Hairless Toys
Róisín Murphy
Música tem como uma das suas principais funções ser um veículo para expressar as emoções do ser humano não importando qual o tipo de música ou o tipo de emoção. Qualquer música é, basicamente, um meio de trazer à tona tudo aquilo que não é possível ser "dito" pelas formar normais de expressão assim como o resultado de todas as formas de arte. Então, por que grande parte do público confina a função da música de acordo com o seu gênero e qual a sua mensagem? Por exemplo: música pop sempre precisa fazer dançar e falar sobre "festejar"? Ou o country precisa falar de "bebida, desilusão amorosa e mulher"? A resposta é bem clara: não. Há vários exemplos de artista que quebram barreiras e desconstroem estereótipos na busca de uma evolução musical.
Hairless Toys, terceiro álbum da cantora irlandesa Róisín Murphy que marca o seu retorno depois de hiato de oito anos desde o lançamento de Overpowered em 2007, não é nada do que poderia se esperar de um álbum de música eletrônica. Não, Róisín não faz uma reinvenção do gênero, mas consegue quebrar algumas grandes expectativas. Hairless Toys é sobre sentimentos densos, sombrios e, muitas vezes, depressivos. Róisín fala sobre como as relações humanas perante os dias de hoje e o prazo de validade de duração para existirem. Também fala da sensação cada vez mais comum de solidão que as pessoas estão sentindo mesmo rodeadas de milhares de outras pessoas. Consumismo. "Vampirismo" de alma. Lares destruídos. Todos são temas abordados em Hairless Toys. Apesar do peso que esses temas trazem, a magistral inteligência de Róisín e o Eddie Stevens, que escreveram todas as canções do álbum, não deixa que o trabalho se torne algo extremamente penoso de se ouvir. O trabalho geral nas letras é de um refinamento e uma quase leveza que apenas ajuda Hairless Toys em se tornar uma obrar marcante. Não é só por isso que o trabalho de Róisín se destaca. Entre o eletrônico e o downtempo com pitadas de disco e funk, Hairless Toys se revela como um álbum intricadamente rico, detalhado em nuances e construído em uma base sólida. Não é um trabalho que seja fácil para a apreciação do público em geral, principalmente devido ao começo um pouco conturbado na canção Gone Fishing, a longa duração das faixas e a parte final indo em uma direção bastante melancólica. Quem "superar" tudo isso será surpreendido pela presença magnética de Róisín em canções como Evil Eyes, Exploitation, Uninvited Guest e Exile. No meio de tudo isso ainda poderá refletir sobre a vida em vários aspectos que apenas a arte pode proporcionar.
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