Marina Sena
Ao resenhar Vício Inerente, afirmei que “apesar de uma boa produção e da presença magnética da jovem, o trabalho funciona mais no campo das ideias do que na prática”. Em Coisas Naturais, Marina Sena começa a transformar essas ideias em realidade, entregando um projeto que não chega a ser extraordinário, mas é tão agradável quanto umas férias em uma ilha paradisíaca.
Essa analogia é perfeita para ilustrar o álbum, que nos convida a passar um tempo na ilha de Marina, embora ainda não seja um lugar para viver para sempre. Pelo menos, ainda não. O disco deixa claro que a artista tem potencial para criar um espaço permanente em nossas memórias. Leve, envolvente, sensual, maduro e com profundidade, Coisas Naturais mantém a estética característica da cantora, apresentando uma rica mistura de MPB com doses generosas de latin pop, alt pop, pop rock, R&B, funk, reggaeton e outros estilos. Desta vez, no entanto, a sensação de faixas feitas apenas para viralizar é reduzida significativamente. Mais importante, as ideias foram melhor aproveitadas, graças a uma dose extra de ousadia na produção.
A troca de produtores foi crucial. Marina trabalhou principalmente com Janluska e Gabriel Duarte, substituindo o comando exclusivo de Iuri Rio Branco, que esteve à frente dos dois álbuns anteriores. Essa mudança foi decisiva para o sucesso do trabalho, permitindo que as pontas soltas fossem ajustadas e as peculiaridades da artista fossem refinadas de maneira elegante e precisa. Não estamos diante de uma obra-prima, mas a evolução sonora é evidente, assim como o fato de que, vocalmente, Marina está em sua melhor forma.
Quem não gosta da voz da cantora provavelmente não mudará de opinião com as performances em Coisas Naturais. Porém, aqueles que reconhecem talento em seu timbre peculiar notarão que, neste álbum, ela encontrou o equilíbrio ideal para maximizar suas qualidades únicas, suavizando as imperfeições sem perder a autenticidade. O ponto alto desse equilíbrio pode ser encontrado na deliciosa Numa Ilha, descrita como “uma fusão sensual, envolvente e madura de ritmos latinos com pop/R&B, resultando em algo original e naturalmente empolgante. (...) O grande destaque, no entanto, é a performance contida, sexy e encantadora de Marina. Dona de um timbre singular — que provoca amor ou rejeição —, a cantora encontrou o tom perfeito para exibir sua voz sem exageros, mas com uma sensualidade marcante”.
Ainda tenho certa “resistência” com algumas das composições de Marina, pois sinto que falta uma maior profundidade temática para me envolver completamente em suas crônicas sobre o amor. Porém, aqui já é possível perceber um apuro estético mais sofisticado, que reflete o verdadeiro espírito do pop brasileiro. Um exemplo disso é a irresistível Coisas Naturais, que abre o álbum com um refrão simples, direto e altamente eficiente. Outros momentos marcantes incluem a inspiração reggae na delicada Combo da Sorte, a batida nostálgica e cativante de Sem Lei, a sensualidade envolvente de Lua Cheia e, finalmente, a mistura latina de TOKITÔ, com a participação das artistas Gaia e Nenny. Coisas Naturais representa, portanto, o passo mais seguro e inspirado na trajetória de Marina Sena até agora.


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