Lady Sings the Blues
Rebecca Ferguson
Fazer um álbum de regravações de grandes clássicos do cancioneiro americano pode ser um triunfo, um desastre ou mais do mesmo. Cair na imitação barata está bem do limite da homenagem respeitosa. Tony Bennett é o rei do pedaço nesse quesito faz décadas e continuou o seu reinado ao lado da Lady GaGa no ano passado com o lançamento do ótimo Cheek to Cheek. Apesar de ser dominado por poucos, esse nicho guarda boas surpresas para um artista "novato" com talento.
Rebecca Ferguson sempre foi reconhecida pela sua voz "soulful" e "old school" que lembra grandes nomes da música negra americana desde o tempo que participou do The X Factor UK. Com dois ótimos álbuns lançados de músicas inéditas, Rebecca lança o seu terceiro trabalho com a dificílima "missão" de emoldurar uma das maiores artistas da história: Billie Holiday. Lady Sings the Blues conta com uma coleção de regravações de clássicos do jazz e do blues que são de autoria de Billie ou que a cantora apenas gravou. Em especial, o álbum conta com músicas do álbum do mesmo nome de Billie lançado em 1956, o maior clássico da cantora. Lady Sings the Blues de Rebecca poderia ser um imenso desastre por tentar voar tão alto, mas, felizmente, o resultado é bem acima da média.
Lady Sings the Blues se beneficia do que a própria Rebecca tem de melhor: a sua voz. Em meio a tanta produção vocal excedendo os limites do uso dos corretores vocais, ouvir a graciosa, rica e deliciosamente soul. Ouvir Rebecca em Lady Sings the Blues em performances encantadoras é como tomar um denso, doce e acolhedor chocolate quente em dia de inverso intenso. É como ser abraçado pelo brilho do quente Sol depois de semanas de chuva impiedosa. É como assistir o mais belo crepúsculo depois do pior dia da sua vida e saber que ainda há esperança mesmo que misturada com a melancolia. Não, Rebecca não tem a mesma magistralidade de Billie ou de uma de suas contemporâneas como Nina Simone e Ella Fitzgerald, mas ela é o que mais se aproxima dessas deusas da música mesmo com suas limitações como, por exemplo, ter nascido muito depois delas. Mesmo emoldurando as grandes, Rebecca também consegue colocar sua personalidade, além de exalar a mais pura emoção em todas as faixas. Apesar de cautelosa demais nas escolhas do repertório (Strange Fruit, a mais emblemática canção da carreira de Billie, foi deixada de lado), Lady Sings the Blues acerta na escolha dos grandes hinos como também naquelas menos conhecidas fazendo o álbum um produtor coeso e que flui muito bem. A boa e segura produção de Troy Miller garante a qualidade dos arranjos sem precisar inovar, mas fazendo justiça em cada faixa. Os melhores momentos ficam por conta da performance avassaladora de Rebecca em Summertime e emocionante e delicada em Don't Explain. Outros ótimos momentos ficam por conta de I'll Never Smile Again, Lover Man (Oh Where Can You Be), God Bless the Child e Lady Sings the Blues. Infelizmente, Rebecca não terá o reconhecimento que merece por esse trabalho impecável. Mesmo assim, é admirável que ainda existam artistas que sabem entregar boa música sendo nova ou das "antigas".
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