1 de novembro de 2017

Primeira Impressão

Glasshouse
Jessie Ware


Acredito que a primeira coisa que uma canção precisa ter para ser considerada boa é a sua capacidade de transmitir algum sentimento e que esse sentimento possa encontrar eco dentro de quem ouve. Não importa qual seja exatamente esse sentimento. Bom ou ruim. Aconchegante ou desolador. Frio ou quente. Forte ou brando. Música deve ser a propulsora para encontrarmos nossos sentimentos que nem sempre conseguimos expressar representados em notas, letras e melodias. Dessa maneira, álbuns deveriam ser uma coleção dessas representações sonoras de forma mais profunda, complexa e, principalmente, significativa. Esses todos os adjetivos não poderiam melhor representar o terceiro álbum da britânica Jessie Ware, o belo e emocionante Glasshouse. Entretanto, a cantora consegue transmitir uma quantidade enorme de emoções fazendo o mais difícil ao ser uma pequena grande obra.

Glasshouse é uma álbum sobre a deliciosa dor de amar. Glasshouse é sobre a angustia dolorosa de querer ser amado. Glasshouse é sobre perdas, conquistas e viradas de mesas. Glasshouse é sobre o que mais queremos no mundo: uma amor para chamar de seu, custando o que custar. Assim sendo, o resultado final era esperado ser algo grandioso e exagerado. Todavia, Jessie está bem, mais bem longe de ter como principais qualidades esses adjetivos, pois o álbum exala todos esses sentimentos da forma mais recatada possível. Essa é na verdade a tônica básica da sonoridade de Jessie: um delicioso e contido pop soul. Não ache, porém, que esse caminho é capaz de represar de verdade qualquer sentimento expresso nas primeiras linhas, pois, na verdade, essa pegada é mais forte que aquela que entregaria o jogo de cara. Ao sermos embalados pela sonoridade aconchegante, hipnótica e cadenciada de Glasshouse deixamos toda a nossa guarda abaixada e quando percebemos estamos sendo levados por uma onda de emoções diversas e poderosas, sendo capaz de emocionar de verdade. E quando digo emocionar é melhor entender como estar no chão da sala com uma garrafa de vinha pela metade e chorando por ex casos amorosos e/ou amores platônicos. Sentimental na medida certa. Intimo, mas com um entendimento global de como fazer o público se identificar. Emocionante, mas longe de qualquer exagero meloso. Glasshouse, porém, não se apóia apenas na construção da sua atmosfera, pois Jessie entrega o seu trabalho mais consistente ao manter as qualidades e eliminar o principal defeito ouvido nos dois álbuns anteriores.


Trabalhando com vários nomes mais conhecidos como Cashmere Cat e Benny Blanco, Jessie conseguiu tirar da sua sonoridade uma característica que era um defeito importante anteriormente: cada faixa em Glasshouse tem personalidade própria e, ao contrário de antes, não é possível confundir nenhuma. Apesar de sempre ter mostrado uma qualidade artística e técnica impressionante, Jessie explorou até agora uma sonoridade pop que várias vezes tinha uma linearidade entre as canções que ficava difícil distinguir uma da outra. Isso não acontece em Glasshouse. Continuando no mesmo caminho sonoro, a cantora resolveu arriscar ao flertar com novas influências como, por exemplo, a bossa nova na ótima Selfish Love e incluindo novas nuances, texturas e camadas, criando o seu melhor, mais coeso e acessível trabalho. Com essa variedade sonora, Jessie Ware é capaz de navegar melhor e mais amplamente nas possibilidades que a essência básica da sua sonoridade é capaz de ir. Ricamente produzido, Glasshouse teria uma resultado bem diferente caso não tivesse a presença vocal de Jessie. Assim como uma bela xícara de chocolate quente em um dia de inverno, a voz da cantora é o tipo que faz a gente se sentir aconchegado nas suas interpretações. Um aconchego que nem sempre é confortável, mas, também, algo que a gente consegue se identificar de uma maneira sincera. Jessie não é dona de uma voz com potencial técnica e, sim, uma potencia emocional, além de possuir um timbre aveludado e perfeito para a sua sonoridade. Glasshouse é uma coleção de acerto atrás de acerto e por isso fica difícil escolher os destaques, mas algumas canções conseguem se destacar um pouco a mais: os singles Midnight, AloneSelfish Love são a pilastra central do álbum acompanhado pela adocicada First Time, a triste Hearts, a sensual Slow Me Down e emocionante Sam com a guitarra de Ed Sheeran. Jessie Ware encontra o seu melhor momento na carreira até o momento em Glasshousee, entregando um dos melhores álbuns do ano.

Um comentário:

G. RLS disse...

Preciso conhecer mais, muitos tem elogiado esse disco... Essa capa tá show!!