ARTPOP
Lady GaGa
São um pouco mais de dois anos e meio que separa o lançamento de Born This Way para ARTPOP. Não é exatamente muito tempo, mas o espaço que GaGa deixou com sua "ausência" foi enorme seja para quem ama ou para quem odeia. A espera apenas aumentou quando ela anunciou que estava trabalhando seu novo trabalho que, mais tarde, foi intitulado ARTPOP. Meses de especulações, boatos, informações desencontradas, muita fofoca e várias polêmicas, GaGa começou o trabalho de divulgação intenso usando todas as ferramentas que ela poderia usar desde apresentações ao vivo, entrevistas, redes sociais e o lançamento do primeiro single Applause. Tudo perfeitamente planejado e executado com maestria. Depois de tanto trabalho é chegada a tão aguardada hora de saber se ARTPOP valeu a pena tanta espera e tanto barulho em torno? A resposta é simples e direta: sim, ARTPOP valeu a espera e o barulho. Contudo, não é pelos motivos que vocês podem imaginar.
ARTPOP é um CD imperfeitamente divertido. O grande trunfo aqui está no momento em que GaGa decidiu tomar um caminho bem diferente dos seus antecessores ficando longe da pretensiosa épica/esquizofrênica sonoridade de Born This Way, mas sendo mais elaborado e personalizado do que o pop chiclete de The Fame e menos audacioso e inovador do que The Fame Monster. Com isso ARTPOP ganha uma cara própria mostrando a versatilidade de GaGa ao conseguir se renovar sem comprometer seu DNA. As diferenças começam quando ela resolveu dar muito mais espaço para DJ White Shadow (que já tinha trabalhado com ela em BTW) e começar a trabalhar com nomes até estão inéditos na sua discografia como o produtor/DJ Zedd, Madeon, David Guetta, will. i. am e o Rick Rubin. Além disso, GaGa continua no papel de coprodutora em todas as faixas. Dessa mistura sai uma sonoridade essencialmente pop dance flertando com inúmeros subgêneros que vão do pop chiclete passado pelo house chegando ao rock pop e o tecnopop. Além de outros estilos como o R&B e o hip hop. Tudo é muito bem produzido e mesmo sem ter arrombos de criatividade o resultado final é muito acima da média. Contudo, ARTPOP só engrena de verdade depois da sétima música (Do What U Want). Antes dela, o álbum atira para todos os lados quase como uma metralhadora descontrolada sem um alvo certo. Não digo que as canções aqui são ruins, mas elas parecem jogadas à esmo sem nenhuma preocupação com alguma linha lógica de raciocínio em relação a sua sonoridade já a segunda parte de ARTPOP tudo é bem mais fluído. O momento que melhor descreve o que cito é a faixa Manicure: não bastasse ser a faixa menos inspirada do álbum, já que poderia ter rendido muito mais, ela está enfiada entre um faixa com estilo hip hop e outra com estilo R&B sendo que ela é uma espécie de rock/pop dance. Outro problema aqui é que a faixa Aura que abre o CD é boa, mas poderia ser melhor aproveitada como uma "intro" e não uma faixa inteira. Enquanto isso, Jewels n' Drugs com os rappers T.I., Too Short e Twista é um divertido experimento de GaGa de brincar como hip hop colocando sua personalidade, Venus é uma grande bobeira deliciosa e G.U.Y e Sexxx Dreams são ótimas faixas pop que continua com o principal assunto do álbum nessa primeira parte: sexo. No quesito composição, GaGa entrega seu trabalho mais redondinho e coeso. Sua capacidade de criar letras perfeitas para serem cantadas em shows como mantras pop está no ápice e ela entrega uma coleção de letras que sabem misturar todo seu apelo pop com sua personalidade polêmica e o fator "chiclete" sem precisar ser uma pastiche de velhos clichês. Não espere grandes reflexões sobre sexo e a fama (outro assunto recorrente em ARTPOP), mas ser deixando levar pelas cativante composições é bem divertido. A ótima Do What U Want poderia ser bem melhor na parte "intelectual", mas é tão bem amarradinha e com um refrão tão grudento que esse detalhe quase passa desapercebido. E não tem como não se divertir para valer com a hilária Swine sobre o caráter de um "filha da puta" (seria para o Perez Hilton?) e com a homenagem feita para a famosa estilista Donatella Versace em Donatella. E, claro, quando GaGa mostra seu lado mais íntimo e pessoal que podemos testemunhar sua força máximo como compositora como é no caso da emocional Dope. E também são nesses momentos mais stripped vocalmente é podemos ver o poder da cantora Lady GaGa. Sempre sabendo dosar entre a cantora pop perfeita para carregar a faixa homônima a boa Artpop e no single Applause com a cantora de power pop na sensacional Fashion! ou sendo apenas a Lady GaGa de sempre na poderosa e polêmica Mary Jane Holland. Só que o melhor de ARTPOP fica para o final quando GaGa entrega a sensacional Gypsy que é uma espécie de de continuação/evolução de The Edge of Glory misturada com Hair e com toques de Speechless e You And I. Só não entendo o porque ela nunca faz das melhores canções de seus álbuns o primeiro single. Tenho certeza que se Gypsy teria bem mais sucesso que Applause. GaGa pode não ter entregado o álbum genial que muitos esperavam, mas ela entregou um produtor perfeito para mostrar a sua arte: o pop.
Um comentário:
Genial, concordo com tudo que foi dito. Só não acho que Aura deveria ser uma Intro, mas sim ter seguido o mesmo caminho que a Demo no quesito vocal. Eu acho que o grande erra é se entregar quase integralmente o álbum para o DJWS, o que deixou o álbum cansativo de se ouvir de uma vez só. Realmente fica longe de ser um BTW e abaixo de THE FAME MONSTER, mas eu curti muito.
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