Rubel
Apesar de reclamar do estado do atual cenário musical é preciso admitir que se a gente olhar com cuidado é possível encontrar artistas que fogem nesse mar de mediocridade. Lançado o seu terceiro álbum, o cantor Rubel é um exemplo dessa exceção com seu interessante As Palavras, Vol 1 & 2, uma mistura entre homenagem, pretensiosidade e desconstrução.
Com quase uma hora de duração e vinte faixas dividido em dois lados, o álbum é uma mistura de MPB, funk, forro, bossa nova, samba, pop, pagode e alguns outros em uma salada mista um pouco desconexa, mas que sempre se mostra interessante. Existe uma vontade clara de homenagear todo a pluralidade da música brasileira como um abraço grande, afetuoso, aconchegante e sincero. É tocante poder perceber que o Rubel tem essa vontade tão real de poder prestar uma homenagem e as suas raízes, mesmo que ainda soe meio pretencioso algumas vezes. É uma pretensão sincera e que não compromete de verdade o resultado final, mas cria uma fina e persistente camada que percorre quase todo álbum. É basicamente uma sensação que não deixa o álbum alcançar uma plenitude, deixando apenas o espeço para um ótimo trabalho imperfeito. E isso já é algo fantástico. Quando, porém, As Palavras, Vol 1 & 2 chega perto dessa glória é realmente sensacional.
O melhor momento do álbum é na lindíssima Torto Arado. Inspirada diretamente pelo livro de mesmo nome de Vieira Junior, a canção é uma cantiga MPB/pop com uma letra avassaladora e um instrumental inspirado. Entretanto, a grande qualidade de Rubel é trazer as presenças impecáveis e transcendentais das vozes de Luedji Luna e Liniker, deixando ambas brilharem de maneira sem ressalvas. Essa inteligência sonora é também ouvida na dupla Assum Preto/ Forró no Escuro. A primeira é uma surpreendente e linda a capela pela tocante e delicada voz de Dora Morelenbaum que abre para a também reconstrução entoado pelo Rubel, sendo ambas canções são regravações de Luiz Gonzaga. É aqui que o álbum encontra o seu proposito ao ser realmente ser essa celebração do que temos de melhor não importa qual é o gênero, pois o cantor consegue ir do clássico atemporal para atualidade na mesma toada. E é por isso que PUT@RIA! é tão preciosa para o álbum ao ser uma sensacional mistura de funk com rap e pop que puro suco do gênero carioca, mas realizado com uma graça elegante e um toque de safadeza calculada. E o toque especial é a presença sempre ótima da Mc Carol e a boa performance de rapper BK. Em Posso Dizer, Rubel, co-escrito ao lado da Mahmundi, entrega um estiloso samba da melhor qualidade que poderia facilmente ter sido uma regravação de um clássico com ousados toques de funk. Estilizado e urgente, a faixa Forró Violento é tão desconcerte devido a sua narrativa que mistura drama social com a tradição oral. Tenho admitir que algumas composições mais descoladas tem essa pretensão já citada ao querer ser modernosa esteticamente do que ser realmente profunda tematicamente, mas momentos como As Palavras ao lado de Tim Bernardes são realmente conseguem dissipar essa impressão. E, claro, um álbum que tem a presença do gigante Milton Nascimento na tocante Lua de Garrafa é sempre merecedor de ter elogios direcionados. As Palavras, Vol 1 & 2 está bem longe de ser um sucesso comercial fora da bolha que envolve o alcance da carreira do Rubel, mas é sempre bom saber que ainda existe essa bolhas em que a música brasileira vive a plenos pulmões.
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