7 de novembro de 2021

Primeira Impressão

Un Canto por México, Vol. II
Natalia Lafourcade



Ouvir Un Canto por México, Vol. II, álbum da mexicana Natalia Lafourcade, é como embargar em uma viagem pelas raízes da música mexicana sem precisar sair de casa. Em cerca de uma hora, a cantora realiza uma carta de amor pungente, tocante e que equilibra perfeitamente o tradicional e o moderno para mostrar o que o verdadeiro amor pela pátria significa de verdade. E é por isso e outros fatores que o trabalho se torna um dos melhores momentos de 2021.

Entregando uma coleção de canções que se alternam entre a regravação cuidadosa e respeitosa e a criação que recria com amor a estética tradicional. Escutar Un Canto por México, Vol. II é o tipo de álbum que não está na busca de nada exatamente novo na sua construção, mas, sim, na exaltação de uma sonoridade que fez parte da construção de vida pessoal e artística de Natalia. E isso fica bem claro logo na magistral faixa de abertura: a extraordinária regravação da canção tradicional La Llorona. Em uma versão acústica de quase sete e minutos e meio, a canção ganha uma instrumentalização meticulosamente delicada que não desperdiça nenhum segundo, criando uma peça de uma beleza quase intocável que faz emocionar de forma genuína logo nos primeiros momentos de sua duração. Após essa impressionante recriação, Natalia se une com o cantor Pepe Aguilar para dar vida para Cien Años. Escrita nos anos cinquenta, mas eternizada pela Selena nos anos noventa, a canção é uma canção romântica tipicamente mexicana que é refeita de maneira tocante e reconfortante que conquista por essa reverencia. E assim como várias outras canções de Un Canto por México, Vol. II, Natalia divide os holofotes com vários nomes veteranos e novatos que se mostra decisões realmente acertada.

Enquanto muitos artistas erram nas escolhas de seus convidados especiais, Natalia escolhe de forma cuidadosa cada nome que compõe as participações no álbum. Para nós brasileiros, o nome de maior destaque é o de Caetano Veloso que empresta a sua magnifica voz para ao lado de Natalia embalar a sensual e tocante balada Soy lo Prohibido. Recordando as raízes mexicanas, a cantora divide a Luz de Luna com a cantora Aida Cuevas conhecida como a Rainha da Música Rancheira. E obviamente não é apenas dos grandes nomes que o álbum ganha força, pois a cantora chama nomes contemporâneos para eternizar canções tradicionais. La Llorona ganha uma versão de estúdio com a presença Silvana Estrada e Ely Guerra. E com o também mexicano Carlos Rivera, Natalia cria uma nova versão para Recuérdame do filme Viva: A Vida É uma Festa. Vencedora do Oscar, a canção já tinha sido gravada por Natalia ao lado do cantor Miguel, mas aqui ganha uma nova força por resgatar ainda mais a alma mexicana. Apesar de toda a qualidade sonora e de participações incríveis, Natalia Lafourcade brilha de maneira magistral.

Dona de uma voz doce e extremamente melódica, Natalia consegue ir da melancólica sentimental até a delicada euforia sem radiando uma elegância e emoção pura. E isso é usado a toda a sua gloria em Un Canto por México, Vol. II. Especialmente é possível ouvir a sua imensa versatilidade em canções como Alma Mía / Tú Me Acostumbraste / Soledad y El Mar. Faixa original coescrita pela cantora, a canção é um pequeno e pungente mergulho nas influências em que a cantora transita de maneira orgânica entre as nuances do cancioneiro mexicano de maneira excepcional. A cantora repete o feito em La Trenza / Amor Completo ao lado da também cantora Mon Laferte, mesmo que a segunda parte não esteja a altura do sensacional começo. E, por fim, a cantora entrega em Tú Sí Sabes Quererme com a presença de Rubén Blades e da ótima Mare Advertencia Lirika um dos momentos mais ousados do álbum. Natalia Lafourcade entrega em Un Canto por México, Vol. II uma impecável carta de amor para a musica que a fez ser a maravilhosa artista que se tornou.

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