28 de julho de 2019

Primeira Impressão

WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO?
Billie Eilish


A melhor coisa que poderia ter acontecido com a resenha do álbum debut da Billie Eilish foi ter atrasada. Devido ao trabalho estou sem muito tempo para postar aqui no blog e, por isso, a minha opinião do álbum WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? está saindo apenas três messes do seu lançamento oficial. Felizmente, isso ajudou a "limpar" a minha mente de todo o burburinho inicial já que o álbum foi recebido com grandes elogios por parte do público e critica e, com a mesma intensidade, com grande criticas por muitos do público e alguns da crítica. Todo esse falatório e uma percepção anterior da jovem cantora poderiam influenciar fortemente a minha resenha. Entretanto, o tempo é algo que ajuda a gente limpar as ideias e ter uma percepção mais clara sobre a verdadeira situação das coisas. Então, depois de ouvir o álbum mais parcialmente possível chego a conclusão que WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? não é o melhor álbum do ano e está longe de ser a salvação/revolução do pop. Ao mesmo tempo, porém, o trabalho de Billie é um sopro de criatividade no atual cenário com algumas pérolas genuínas e, o mais importe, é um dos primeiros trabalhos verdadeiramente feito por uma artista da geração millennial para os seus contemporâneos. 

Depois de ler essa última frase, vocês podem perguntar: se a Billie Eilish é a primeira voz da geração millennial, o que faz da Lorde? Então, realmente pensei nessa pergunta, mas, ao analisar um pouco mais profundo a questão, consegui perceber que a Lorde fica exatamente no limite de gerações com os seus vinte e dois anos. Com cinco anos a menos, Billie Eilish está completamente inserida dentro da geração millennial e, obviamente, apresenta uma visão mais 360° em relação ao que esse público pensa. Além disso, a Lorde apresenta influências bem mais "old school" como, por exemplo, David Bowie e Billie Holliday. E outro importa para constatar Billie como essa primeira voz: o seu produtor. Com apenas 21 anos, FINNEAS tem como principal crédito a produção e composição do álbum da cantora. Se a Lorde tinha nomes experientes e mais velhos como produtores em seus dois álbuns, Billie tem na figura de um tão inexperiente como ela produtor para construir a sua sonoridade. E, provavelmente, é por isso que a cantora consegue encontrar tão facilmente e claramente a sua voz, pois WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? é, antes de qualquer coisa, um álbum íntimo e pessoal.

Ao contrário do que pode parecer devido a sua idade e quem a mesma representa, Billie tem muito o que dizer e, principalmente, sabe muito bem como se expressar. É necessário dizer que, assim como qualquer voz da geração em qualquer época, a cantora não está exatamente inventando nada de novo para falar, pois as letras no álbum são sobre os mesmo velhos assuntos: amores, desilusões e todos os anseios de ser jovem perante um mundo que parece não entende-los. Eu, vocês , seus pais, seus avós e todos que vieram antes deles provavelmente tiveram os mesmo questionamentos. E, queridos leitores, esse é o verdadeiro ciclo da vida. O que a cantora traz de novo para geração millennial é doses pesadas de ansiedade causada pelas novas formas de se relacionar devido a evolução tecnológica, pitadas fortes de um cinismo perante ao futuro e uma sensação de imediatismo sobre poder sentir todo ao mesmo tempo e no mesmo momento. Claro, sentimentos que já foram parte de qualquer nova geração, mas que aqui ganham o centro do palco e de uma forma que parece conseguir conectar com esses jovens. Obviamente, a primeira maneira que a cantora e seu parceiro FINNEAS alcança o público é o fato dos dois serem parte do público para quem estão destinado basicamente as suas canções. Esse "falar" no mesmo nível é fundamental para que os dois tenham a capacidade de se comunicarem. A segunda maneira é algo que, contrariamente ao esperado, revela maturidade artística de Billie.

Tecnicamente, as composições em WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? são de uma qualidade refinada, bem pensada e madura. Billie e FINNEAS tem uma tino para elaborar letras que conseguem mostrar inteligência ao não buscarem saídas fáceis, cheias de nuances, citações pop e com força suficiente para ter personalidade sem perde o rumo "pop". Sem tirar de foco o público destinatário e, principalmente, deixar claro que estamos ouvindo crônicas de uma jovem artista sobre as suas próprias experiências, o álbum é um dos trabalhos mais fluidos liricamente dentro do mainstream até o momento. Não é uma revolução por completo, pois Billie tem um estilo que parece muito especifico e não muito imitável, mas é um momento importante para a cultura pop a partir de agora. Um dos catalisadores é o single bad guy deixa bem nítido toda a personalidade artística da cantora ao ser uma cínica, sarcástica e divertida crônica sobre um relacionamento complicado em que os dois não são exatamente flor que cheire. E a canção também mostra a outra característica importante da cantora: a sua estranha e "questionável" sonoridade. 

Billie Eilish é pop? Sim, mas é um tipo de pop pela sua visão e, como já dito anteriormente, a visão passa pelo entendimento do que é pela geração millennial. Então, WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? se transforma em uma espécie de mistura de electropop com influências diversas que vai do art pop e o indie pop até mesmo ao emo e o jazz. O grande ponto questionável não é exatamente a mistura e, sim, como essa mistura é entendida pela produção. Trabalhando em todas as canções em tons baixos, ressaltando ao máximo sintetizadores, tambores, baterias e 808's de forma a criar batida gravíssimas. Obviamente, não é a primeira vez que um artista caminha nesse território para fazer pop, mas dentro do mainstream é uma das primeiras vezes que esse tipo de batidas chegam aos topos das paradas. E esse tipo de batida causa bastante estranhamento perante parte do público e, sinceramente, entendo perfeitamente. Não é uma batida de fácil assimilação, não criar rapidamente aquela empatia e, várias vezes, causa certo desconforto fisicamente aos ouvidos. Entretanto, o resultado final no álbum consegue ser melhor digerido quando quem escuta consegue entender o que está envolta na criação do álbum e, principalmente, consegue perceber as influências que ajudam a entender a sonoridade. Curiosamente, apesar de não parecer uma cantora com canções que iram fazer o público dançar, Billie consegue se sair melhor sonoramente em faixas animadas do que em canções mais lentas como a mesma parecia ser o seu nicho nos primeiros lançamentos. Além da já citada bad guy, outros momentos interessantes ficam por conta de all the good girls go to hell e a divertidíssima my strange addiction que usa diálogos do seriado The Office. Entretanto, a melhor faixa de WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? é a sensacional bury a friend que parece uma versão pop/light de uma das faixas de Yeezus do Kanye West. Outro ponto de discórdia para Billie Eilish é a sua forma de cantar. dona de uma voz delicada e pequena, a cantora parece estar sussurrando todas as canções, deixando uma certa certa sensação de apatia e sonolência até quando a batida é dançante e, dentro do possível, animada. Gostar ou não da voz da cantora é algo bem pessoal, mas, apesar de não ser um grande fã, consegui encontrar uma cantora com um timbre interessante quando não está envolto em uma produção que prefere explorar a batida como mostra o single when the party's over e, principalmente, a linda listen before i go. Saber se será a voz da Billie Eilish transformada em uma das que irá entrar para a história como sendo a da geração millennial ainda é bem cedo para afirma, mas, por enquanto, a cantora está fazendo um surpreendente bom trabalho.


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