Wolf Alice
Pastiche é definida “como obra literária ou artística em que se imita abertamente o estilo de outros escritores, pintores, músicos etc. Não tem, contudo, função de satirizar, criticar a obra de origem, diferindo, assim, da paródia”. Normalmente é ligada a um resultado ruim, mas isso nem sempre é o caso quando existe uma clara intenção de criar algo que seja uma pastiche de boas intenções. Esse parece ser o caso do interessante Blue Weekend da banda britânica Wolf Alice.
Tente imaginar uma trilha sonora de uma série sobre adolescentes que abordam assuntos considerados adultos nos anos noventa, pois essa é melhor definição que se pode dar para toda a sonoridade indie rock/pop construída em Blue Weekend. Todavia, a impressão é que a trilha não foi feita apenas por uma banda apenas, mas, sim, uma coletânea que reúne todas as tendências possíveis em apenas um álbum contendo artistas conhecidos, one hit wonders e aqueles que completamente desconhecidos do grande público até os dias de hoje. Esse é basicamente a vibe da Markus Dravs (Björk, Florence + the Machine, Arcade Fire, entre outros) dá para essa jukebox dos maiores sucessos indie dos noventa. Obviamente, o álbum exala uma fragrância pesada de ser realmente uma pastiche no melhor estilo cópia e cola, mas, felizmente, tudo é abafado pela excepcional presença artistas de todos os envolvidos.
É necessário dizer que o álbum não deve agradar aqueles mais puritanos de ideias novas que preferem ouvir influencias e, não, “imitações”, mas isso não é empecilho para aqueles que conseguem ver a beleza na replica bem feita. O problema real em Blue Weekend é que nem sempre a produção acerta na recriação/homenagem, deixando vácuos em vários momentos do álbum que cria tropeços leves, mas que realmente são sentidos no final das contas. Entretanto, quando tudo parece caminhar perfeitamente de mãos dadas, Wolf Alice entrega algumas pérolas como é o caso da magistral The Last Man on Earth “uma complexa e densa atmosfera que começa delicada e melancólica a base de piano para se transformando aos poucos em uma poderosa e acachapante explosão controlada que consegue derrubar até os mais fortes emocionalmente. Boa parte desse efeito é devido ao excelente trabalho de instrumentalização que em nenhum momento deixa a canção cair em clichês, mas, sim, cria um arranjo enredado, maduro e se uma segurança melódica impressionante”. Apesar de sempre terem essa qualidade instrumental, Blue Weekend não teria tanta força sem a presença camaleônica da vocalista Ellie Rowsell.
Se todo a estética do álbum quer tentar soar como um álbum dos anos noventa, Ellie consegue realmente ter a mesma presença e carisma que os principais nomes da década ao entregar performances realmente surpreendentes. Em Lipstick on the Glass, a vocalista parece encarnar na energia de “girl next door” de nomes como Tori Amos e Fiona Apple em uma performance avassaladoramente delicada e sombria. E essa percepção de versatilidade gigantesca é aumentada devido ao fato da canção ser sucessora da crua e ácida Delicious Things em que Ellie embarga em uma performance cheia de atitude e um toque de aspereza vinda direta de Courtney Love. Outros momentos que merece ser destacados de Blue Weekend são a punk/pop Smile, a dream pop/ indie How Can I Make It OK? e, por fim, a emocional No Hard Feelings. Pastiche, nostálgico, homenagem ou influenciado. Podem chamar como quiser Blue Weekend, mas não digam que o Wolf Alice entregou um álbum já que isso seria uma imensa mentira.
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