3 de setembro de 2023

Primeira Impressão

Escândalo Íntimo
Luísa Sonza




Tenho que confessar que uma das minhas comidas preferidas é pastel de feira. Na verdade, não apenas de feira, mas pode ser caseiro, de pastelaria, da venda da esquina, congelado ou qualquer outro lugar. Até mesmo pastel de ontem ainda é ótimo. Entretanto, o pastel para ser bom de verdade precisa ter recheio e bastante recheio. Então, Escândalo Íntimo, o terceiro álbum da Luísa Sonza, é um belo pastel dourado, bem frito e com uma massa feita a perfeição, mas é o famoso pastel de vento: não tem nenhum recheio.

Antes de realmente começar falar sobre a principal impressão do álbum preciso colocar os pontos positivos do álbum. Primeiro, Sonza foi capaz de fazer um verdadeiro sucesso da repercussão do álbum ao se tornar o álbum mais ouvido no Spotify nas vinte quatro horas depois do lançamento, batendo com folga todos os outros lançamentos até o momento. E, gostando ou não da sua campanha de promoção, isso tem que ser elogiado. Em segundo, a produção técnica do álbum é muito boa. Não é excelente, pois tem alguns momentos aqui e ali que poderiam ter melhor sido trabalhados, mas não é impedimento para não apreciar a qualidade que foi colocada como geral. E em terceiro e por último, a ambição da cantora de fazer Escândalo Íntimo um álbum com proposito de ser algo com conceito definido e ambicioso. O problema é que faltou ir além do querer e, sim, entregar algo com substancia suficiente para dar vazão as ideias pensadas. Resumidamente: o álbum é apenas uma crosta sem nenhuma substância interna.

Acredito que a ideia central de Escândalo Íntimo seja criar um trabalho que seja essencialmente brasileiro com gêneros nacionais como casando com uma mistura de art/alt pop, R&B contemporâneo e experimental, criando um amálgama perfeito para ser o que o pop nacional pode alcançar. E isso é feito? Na teoria, sim, pois Escândalo Íntimo consegue navegar por essas águas ao ser sonoramente essa mistura entre gêneros nacionais com o suprassumo do mainstream pop internacional. Na tese, o que é ouvido aqui é genérico, raso e sem criatividade suficiente para não ser apenas uma tentativa pretenciosa e, por muitas vezes, sem graça. Falta o principal para que essas ideias sejam realmente reveladas sonoramente: conteúdo. As peças estão no lugar, mas não tem nada de relevante “desenhado” sobre as mesmas, revelando uma tela em tons apáticos com rabiscos toscos e alguns espaços de cor que não fazem nada por estarem perdidos no meio. E é fácil notar quando ideias tão ousadas encontram a realização na mesma altura: Motomami da Rosalía. E isso não é em o ponto mais fraco de Escândalo Íntimo.

Vocalmente, Sonza é uma cantora com recursos que são atrapalhados por performances exageradas ou sonolentas ou sem direção ou apenas medianas. Sinceramente, acredito que quem fez a produção vocal do álbum tenha tirado alguns dias de folga durante a gravação do álbum, pois só assim posso entender de fato o que aconteceu com a irregularidade dos vocais da cantora entrega ao longo do álbum. Outro problema em questão a voz de Luísa é a sua dicção. Já tinha lido algumas críticas, mas apenas quando prestei atenção durante o álbum que notei que existem momentos que fica complicado entender o que a mesma fala devido a falta de fluidez ao pronunciar algumas palavras. A gente entende porque tem letra para ler, mas se fosse apenas no ouvido seria fácil confundir palavras que aqui e ali. E entender o que a cantora fala também é meio complicado no quesito composição.

Escândalo Íntimo tem um trabalho decente lírico, mas que falta profundidade orgânica para ser uma fluida expressão do intimo da Luísa. O que fica soando aqui é mais como um “crônicas da pobre menina branca sofrida”. Isso não é problema nenhum, pois a Taylor Swift construiu uma carreira inteira sobre isso e é a maior artista da atualidade. O problema é que ao contrário da estrela internacional, a brasileira falta um apuro criativo para criar composições que possam expressarem todos os seus sentimentos de maneira refinada, inteligente e inspirada. Apesar de não ter realmente gostado de quase todo o álbum existem dois momentos que mostram algum brilho que difere do resto do trabalho mediano: Surreal com participação do Baco Exu do Blues e a balada Onde é Que Deu Errado?Escândalo Íntimo é claramente o álbum mais divisível nacional dos últimos tempos, tendo gente que vai amar e outras que vão odiar. Na minha visão, o problema do trabalho é exatamente o que mais odeio: um belo pastel de vento.

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