Billie Eilish
Fazem apenas cinco anos desde que a Billie Eilish lançou o seu debut álbum em When We All Fall Asleep, Where Do We Go?. Desde então, a cantora não apenas se provou como uma das maiores artistas da sua geração comercialmente como, também, se solidificou com uma força criativa impressionante, mudando o pensamento de muitos que não colocavam fé na sua carreira. E uma dessas pessoas era eu. Completamente convencido e impressionado com a sua carreira posso dizer que o seu terceiro álbum, Hit Me Hard and Soft, não é a exatamente a sua magnum opus, mas é o seu melhor trabalho até o momento de longe.
Tenho que admitir que por todo o buzz que vendo sedo alardeado com o lançamento do álbum fiquei levemente decepcionado depois de ouvi-lo, pois pensei que estaria diante de uma obra prima da Billie. E isso não é caso com Hit Me Hard and Soft. E isso não é nenhum problema já que ainda estou diante de um trabalho realmente inspirado e que mostra a evolução monstruosa da cantora e, claro, o seu irmão/produtor Finneas. E a principal qualidade que é mostrada devido a essa evolução é entender que menos é mais. Algo que sempre vem falando aqui no blog é o fato da quantidade de faixas que vem sendo uma tendência nos últimos tempo que se não feito corretamente se tornar fácil de desandar o resultado final, criando a sensação de se tornar arrastado e/ou entediante. Com apenas dez faixas, o álbum encontra o equilíbrio perfeito que cria uma fluidez ideal que faz quem escuta nunca perder interesse, deixando aquele gosto de quero sem também parecer um trabalho incompleto. Obviamente, Hit Me Hard and Soft não acerta devido apenas ter dez faixas, mas, sim, devido a produção entender como começar e qual momento terminar sem deixar pontas soltas na construção sonora do álbum.
É interessante notar que o álbum não apresenta nada exatamente de novo na sonoridade da Billie. O álbum ainda é uma mistura bem azeitada de alt pop, indie pop, electropop e pop com a marca distinta da produção de Finneas. Existe, sim, um verniz experimental em vários momentos que vem para adicionar substancia para o resultado final sem precisar alterar drasticamente os rumos do que já vem dado certo. Acredito que o que ouvimos aqui é a sonoridade inicial da cantora em seu estado mais maduro possível até o momento em que tudo está perfeitamente no seu lugar. Não há “gordura” sobrando em Hit Me Hard and Soft. Não há grandes abismos de qualidade entre uma faixa e outra, criando ainda mais essa sensação de coesão e fluidez. Não há momentos menores no álbum ou/e faixas fillers que poderiam ser descartadas. O amadurecimento do Finneas e, claro, da Billie é a força motriz para o álbum. E isso é sim plenamente visto nas composições do álbum.
Sobre Happier Than Ever escrevi que o mesmo era “a fase final de um coming of age em que Billie encara de frente a vida adulta sem perder, porém, certa visão de adolescente. E devido a isso é possível ver composição que transitam exatamente entre essas duas pontas ao refletir sobre as dores de ser uma pessoa adulta de um lado e ainda ter espaços para dialogar sobre os dramas da adolescência”. Em Hit Me Hard and Soft, a Billie se mostra com uma jovem adulta que ainda precisa navegar pelos resquícios de sentimentos e emoções da adolescência ao desbravar as novas barreiras de ser adulta. E isso é feito de maneira brilhante em vários momentos. As letras aqui são as mais refinadas tematicamente e emocionalmente na carreira da cantora em que a mesma discute sua vida pessoal sem soar com um exercício de auto piedade ou se fazendo de vítima. O que temos aqui são crônicas inteligente e que refletem sobre a sua relação com a fama, a sua sexualidade, seus relacionamentos e a sua relação consigo própria. Um dos melhores momentos líricos de Hit Me Hard and Soft fica por conta da canção que abre o trabalho: Skinny. Uma tocante crônica sobre as inseguranças da cantora em relação a sua aparência e como a mesma a percebida pelo público e as pessoas ao seu redor. Os versos no final do primeiro verso são ao mesmo tempo devastadores em relação a temática e, ao mesmo tempo, reconfortante em notar o estado metal da cantora sobre si mesma:
People say I look happy
Just because I got skinny
But the old me is still me and maybe the real me
And I think she's pretty
Gosto também quando a cantora é ácida nas palavras ao se vingar do ex na ótima L'Amour de ma vie, especialmente na pedrada que ela dispara ao dizer “I was the love of your life, mm/ But you were not mine (But you were not mine)”. O melhor momento, porém, de todo o álbum é a devastadora The Greatest sobre dar mais do que receber em que a cantora mostra toda a complexidade de sentimentos em uma composição até simples, mas que atinge o lugar perfeito emocionalmente. Outros momentos que precisam ser mencionados ficam por conta da deliciosa Birds of a Feather e sua batida que lembra o pop contemporâneo do final dos anos oitenta e começo dos noventa, a delicadeza complexa da temática de Wildflower, as auto referências inteligentes em Blue que fecha de maneira excitante o álbum e, por fim, gosto das camadas experimentais e inesperadas de Chihiro. Hit Me Hard and Soft é um álbum que vem para ser uma possível transição para a consagração definitiva da Billie Eilish. E se isso é uma amostra do que está por vim é possível esperar simplesmente uma obra de arte.
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