Lana Del Rey
Depois de cinco anos do lançamento do seu primeiro álbum oficial, Lana Del Rey conseguiu transformar a visão que se tinha da sua carreira ao ir de uma deliciosa pastiche do pop indie para algo que mantém as principais características estéticas intactas, mas que agora encontra uma profundidade real e elegante, ajudando a transformá-la na verdadeira rainha de um público bem extenso que sempre viveu no limite entre o mainstream pop e o underground. E, mesmo "não querendo estar morta" mais em Lust For Life, Lana continua a exalar o seu adocicado perfume de melancolia.
Interessante notar que Lust For Life parecer ser o resultado de todas as experiências que a cantora fez nos seus três primeiros álbuns: o flerte com trip trop/hip hop em batida mais marcadas de Born To Die, a imersão no rock indie de Ultraviolence e a elaborada e complexa jornada feita em Honeymoon. Está tudo aqui, mas o novo trabalho para peneirar e aplicar uma camada densa de um entendimento que apenas a maturidade pode dar para um artista. Tendo a própria Lana e Rick Nowels os principais nomes de toda a própria, Lust For Life encontra uma sonoridade que, simultaneamente, possui o aconchego do art pop usual da cantora (arranjos melódicos, lentos para padrões atuais e com uma atmosfera que se assemelha a sonhos distorcidos) e uma noção de evolução musical com a adição novas texturas e nuances ainda não ouvidas nas canções da cantora. Veja o caso da bela e delicada White Mustang: apesar de parece mais uma faixa padrão de Lana, a canção tem uma delicadeza crua e despretensiosa que era difícil de ouvir em canções anteriores. Na verdade, Lana nunca esteve tão ousada e quebradora de suas próprias regras ao, pela primeira vez, contar com participações em suas canções. A melhor delas e, também, ficando com o título da faixa de maior destaque do álbum é a genial Beautiful People Beautiful Problems com a lenda do rock Stevie Nicks. Com ex-escrita pela vocalista do Fleetwood Mac, a faixa é uma sensacional rock indie/indie pop sobre ter esperança na vida. Isso mesmo queridos amigos, Lana Del Rey cantando sobre ter esperança e, não, perder a mesma. Sim, esperança com um toque de desalento, mas, no final da contas, o sentimento realmente positivo. E, por falar em composição, Lust For Life é um trabalho refinado e lindamente bem acabado, mesmo que ainda recorra a velhos clichês da cantora.
Nostalgia, homens que apenas quebram o coração, longos passeios em praias vazias, amores disfuncionais e uma dose extra de referências vintages. Lust For Life reúne novamente todos os elementos clássicos da boa e velha Lana. E, novamente, o resultado entregue e de uma elegância única. Entretanto, como já discutido, existe uma vibe de criar uma nova atmosfera para a cantora que no teor lírico seria, primeiro, uma noção de "felicidade" para as letras mais solares e, segundo, falar sobre assuntos que até agora não tinham sindo abordados pela cantora. Esse é caso de duas faixas que falam bem abertamente sobre a atual situação dos Estados Unidos: God Bless America - And All the Beautiful Women In It e a sua atmosfera feminista com um arranjo semi acústico influenciado pela sonoridade mexicana e a sentimental When the World Was At War We Kept Dancing que fala sobre continuar o fim da America como conhecemos e começo de uma nova era. Músicas como essas e basicamente todo o catalogo só poderiam ter uma interprete como Lana e a suas interpretações que para muito são sonolentas, mas para quem gosta Lana tem um charme completamente especial, old fhasion e característico com o seus vocais espectrais. Infelizmente, Lust For Life tem um grande problema que afeta o resultado final: a sua duração muito longa. São dezesseis faixas que resultam em mais de setenta minutos que parecem maiores quando se ouve de uma vez só. Com uma boa edição de, talvez, umas cinco ou seis canções o resultado seria do impacto perfeito para o que foi pretendido para o trabalho, pois quando se chega lá pela parte final fica a sensação para quem ouve de estar quase ouvindo dois álbuns e, não, apenas um. Além das canções já citadas, outros ótimos momentos do álbum são a romântica Tomorrow Never Came com a presença de Sean Ono Lennon (filho de um certo casal chamado John e Yoko), Summer Bummer com os rappers A$AP Rocky e Playboi Carti, Coachella - Woodstock In My Mind, Change e Cherry. Lust For Life termina sendo a cimentação final da carreira de Lana para o consciente coletivo como um dos nomes mais talentosos surgidos nessa década. Agora é a hora da cantora se preparar para escrever o seu nome de vez no panteão supremo da música. Aguardemos.
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