The Marshall Mathers LP 2
Eminem
O que faz um rapper ser um bom rapper? É o fato de ele dominar a arte do rap? É o fato dele saber como escrever seus versos sabendo como usar a linguagem da melhor maneira possível para representar os seus pensamentos sobre um assunto em questão? É o fato dele (ao lado de colaboradores) saber como criar a melhor sonoridade para acompanhar suas poesias? Ou é tudo isso junto? Ao longo dos anos comecei a perceber que é muito mais que "apenas" tudo isso. Para ser um bom rapper é preciso ir muito além de qualquer expectativa. É necessário quebrar fronteiras. Se não é do próprio estilo, seja ao menos as próprias fronteiras. Para ser um bom rapper é preciso deixar os próprios pré conceitos de lado e se abrir para novas experiências sem deixar de lado as suas origens. Para ser considerado um bom rapper é necessário ser considerado um bom artista. É ser artista é uma complexa construção que só se consegue alcançar com talento, trabalho e uma dose de sabedoria para saber de tudo isso que eu citei anteriormente é necessário.
Depois de três anos do lançamento do seu último trabalho (Recovery) em 2010, Eminem lançou seu oitavo álbum de estúdio no último dia 5. O que faz desse lançamento o grande momento da carreira dele nos últimos dez anos é o fato dele ser a continuação de um de seus trabalhos mais lembrados e elogiados: The Marshall Mathers LP de 2000. Esse foi o trabalho que consolidou Eminem como um dos mais promissores rappers da nova geração com a ajuda de sucessos como Stan e The Real Slim Shady. Depois de mais de 13 anos e muita estrada já percorrida tanto na vida pessoal como na carreira, Eminem lança The Marshall Mathers LP 2. Contudo, não ache que o trabalho é apenas um caça níquel feito para atrair o público para comprar o CD. The Marshall Mathers LP 2 é a comprovação definitiva da grandiosidade artística de Eminem em todos os sentidos caso alguém tivesse alguma dúvida sobre isso.
O trabalho logo de cara é aberto por uma das canções mais geniais da carreira do rapper: Bad Guy é uma avassaladora continuação de Stan. Aqui é mostrada a vingança do irmão do fã que se matou, matou a namorada e o filho na história da música original. Por essa abertura podemos ter a noção perfeita do que é The Marshall Mathers LP 2: uma porrada sonora em que Eminem está apenas no topo de suas habilidades. O rapper está no seu melhor momento da carreira ao entregar performances que eu apenas posso considerar como fora desse mundo. Se não bastasse toda a monstruosidade que é a capacidade dele de mostrar uma gama de estilos completamente diferentes dentro de uma mesma linha de raciocínio e simplesmente arrasar em cada uma delas, Eminem mostra uma força gigantesca em cada música dando uma atmosfera de urgência para cada palavra que ele fala como se a vida dele estivesse em perigo e só por pronunciar esses versos seria sinonimo de salvação mão apenas de seu corpo, mas também de sua alma. Devo admitir que demorei para escrever essas linhas para tentar representar minha visão sobre a performance do Eminem, pois tudo é tão genial que fica difícil achar as palavras certas para descrever da melhor maneira. Mesmo sendo estranho comparar com cantores, mas acredito que The Marshall Mathers LP 2 tem a produção vocal do ano.
Menos polêmico e voltado para seus problemas pessoais Eminem e seus colaboradores estão afiadíssimos e inspiradíssimos fazendo trabalhos sensacionais em cada música. Um ponto extremamente positivo é que Eminem nunca se mostra limitado em escolhas temáticas sempre indo além dos clichês vomitados por outros rappers. The Marshall Mathers LP 2 está recheado de trabalhos perfeitos tanto na parte técnica (rimas, construção dos versos, construção sonora das palavras, refrões, referencias) e na parte artística (como ele lida com os assuntos que vão desde o amor até sua relação com a fama passando pelos seus demônios pessoais como a falta do pai e sua relação conturbada com a sua mãe). Em questão da produção, The Marshall Mathers LP 2 é a demonstração que há vida inteligente no mundo. Mesmo seguindo um caminho mais tradicional em sua base, o álbum é envernizado por uma camada de nuances, influências, batidas, texturas e ideias que transforma seus mais de 100 minutos de duração (contando a versão deluxe) em uma viagem quase transcendental. Além da já citada Bad Guy outros momentos geniais são: a acachapante Rhyme Or Reason sobre seus problemas com seu pai que nunca conheceu, o single Berzerk, a devassadora Rap God, a hilária So Far..., a parceira com o Kendrick Lamar na inusitada Love Game, a "evolução" de Cleanin' Out My Closet em Headlights com o Nate Ruess e a ótima Desperation incluída na versão deluxe. O mais curioso que a maioria das canções citadas foram produzida pelo produtor Rick Rubin (para quem posso achar estranho, Dr. Dre funciona como produtor executivo do álbum). Apesar de algumas faixas não serem tão boas com as já citadas (principalmente as mais "comerciais), The Marshall Mathers LP 2 é um álbum para ficar na história como um dos CD's de hip hop mais geniais de todos os tempos. E novamente o Eminem entrega o que se espera dele e bem mais.
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