23 de junho de 2024

Charli Goes Pop!

360
Charli XCX


The girl, so confusing version with lorde
Charli xcx & Lorde


Ao que parece estamos no ano da Charli XCX devido ao sucesso de critica e repercussão de Brat. E duas canções do álbum ajudam a entender essa onda verde neon que tomou conta do mundo pop: o single 360 e o remix/nova versão de Girl, So Confusing.


Como dito na resenha do álbum, 360 “consegue equilibrar uma batida que fica bem no meio do caminho entre o pop comercial e o lado experimental”. E isso é a grande cartada para a canção. Uma mistura azeitada de hyperpop com bubblegum bass com electropop transforma a canção um banger poderoso que é aumentado seu potencial pela letra divertida e cheia de citações pop ótima. Sabe o que a Britney Spears tentou fazer na era Britney Jean? Então, 360 é basicamente o que deveria ter sido feito para a princesa do pop, terminando superior infinitamente que todo o álbum. Se 360 acerta plenamente na sonoridade, The girl, so confusing é o trunfo da boa composição.

Como também apontado na resenha do álbum, Charli XCX se abre de maneira honesta e, por vezes, desconcertante nas suas composições no trabalho. E, mesmo não sendo a melhor, Girl, So Confusing é um dos momentos que vemos o lado intimo da cantora a mostra ao relatar sua relação de amizade com outra cantora em que relata suas inseguranças nesse relacionamento, sendo alguns criados por ela mesma e outros que foram impregnados por outros na sua mente. Honesta e de certa maneira tocante, a letra foi especulado sendo para a Lorde. E isso foi confirmado com o lançamento do remix com um verso da Lorde em que a mesma responde a Charli. Essa nova adição aprofunda a temática da canção devido ao ótimo verso da cantora nova zelandesa em que a mesma expõe o seu lado, mostrando que o peso de ser uma mulher na indústria é de certa maneira igual para as duas. Longe de ser uma diss track, a faixa é na verdade uma conversa entre duas amigas se entendendo de alguma forma sobre suas dores e que isso causa nas suas vidas e, claro, na amizade entre as duas. Sonoramente, The girl, so confusing não altera nada da original ao ser um ótimo electropop/hyperpop. E assim vai se formando a tempestade nível gigantesca da Charli XCX em 2024.
notas
360: 8
The girl, so confusing: 8

Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

So Hot You're Hurting My Feelings
Caroline Polachek


Caroline Polachek se tornou um dos principais nomes do pop alternativo da atualidade, ainda mais depois do lançamento de Desire, I Want to Turn Into You. Voltando um pouco a fita, a cantora já tinha sido reconhecida pelo sei talento tem algum tempo e uma das canções que ajudou a começar esse caminho foi a interessante So Hot You're Hurting My Feelings.

Single do álbum Pang, a canção apresenta como sua maior qualidade o equilíbrio perfeito entre o pop comercial e o pop experimental, criando uma canção estranhamente cativante. Ao misturar com exatidão o lado leve do synthpop com a peso sonoro de art pop, a produção da própria cantora ao lado de Daniel Nigro transforma So Hot You're Hurting My Feelings no tipo de canção que primeiro gruda na cabeça como chiclete para depois a gente começar a entender a sua profundida artística. É inteligente sem ser pretenciosa e é despretensiosa o suficiente sem ser dispensável. A performance iluminada da artista é arremate ideal para expressar a complexidade da sua ideia sonora por trás, pois consegue expressar essa dualidade de maneira clara e sem nenhuma amarra. A parte lírica da canção é o seu ponto fraco, mas isso não quer dizer que seja um trabalho ruim. É interessante e tem uma um refrão realmente viciante, mas falta certa profundidade que a cantora já demonstrou em trabalhos posteriores. Apesar de não atingir o pico criativo que a cantora já mostrou, So Hot You're Hurting My Feelings é uma ótima porta para entrar no mundo da Caroline Polachek.
nota: 8

Na Mosca

Flea
St. Vincent


Depois de um começo bom, mas um pouco abaixo do esperado para a divulgação do álbum All Born Screaming, com a canção Broken Man, a St. Vincent vai com tudo na poderosa Flea.

Com a bateria inspirada do Dave Grohl com base, a canção é um slowburn excepcional em que a cantora nos leva para uma viagem deliciosamente soturna, pesada e soulful devido a adição interessante de soul rock para a batida poderosa que mistura rock alternativo, art rock e industrial. Em um instrumental magistral, Flea é aquele tipo de canção que gruda na gente depois da gente ouvir sem se tornar enjoativa. Acredito que a sua maior qualidade é essa inquietante batida mistura com uma textura mais aveludada que dá para a canção um conjunto elegante de nuances. Conduzido pela sensacional e pungente performance da St. Vincent que sabe lindamente transitar pelos altos e baixos da produção, Flea é um acerto na mosca da St. Vincent. 
nota: 8,5


Uma Nostalgia Morna

Houdini
Eminem


Acho louvável um artista que consegue referenciar a si em suas músicas, especialmente aqueles que tem uma carreira como a do Eminem. Em Houdini, o rapper faz isso ao referenciar vários momentos da sua carreira de maneira até inteligente, mas o problema é que o mesmo esqueceu de atualizar a sua sonoridade.

Primeiro single de The Death of Slim Shady (Coup de Grâce), a canção acerta ao ter como base um dos maiores hits da sua carreira: Without Me. Incluindo o seu icônico clipe que venceu o MTV Video Music Awards em 2002. O grande problema é Houdini não tem de longe a mesma genialidade que a canção referenciada, terminando a sua batida como algo entre o datado e o apenas engraçadinho. Tem uma boa produção que até consegue tirar bons momentos que, porém, termina soado mais como uma parodia morna do que a urgência sonora que os trabalhos da época de ouro do rapper. E apesar da boa performance do Eminem que, sim, lembra a sua versão de 2002, a canção não está a altura para refletir o seu próprio peso. Divertida, mas nada relevante.
nota: 6

Encontro Surpresa

I’m Free
Paris Hilton & Rina Sawayama


Apesar de ter alguns anos fazendo resenhas e acompanhando o mundo da música, especialmente o mundo pop, ainda tenho a capacidade de me surpreender com algumas coisas. E a mais recente é o fato da Paris Hilton decidir voltar ao mundo da música com o lançamento de um novo álbum, tendo com primeiro single a divertida I’m Free com participação da Rina Sawayama.

É necessário dizer que a canção funciona de fato devido a presença da Rina, mas a grande surpresa é que Paris não atrapalha em nada. Não que a Paris não tenha já entregado uma boa canção, mas, sejamos sinceros, a socialite não é cantora. Dito isso, a produção acerta ao fazer Paris entoar a sua parte da melhora possível, deixando o peso pesado para a presença sempre mágica da Rina que carrega a canção desde o primeiro instante que sua voz é ouvida. Sonoramente, I’m Free é uma deliciosa e despretensiosa dance-pop com toques de post-disco que funciona se você desliga a mente da procura de algo com mais profundidade e densidade. I’m Free é uma agradável surpresa, mas que não irei esperar nada nesse mesmo nível no novo álbum da Paris. Posso até ser aberto a surpresas, mas estou bem longe de ser enganado tão facilmente.
nota: 7,5

9 de junho de 2024

Primeira Impressão

HIT ME HARD AND SOFT
Billie Eilish




Uma Música Para Meninas Que Gostam de Meninas

LUNCH
Billie Eilish

Mesmo não sendo a melhor canção de Hit Me Hard and Soft, Lunch é amostra de quanto sólido é o álbum e, principalmente, a carreira da Billie Eilish.

Uma divertida, sexy e gostosinha pop rock/indie pop que acerta ao perfeitamente em experimentar com doses de post-punk e electro, a canção ajuda o publico a ter a noção do crescimento pessoal e sonoro da cantora. Primeiro, Lunch é sobre o desejo da cantora por uma mulher em que a mesma fala de maneira aberta e sem pudor, mostrando que canções com conteúdo queer diretas vem sendo melhor aceitas pelo mainstream sem precisar de subterfúgio líricos para esconder a temática. Em segundo, a canção mostra o quanto confortável Billie está ao falar sobre o assunto como, também, a produção de Finneas acerta no tom despretensioso da canção ao faze-la uma das mais animadinhas da carreira dos dois. Como escrevi antes, o single não é o melhor que álbum pode oferecer, mas ainda é um trabalho louvável.
nota: 8



A Magistral Raye

Genesis
RAYE


Quando a Raye lançou My 21st Century Blues foi a confirmação definitiva que a cantora é um gênio que vinha sido escondido por gravadoras que não tinham a menor noção de como lidar com tamanho talento, tentando a encaixar em lugares comuns que não faziam jus a que ela pode fazer. Todavia, essa noção clara sobre o potencial da cantora ainda não preparar a gente para o que ela pode alcançar. E isso é o que pode ser notada na magnifica Genesis.

Sem informação da canção ser de um novo álbum, uma versão deluxe do álbum anterior ou apenas um single solto, Genesis não é apenas a melhor canção da cantora como também uma seríssima candidata ao posto de melhor do ano. E isso não consegue traduzir a genialidade que é vista na canção. Com produção de Rodney Jerkins, Shankar Ravindran e Tom Richards, Genesis é um trabalho que vem sendo construído ao longo de dois anos e, claramente, mostra que esse tempo serviu para lapidar essa grandiosidade épica da canção que com seus sete minutos de duração que vale a pena cada segundo. Divida em três partes, a canção é uma jornada sonora deslumbrante que começa com uma mistura sóbria e forte de spoken word com gospel e R&B para depois transitar para uma pungente e desconcertante R&B contemporâneo com hip hop para termina de maneira surpreende e grandiosa ao enveredar para o jazz com doses de big band.

Ouvidas separadas, cada parte de Genesis parece três canções completamente diferentes como foram lançadas no EP do single, mas quando estão juntas dentro da canção se toram uma “massa” extremamente coesa que realmente faz sentido de ser uma canção só devido a fluidez perfeita que a produção costura cada parte, fazendo tudo ter um sentido sonora que dá razão para a decisão de dividir a canção em três parte tão diferentes. Todavia, o que faz a canção ter essa razão de existir é a impressionante, poderosa, devastadora, intima, ácida, tocante, honesta e inteligentíssima composição em que Raye, ao lado de Marvin Hemmings, em que reflete sobre os problemas pessoais da cantora como, por exemplo, problemas mentais, a percepção da sua imagem, a pressão pela perfeição estética e como ela se relaciona ao ser um exemplo para jovens garotas e problemas da sociedade como racismo e as guerras que acontecem atualmente. Apesar dos temas pesados, a letra de Genesis nunca se torna um desfile das mazelas apenas para mostrar o lado reflexivo da cantora, pois, assim como outras canções da artista, a letra se mostra como um pedaço da percepção sincera que nunca se torna uma pregação ou/e piegas. E o toque de genialidade é quando começa a terceira parte da canção com sonoridade big band/jazz a letra toma um rumo esperançoso que é como se fosse a luz no final do túnel para o que é discutido no resto da canção. E toda essa carga grandiosa da canção é sustentada por uma performance simplesmente devastadora da Raye que destrincha cada momento com a mesma pulsão emocional e uma versatilidade inacreditável. Com Genesis, Raye prova novamente que talento precisa de liberdade para florescer na sua mais espetacular versão.
nota: 9,5

Quase Um Mega Hit

II MOST WANTED
Miley Cyrus & Beyoncé

Acho que nesse momento já estamos acostumados com o fato da Beyoncé ter um padrão de comportamento após o lançamento dos seus álbuns ao desperdiçar canções que poderiam ser imensos sucessos devido a não divulgação “correta” das mesmas. Esse é o caso de II Most Wanted.

Uma das canções que mais teve destaque depois do lançamento de Cowboy Carter, a parceria com a Miley Cyrus poderia ter sido facilmente uma mega sucesso se tivesse sido melhor divulgada. E apesar disso, a canção ganhou ótimo destaque apenas usando a curiosa parceria e a sua qualidade para conquistar um sexto lugar na Billboard. Parte do álbum que defino como “Beyoncé mostrando como se faz country comercial”, II Most Wanted é uma graciosa, carismática, romântica e bonita balada country pop com uma pegada que consegue ser sonoramente simples, mas com um instrumental gracioso. A letra também tem essa mesma qualidade de não precisar de ser complexo para encantar, incluído o viciante refrão. Entretanto, o grande mérito da canção é a química inusitada da Beyoncé com a Miley que funciona bem melhor que a gente poderia imaginar para uma canção que envolve artistas tão diferentes. E é interessante notar que apenar de “dona da canção”, a Beyoncé dá espaço grande para a Miley, fazendo da canção realmente uma colaboração entre as duas, indo bem longe de uma mania atual em que artistas convidam outros para serem quase backvocal de luxo. E é uma pena que II Most Wanted não pode ter sido um sucesso ainda maior que é, pois poderia facilmente um dos maiores de 2024.
nota: 8,5

Ray of Light

Thrown Around
James Blake


Apesar de já ter acostumado com as experimentações sonoras que o James Blake vem fazendo nos últimos tempos da sua carreira ainda me surpreendi com o resultado da sensacional Thrown Around.

O grande diferencial da canção é que primeira vez Blake entrega uma canção verdadeiramente dançante. Não que o mesmo não tinha feito parecido antes, mas Thrown Around existe uma camada verdadeiramente de animação pura e contagiante que faz a gente abrir um sorriso e, claro, querer dançar. Durante várias vezes durante a canção a sua vibe e batida me lembraram Ray of Light da Madonna, especialmente a transição para a batida mais animada. Apesar dessa mudança, o single ainda mante as qualidades do artista bem pungente como o seu imenso cuidado técnico e, principalmente, o seu magnifico trabalho vocal que é um dos melhores deles nos últimos tempos. E quem diria que um James Blake animadinho seria tão bom quanto o James Blake tristinho.
nota: 8,5

De Volta ao 7

Please Please Please
Sabrina Carpenter

Quando resenhei o hit Espresso informei que finalmente a Sabrina Carpenter tinha entregado uma canção que ficou acima da nota 7. Então, com o lançamento de Please Please Please, a cantora volta para essa casa com uma canção que claramente poderia ser bem mais.

O grande problema da canção é que a mesma tem a marca do Jack Antonoff de maneira que a gente percebe facilmente os velhos cacoetes do produtor, mesmo que a canção consegui ter momentos realmente originais. Sonoramente, Please Please Please é uma solida pop/indie pop que adiciona boas texturas aqui e acolá, mas nunca consegue sair desse “limbo” criativo do produtor. E isso atrapalha o resultado final de não ser algo que esteja na mesma altura do single anterior e, principalmente, da ótima performance vocal da Sabrina. A cantora consegue entregar uma performance que captura o tom agridoce, romântico e irônico da boa composição, elevando o material de maneira natural e divertida de verdade. Uma pena que a canção volte a Sabrina para o nível de antes, pois espera uma curva crescente.