu oficio de maneira exemplar. Ao contrário do poderia esperar, o rapper entrega um número maior de performances "tradicionais" em relação ao que pode ser classificado como "cantar" que já se transformou em uma marca sua nos últimos tempos. Apesar de não serem performances marcantes, o imenso carisma que transparece no timbre de voz de Drake ajudam a dar sua personalidade. Liricamente, Drake toca em assuntos com temáticas pessoas e de fácil assimilação de uma parte maior do público. Interessante perceber um artista de um gênero que tem fama de machista e de "ostentação" possa falar sobre seus sentimentos de maneira aberta, apesar de que aqui e acolá Drake ainda caia nesses tópicos. Sempre muito bem construídas, as composições não chegam a ser momentos de puro genialidade. Falta aquele ingrediente que já foi citado: urgência. Falta aquela sensação de que todos os versos que saem da boca do rapper precisam encontrar os ouvidos e, por consequência, as mentes e corações do público. Isso seria o ponto decisivo na consagração de Drake. Outros momentos bons de Views, além dos já citados, são: Keep the Family Close, With You, Too Good (nova parceria com a Rihanna), Fire & Desire e a que dá nome ao álbum, Views. O momento na carreira de Drake não poderia ser melhor: conseguiu o seu primeiro número na Billboard solo, o álbum vendeu mais de um milhão de cópias na primeira semana e a sua popularidade está mais alta do que nunca. Imagina o que pode acontecer quando o trabalho for realmente uma obra magnífica?
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