Charli XCX
Ao parece, a indústria fonográfica está vivendo uma era de ressureição de carreiras no nível comercial. Depois da Raye e a Tinashe, a vez agora é da Charli XCX. E não é apenas um simples comeback, mas, sim, a consagração definitiva da britânica que vem moldado o cenário do hyperpop/electropop da última década. E isso vem da incrível recepção do seu já clássico Brat. Tenho que dizer que o resultado final do seu sexto álbum está longe de ser o seu melhor trabalho, mas é incontestável que a cantora entrega é incontestavelmente uma coleção de banger que atingem um lado emocional inesperado.
Sonoramente, o álbum não altera nada no que a gente já conhece da cantora, mas tem um trufo interessante nessa mistura. Apesar de ser comandado principalmente pelo parceiro de longa data da cantora o produtor A. G. Cook, Brat é permeado pela visão de outros produtores como, por exemplo, Cirkut, Omer Fedi, The Dare, El Guincho, entre outros. E por isso é possível ouvir claramente experimentações e novos caminhos em vários momentos que dá vida para o trabalha sem fazer a Charli perder a sua espinha dorsal sonora. Isso é louvável, pois mostra a vontade da cantora de não ficar parada em apenas um lugar artisticamente. Todavia, isso não faz o álbum chegar ao nono patamar para na discografia da cantora, pois o que é entrega é ainda bem dentro do seu reino de capacidade. E isso já é ótimo, pois estamos diante de uma refinada, excitante e madura mistura de hyperpop com uma dezena de subgêneros que vai do house até o puro pop. E isso é logo visto de cara na sua elétrica abertura 360 em que a mesma consegue equilibrar uma batida que fica bem no meio do caminho entre o pop comercial e o lado experimental. Logo em seguida, porém, a cantora faz a curva para o puro suco do club house com a ótima Club Classics “ao ser uma sinergética, cativante e nostálgica electro house que faz a gente vibrar e também sentir certa emoção. O motivo disso é a sua atmosfera que remete ao gênero de maneira tão pura e a sua composição que invoca exatamente isso ao mostrar a vontade da cantora em dançar os clássicos de quem faz esse tipo de canção. E a linha “I wanna dance to SOPHIE” faz a gente sentir uma dorzinha no coração genuína”. Quero ressalta que nessa última frase se esconde um dos motivos para que Brat seja realmente um trabalho memorável.
Acredito que não é comum associarmos um álbum que tenha sido denominado como hyperpop como emocional. Todavia, é isso que acontece em Brat. Charli xcx sempre teve uma escrita com toque pessoal e emocional, mas isso era meio que colocado em segundo plano para deixar a sua sonoridade brilhar. Aqui, porém, as letras estão no mesmo nível que a produção ao mostrar uma cantora que consegue ir da vibe festeira para a sentimental, intima, tocante e desconcertantemente honesta. E isso é feito de maneira tão natural que não pesa a mão em relação entre o contraste entre a sonoridade e o teor lírico. Por exemplo, a pesada bubblegum bass/hyperpop Sympathy is a knife é uma crônica sinceríssima sobre se sentir insegura perto de outra mulher. E, devido a passagens como Don't wanna see her backstage at my boyfriend's show /Fingers crossed behind my back/I hope they break up quick” é basicamente claro que ela está falando da Taylor Swif devido ao seu namoro com o Matty Healy, pois Charli, que é noiva do baixista George Daniel do The 1975. E o melhor é que a cantora não parece querer procurar polemica pelo simples motivo de criar barulhinho, mas, sim, expressar seus sentimentos reais que por acaso envolvem pessoas conhecidas pelo grande publico. Entretanto, o grande momento de Brat é a devastadora So I em que a cantora lamenta não ter tido de acertar as coisas com a Sophie antes da sua morte trágica. E um dos momentos mais emocionantes da canção é no final do refrão em que Charli canta: “And I know you always said, "It's okay to cry"/So I know I can cry, I can cry, so I cry”. Outros momentos importantes do álbum ficam por conta da batida metálica e marcante de Rewind em que a cantora se questiona sobre se perdeu a essência que tinha no começo da carreira, a explosivamente romântica Everything is romantic, a letra ácida e icônica de Mean girls, as mudanças sonoras de 365 e, por fim, a deliciosa Spring breakers que poderia suar melhor o sample de Everytime da Britney Spears. Brat é um álbum que já nasce icônico, mesmo não sendo toda essa genialidade que muitos estão apontado por aí. O que é, na verdade, é Charli xcx entregando outro momento memorável.
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