Halsey
A cantora Halsey é o tipo de artista que parece que está a procura do seu lugar artístico com uma sinceridade que talvez não chegue ao público de maneira realmente eficiente. Depois de um legal, mas falho, Manic, a cantora entrega o surpreendente If I Can't Have Love, I Want Power. Seguindo um conceito sobre aspectos da vida da mulher como, por exemplo, gravidez e feminismo, o álbum acerta ao dar para a cantora uma bem vida película artística, mas erra ao não mostrar de maneira fluida quem é de verdade Halsey como artista.
Se o álbum anterior tinha uma coleção de nomes por trás da produção, If I Can't Have Love, I Want Power concentra todo o trabalho nas mãos de Trent Reznor e Atticus Ross. Conhecidos por serem a dupla por trás de Nine Inch Nails, os dois artistas são conceituados nomes da indústria musical que definiram toda uma geração do começo dos anos noventa. Vencedores de dois Grammys, a dupla também é conhecida pelas trilhas sonoras para cinema, inclusive vencendo dois Oscars por A Rede Social e, mais recentemente, por Soul: Uma Aventura com Alma). A parceria com a Halsey é, até o momento, o trabalho de mais de perto com uma estrela puramente pop. Em tese, essa união deveria ser uma explosão de contrastes que deveria resultar em algo no mínimo interessante. Na prática, isso acontece de maneira menos impactante que o esperado, pois parece que existe uma fricção ruidosa entre os estilos de artista e produção.
Tecnicamente, não há nada para se falar negativamente sobre If I Can't Have Love, I Want Power, pois tudo termina impecável do começo ao fim. E não há como não elogiar a estética indie rock/pop que navega por art pop, grunge e rock alternativo criada pela dupla, pois é possível claramente um trabalho artístico elevado e muito bem pensado em cada canção. Além disso, Halsey pode não ser a melhor cantora da atualidade, mas a cantora segura muito bem todo que é “jogado” para cima de si de forma louvável. Todavia, o grande problema é que não existe uma simetria entre a grandiosidade minuciosa da produção e a delicadeza sincera da cantora. Não chegando a ser algo como água e óleo, a química entre os envolvidos nunca consegue alcançar o potencial que seria necessário para fazer do trabalho algo realmente extraordinário. E existe algo que pode soar estranho, mas na minha visão faz todo o sentido: Halsey não chega a combinar com a intenção Trent e Atticus, mas também não é o total oposto que poderia gerar algo realmente explosivo. Por exemplo, a gostaria de ver a Lana Del Rey ser produzida pela dupla, pois, sinceramente, o resultado seria um total desastre devido a diferença gritante de estilos ou um verdadeiro triunfo já que o choque seria responsável pela explosão de genialidade. Isso não quer dizer que não existam momentos inspirados. Logo de cara, If I Can't Have Love, I Want Power entrega uma canção realmente inspirada com The Tradition. Uma balada indie pop/art pop encorpada que consegue casar bem todos os envolvidos, mas que tem na sua composição o seu maior trunfo.
Não irei afirmar que todas as letras no álbum conseguiram me tocar e acho que esse nem era de longe intuito da Halsey. Como uma coleção de crônicas sobre as dores de ser mulher, If I Can't Have Love, I Want Power deve encontrar o seu público nos ouvidos de mulheres que passaram exatamente por essa trajetória. Entre metáforas bem criadas e mensagens diretas como uma flecha, Halsey discute, aponta dedos, reflete, critica e desabafa sobre misoginia, patriarcado, feminismo e empoderamento. Sem medo de ser desconcertante honesta e, muitas vezes, até brutal, a cantora entrega em Whispers a sua composição mais afiada de todas ao falar sobre problemas mentais e como os mesmos afetam relacionamentos, especialmente em relação as mulheres. Em I Am Not a Woman, I'm a God, uma intensa electropop e quase genial, a cantora fala sobre a dualidade de sentir poderosa como uma mulher e, ao mesmo tempo, se sentir todo o peso das suas inseguranças. Os medos e felicidades de ser mãe é retratado na delicada e tocante Darling. Outros bons momentos ficam por conta de Lilith e a sua batida ska/indie pop, Bells in Santa Fe tem uma produção aguçada e rica que poderia ser mais aprofundada e, por fim, The Lighthouse é um bom exemplo da união que poderia ter sido se todos estivessem na mesma sintonia. If I Can't Have Love, I Want Power é um bom álbum? Sim, mas está longe de ser o espetáculo que poderia ter resultado. Isso não quer dizer que seja um momento de elevação para a carreira da Halsey, pois parece que aqui que a cantora começa a sua jornada de fato para a grandeza.
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