2 de novembro de 2021

Antes Tarde do Que Nunca

Fruto Proibido
Rita Lee & Tutti Frutti



É quase impossível ouvir alguém em sã consciência dizer que a Rita Lee não é um dos nomes mais importantes da música brasileira e a verdadeira “mãe” do do rock tupiniquim. E pensar que boa parte da sua história se deve ao fato de a cantora ter sido “convida a se retirar” dos Mutantes devido aos integrantes não acharem que a cantora iria se adaptar com a mudança para uma sonoridade mais progressiva que estava em ascensão naquela época. Como forma de resposta, a cantora resolveu se dedicar a carreira solo e lançar o seu quarto álbum com seu nome ao lado da banda Tutti Frutti. O resultado foi o marco Fruto Proibido, um dos álbuns mais importantes da história brasileira.

Logo após sair dos Mutantes, Rita recebeu o convite da Som Livre para gravar um álbum de maneira sem restrições. A cantora se juntou com a banda Tutti Frutti, que a acompanhou entre 1973 até 1978, durante messes para criar um álbum que pudesse refletir a personalidade da cantora. Lançado em Junho de 1975, Fruto Proibido é mais que apenas uma revolução/pioneiro sonoramente, mas também uma dialogo preciso e importante de Rita com os tempos em que vivia. A década de setenta foi uma época de grande rebuliço cultural, político (a Ditadura Militar), social e intelectual, criando um caleidoscópio perfeito para que uma jovem Rita pudesse expressar todos os seus pensamentos, vivencias e experiências em forma de música.

Ápice dos movimentos de direitos humanos, a década de setenta foi a responsável por popularizar o movimento feminista, mesmo que no Brasil tenha sido de forma mais discreta devido as repressões políticas. Entretanto, Fruto Proibido pode ser considerado um marco feminista, pois é possível ouvir uma mulher encontrando o seu lugar no mundo ao chutar as portas imposta pela sociedade. Não tenho ideia se essa foi a intenção de Rita, mas acredito que mergulhada naquele cenário é possível apontar que alguma noção sobre o que estava fazendo estava alinhada com a teorias feministas. E isso fica bem claro com a presença de blues rock/glam rock Luz del Fuego. Levando o nome artístico da vedete Dora Vivacqua e símbolo feminista, a canção é quase como um grito de liberdade e de autoafirmação sobre a força da mulher e a sua capacidade não importa qual o problema. E o álbum mantem essa mesma força lírica em todo o álbum, criando alguns dos momentos mais icônicos da carreira de Rita Lee.

Na lendária Ovelha Negra, Rita parece ciente do seu recente lugar no mundo que não necessariamente tinha um lugar para a jovem em busca de afirmação. A grande força da canção é sua simples, mas devastadora composição que parece reverberar em vidas de jovens com esse mesmo dilema mesmo depois de mais de quarenta e cinco anos de seu lançamento. Outro momento histórico de Fruto Proibido é a genial Esse Tal de Roque Enrow. Canção que dialoga mais diretamente sobre a geração de Rita, a canção narra o relato de uma mãe que tenta entender os novos comportamentos de filha e o novo mundo que a cerca. Além disso, a canção também estabelece a confirmação que o rock, no caso de Rita seria Roque Enrow, como a música/voz da sua geração. E o álbum estabelece também Rita como essa força da natureza de um carisma único e inigualável.

Produzido por Andy Mills, Fruto Proibido não repete os gêneros que eram ouvidos lá fora de nomes como David Bowie e os Rolling Stones, mas, felizmente, transforma essas referencias diretas em um trabalho com o DNA brasileiro e, claro, o de Rita Lee. Na rock/blues Agora só Falta Você não se mostra um cópia bem feita e, sim, uma edificação original, excitante e cheia de personalidade de uma artista tão explosiva como qualquer nome da época vindo do UK ou USA. Divertida, deliciosamente rebelde e com o dom de dar leveza para qualquer canção, Rita Lee impregna cada momento como tinta de cabelo vermelho na pia. Com eletricidade da juventude e uma coragem de quem não saber, mas está fazendo história, a cantora deixa claro quem é desde o começo apoteótico do álbum com a presença da contagiante e empoderada Dançar pra não Dançar. Outros momentos importantes ficam por conta de O Toque, a romântica Cartão Postal e, por fim, a explosiva Pirataria. Sempre irreverente, mas com um senso de lucidez quase desconcertante, Rita Lee não é apenas uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos, mas é uma instituição que se mantem relevante até os dias de hoje e que precisa ser celebrada, festejada e ovacionada todos os momentos possíveis. Vida longa Rita Lee!

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