7 de novembro de 2021

Primeira Impressão

Happier Than Ever
Billie Eilish



Desde que comecei o blog vi o surgimento de alguns dos maiores nomes do atual cenário musical, mas posso afirmar que foi a Billie Eilish que teve a evolução artistas mais rápida até o momento. Saída de interessante, mas ainda irregular debut com WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO?, a jovem cantora dá um passo importante em Happier Than Ever ao mostrar um amadurecimento incrível e realmente de cair o queixo. Não ainda estamos diante de um trabalho genial, mas o caminho tomando aqui deixa claro que a Billie está indo na direção certa.

Se na resenha do seu primeiro álbum disse que um “ponto de discórdia para Billie Eilish é a sua forma de cantar. Dona de uma voz delicada e pequena, a cantora parece estar sussurrando todas as canções, deixando uma certa sensação de apatia e sonolência até quando a batida é dançante e, dentro do possível, animada” é necessário corrigir essa impressão que tinha já que a cantora não tem apenas uma voz mais interessante que o esperado como também evolui drasticamente a sua maneira de cantar. Ainda é possível ouvir os sussurros que estavam presentes nas primeiras canções, mas é fácil notar as nuances e camadas que a cantora vem agregando à sua voz devido ao seu claro amadurecimento. De quase apática em performances que pareciam que a cantora estava com medo para performances contidas, mas quase nunca sem adicionar uma emoção realmente verdadeira. E por causa disso é possível notar melhor o lindo timbre que a cantora possui de forma clara e nítida. Um dos seus melhores momentos do álbum devido a presença sensacional de Billie é a ótima my future em que “a sua performance aqui é um balsamo delicado e refrescante ao saber como expressar uma sensibilidade etérea e tocante”. Felizmente, Billie também evolui junto com o seu parceiro em crime: o seu irmão Finneas O'Connell.

Sonoramente, Happier Than Ever é um álbum que consegue ser arriscado e familiar ao mesmo tempo. A sua base é basicamente a mesma que já estamos acostumados ao ser uma mistura de indie pop, electropop, ambient pop e e alternativo. Todavia, essa noção conhecida é sacudida pela introdução de uma camada brilhantes de nuances de gêneros como, por exemplo, jazz, R&B e bossa nova. Sem exatamente chegar mais profundo na sonoridade criada por Finneas, as novas adições mostram que o produtor se mostra mais seguro para brincar com a sua criatividade sem perder o foco necessário para dar a comercialidade de Billie e ainda deixar o público na ponta da cadeira esperando algo fora do normal possa quebrar todas as expectativas. E é aqui que chegamos na faixa que dá nome ao álbum: Happier Than Ever é o tipo de canção que surge do nada para elevar qualquer material de maneira quase sem retorno. Uma pequena jornada de duas partes dividida entre o delicado de blue-eyed soul e acústico para um explosivo indie rock/pop-punk que não deveria funcionar, mas termina sendo a melhor canção da carreira da Billie até o momento em que tudo funciona maneira expendida e descomunalmente familiar. Devo dizer que, infelizmente, Happier Than Ever ainda comete alguns erros importantes. O maior dele é quantidade de faixas. Com dezesseis canções, o álbum poderia ter no máximo doze, ajudando a deixar o trabalho bem mais direto, coeso e sem faixas que parecem estar lá apenas para ocupar espaço. O que não precisa mudar, mas, sim, continuar nessa crescente é a capacidade de criar composições espetaculares.

Classifico Happier Than Ever como um álbum da fase final de um coming of age em que Billie encara de frente a vida adulta sem perder, porém, certa visão de adolescente. E devido a isso é possível ver composição que transitam exatamente entre essas duas pontas ao refletir sobre as dores de ser uma pessoa adulta de um lado e ainda ter espaços para dialogar sobre os dramas da adolescência. Por isso, a cantora continua a ser a maior e principal voz da geração millennial, conseguindo refletir perfeitamente esse período de transição para toda uma geração. Começando o álbum de maneira bastante direta, Billie relata exatamente essas na melancólica e honesta Getting Older. E, sinceramente, a cantora e o seu continuo parceiro Finneas entrega um verso que consegue exemplificar com perfeição o processo de crescer:

Things I once enjoyed
Just keep me employed now
Things I'm longing for, someday, I'll be bored of
It's so weird
That we care so much, until we don't

Nesse verso fica bem claro que Happier Than Ever mostra o quanto talentosa é a dupla, pois temos em todas as canções composições realmente espetaculares até mesmo quando a canção seja sonoramente dispensável. E quanto mais “adulto” é o tema é possível ver ainda mais a qualidade das letras. Your Power “é uma crônica forte, emocionante e crua sobre viver em um relacionamento tóxico. Transitando entre confrontar o abusador de outra pessoa e o seu próprio, Billie mostra que a sua capacidade como compositora vem crescendo a largos passos, pois a canção entrega uma letra até simples, mas extremamente eficiente do começo ao fim”. Essa característica não impede, porém, de Billie se divertir com canções mais leves como, por exemplo, a sensacional Therefore I Am que tem uma “ótima e inteligente composição que se usa de uma frase célebre (penso, logo existo do filósofo René Descartes) para construir um ótimo hino sobre levantar o dedo para os haters e não dar bola para as críticas”. Dentro do balaio de momentos de destaque de Happier Than Ever ficam a ácida I Didn't Change My NumberOxytocin e a sua batida eletrizante que flerta com o EDM, a ideia interessante de adicionar uma dose de música clássica para a construção de Goldwing, a sensível Halley's Comet e, por fim, a divertida crônica sobre a sua recente fama em NDA. Obviamente, Billie Eilish precisa amadurecer muito como artista, mas Happier Than Ever deixa bem claro que é apenas a ponta do iceberg para uma artista que está no caminho para a gloria.

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