Recentemente uma guerra aconteceu que sacudiu a Europa e teve suas consequências expandidas para outros lugares do mundo: Eurovision. Famoso e tradicional concurso musical em que vários países europeus e alguns fora do continente disputam para escolher qual é a melhor canção entre as selecionadas de cada país, o concurso que existe desde 1956 normalmente sempre foi algo muito restringido a Europa. Entretanto, devido a globalização e, na minha opinião, o sucesso global do Måneskin que foram os vencedores pela Itália em 2021, o Eurovision vem ganhando contornos mais importante e dramáticos nos últimos anos e esse ano alcançou o ápice de destaque midiático dessa nova era. E é por isso que resolvi criar esse especial para analisar algumas canções que foram destaque do Eurovision 2023.
Évidemment
La ZarraCha Cha Cha
Käärijä
Unicorn
Noa Kirel
My Sister's Crown
VesnaDue Vite
Marco Mengoni
A grande polêmica desse ano foi a vitória da cantora Loreen com a canção Tattoo que fez a sueca se tornar segunda pessoa a vencer duas vezes o Eurovision (o primeiro foi o cantor Johnny Logan da Irlanda em 1980 e 1987) e a primeira mulher a alcançar o feito, sendo a sua primeira vitória em 2012 com Euphoria. Além de acusações de plágio que fizeram para a canção e o fato da mesma ser o mesmo estilo da canção anterior, a vitória da cantora desbancou a favorita do público na canção Cha Cha Cha do finlandês Käärijä. Isso aconteceu devido ao fato do Eurovision ter votos do publico e de um corpo de jurado que tem representa de cada um do pais que concorre. Käärijä venceu com fogo o voto popular enquanto Loreen o ultrapassou com a decisão da maioria dos jurados, resultado em uma pontuação de 583 contra 526. E isso gerou um protesto de parte do público, pois a base do concurso seria encontrar a música que “representa” o povo europeu. Na minha opinião, o resultado foi justo, pois Tattoo é bem melhor que Cha Cha Cha, especialmente quando escutada ao vivo. Todavia, a canção do finlandês é mais interessante que o esperado.
Cha Cha Cha é uma canção que consegue ser totalmente anti-Eurovision e, ao mesmo tempo, ter o sabor cafona e brega que muitas canções vencedoras apresentam. Um hyperpop que começa como uma industrial/hard rock e muda drasticamente no meio para o fim que se torna uma experiência frenética, intrigante e que beira o irritante. E isso é vindo primordialmente da estranha, balls to the wall, excêntrica e exagerada performance de Käärijä que combina perfeitamente com a canção devido a seu carisma que mistura campy, brega e surrealista. É tão inacreditável que funciona devido a esse choque de estranhezas tão conflitantes que é ainda aumento com a letra que sobre simplesmente sair para se divertir para tentar se livrar de tensão do dia a dia.
Apesar de ter ficado apenas na 16° posição, a representante francesa Évidemment da cantora La Zarra é o tipo de canção tão grandiosa e exagera que conquista exatamente por isso. Misturando disco com chanson, gênero de origem medieval que ganhou uma versão “pop”, a canção é colorida, espalhafatosa, divertida, brega, envolvente e apoteótica que não tem vergonha de ter essas qualidades. Por isso, Évidemment é tão atrativa e funciona lindamente devido a ter pretensão de ser mais algo que não é. Além disso, a performance de La Zarra é tão magnética com todos os seus trejeitos e uma segurança ímpar de seguras todas as mudanças da canção que a transforma em um verdadeiro tesouro. Quem não tem essas qualidades é a canção que terminou em terceiro.
Representante de Israel, Unicorn da cantora Noa Kirel até tenta ser original, mas falha ao ser apenas uma decente e batida dance-pop/electropop que parece ter sido feito por qualquer cantora mediana de pop lançada nos últimos dez anos. E o grande problema é que Noa como cantora tem talento realmente para segura uma canção bem melhor. Na verdade, boa parte da qualidade de Unicorn é devido a sua presença e algumas boa ideias que são dispensáveis ou/e que não usadas de maneira corretas. E o melhor exemplo é que meio que do nada a parte final de Unicorn se torna uma batida que claramente quer emoldurar a estrutura do atual cenário k-pop, parecendo uma canção do Blackpink. Se a canção tivesse caminhado por essa trilha durante toda sua execução poderia ter terminado não melhor, mas, sim, mais interessante. Por falar em interessante, a representante da República Checa se enquadra perfeitamente.
My Sister's Crown foi escrita e performada pela banda formada apenas por mulheres Vesna. Uma mistura sensacional de pop, pop rock, folk, hip hop e música tradicional checa, My Sister's Crown consegue unir todos esses estilos e gêneros de maneira tão fluida, excitante e envolvente que, provavelmente, em outros anos poderia facilmente ter vencido a competição. Mais do que siso, a canção é um acerto inesperado que mostra que é possível criar uma música com uma forte representação regional e, ao mesmo tempo, ter apenas comercial abrangente para outros mercados. A composição é cantada em inglês, búlgaro, ucraniano e checo e é um hino sobre empoderamento feminino que tem toques clichês em especial na parte em inglês, mas é realmente é um trabalho inspirador. Falando em clichê, mas que funciona está o caso do representante da Itália.
Tirando a vitoriosa, Due Vite do cantor Marco Mengoni seria a canção que melhor teria chances de vencer o Eurovision em uma analise antes do concurso. Além do fato que, assim o Måneskin, Marco participou da versão italiana do The X Factor (venceu em 2009), a canção balada power pop tradicional defendida com louvor por uma interpretação segura e tocante que consegue conquistar de maneira verdadeira quem escuta. A canção tem aquela atmosfera de uma canção de Eros Ramazzotti ou Tiziano Ferro que fizeram sucesso aqui no Brasil entre os anos noventa e começo dos dois mil, especialmente como temas de novela. Brega? Sim, mas funciona tão bem que ficaria fácil de acreditar que a canção venceria o Eurovision com facilidade em outros anos. Existem outras canções que poderia resenhar, mas acho que as escolhidas aqui facilmente explicam o que o foi o concurso em 2023. E, sinceramente, queria que algum momento o Brasil pudesse concorrer como convidado para o público nacional ser exposto o Eurovision de vez. Quem sabe no futuro?
Nenhum comentário:
Postar um comentário