9 de junho de 2024

A Magistral Raye

Genesis
RAYE


Quando a Raye lançou My 21st Century Blues foi a confirmação definitiva que a cantora é um gênio que vinha sido escondido por gravadoras que não tinham a menor noção de como lidar com tamanho talento, tentando a encaixar em lugares comuns que não faziam jus a que ela pode fazer. Todavia, essa noção clara sobre o potencial da cantora ainda não preparar a gente para o que ela pode alcançar. E isso é o que pode ser notada na magnifica Genesis.

Sem informação da canção ser de um novo álbum, uma versão deluxe do álbum anterior ou apenas um single solto, Genesis não é apenas a melhor canção da cantora como também uma seríssima candidata ao posto de melhor do ano. E isso não consegue traduzir a genialidade que é vista na canção. Com produção de Rodney Jerkins, Shankar Ravindran e Tom Richards, Genesis é um trabalho que vem sendo construído ao longo de dois anos e, claramente, mostra que esse tempo serviu para lapidar essa grandiosidade épica da canção que com seus sete minutos de duração que vale a pena cada segundo. Divida em três partes, a canção é uma jornada sonora deslumbrante que começa com uma mistura sóbria e forte de spoken word com gospel e R&B para depois transitar para uma pungente e desconcertante R&B contemporâneo com hip hop para termina de maneira surpreende e grandiosa ao enveredar para o jazz com doses de big band.

Ouvidas separadas, cada parte de Genesis parece três canções completamente diferentes como foram lançadas no EP do single, mas quando estão juntas dentro da canção se toram uma “massa” extremamente coesa que realmente faz sentido de ser uma canção só devido a fluidez perfeita que a produção costura cada parte, fazendo tudo ter um sentido sonora que dá razão para a decisão de dividir a canção em três parte tão diferentes. Todavia, o que faz a canção ter essa razão de existir é a impressionante, poderosa, devastadora, intima, ácida, tocante, honesta e inteligentíssima composição em que Raye, ao lado de Marvin Hemmings, em que reflete sobre os problemas pessoais da cantora como, por exemplo, problemas mentais, a percepção da sua imagem, a pressão pela perfeição estética e como ela se relaciona ao ser um exemplo para jovens garotas e problemas da sociedade como racismo e as guerras que acontecem atualmente. Apesar dos temas pesados, a letra de Genesis nunca se torna um desfile das mazelas apenas para mostrar o lado reflexivo da cantora, pois, assim como outras canções da artista, a letra se mostra como um pedaço da percepção sincera que nunca se torna uma pregação ou/e piegas. E o toque de genialidade é quando começa a terceira parte da canção com sonoridade big band/jazz a letra toma um rumo esperançoso que é como se fosse a luz no final do túnel para o que é discutido no resto da canção. E toda essa carga grandiosa da canção é sustentada por uma performance simplesmente devastadora da Raye que destrincha cada momento com a mesma pulsão emocional e uma versatilidade inacreditável. Com Genesis, Raye prova novamente que talento precisa de liberdade para florescer na sua mais espetacular versão.
nota: 9,5

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