7 de outubro de 2015

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

Four Pink Walls
Alessia Cara


Sempre quando eu escrevo "original" para algum artista sempre fico pensando que, talvez, vocês não entendam o meu conceito de originalidade. Vamos a explicação: após o fim da modernidade e começo da pós-modernidade por volta da década de cinquenta/sessenta nada mais de novo surgiu nas artes como um todo, isto é, desde essas décadas tudo o que se faz em relação a arte é apenas a "reconstrução" do que já foi feito. Por isso, quando coloco "original" para classificar alguma música quero dizer, na verdade, que o artista em questão conseguiu reconstruir tão bem as influências musicais que o constituem que o trabalho feito soa como algo inovador e, não, novo de verdade. Dito isso, vamos a resenha do post.

Descoberta através do YouTube, a jovem canadense Alessia Cara está sendo trabalhada como uma resposta ocidental ao sucesso da neozelandesa Lorde. Todavia, apesar das aparências superficiais com a cantora de Royals, Cara tem mais a oferecer quando se olha de mais perto. Isso é o que prova o EP Four Pink Walls lançado recentemente. 

Todavia, para poder notar as camadas que compõem a novata é necessário pular a música que abre o EP: Seventeen é praticamente um "ctrl c + ctrl v" da sonoridade da Lorde, em especial da canção Team. As canções têm a mesma cadência com uma batida rápida e demarcada como base, a mesma dinâmica e até mesmo a atmosfera lírica ao mostrarem uma perspectiva de pessimista sobre o futuro. Não é um trabalho ruim, mas a canção não demonstra nada de original deixando a cantora como apenas uma versão menos inspirada da Lorde. Então, quando se pensa que as outras músicas serão no mesmo estilo, tudo mundo com a presença do atual single da Alessia: Here mostra que realmente que a cantora é uma reposta a altura a cantora neozelandesa, pois, além de podermos ouvir a reconstrução das influências da cantora na canção, tudo ganha uma nova perspectiva quando a produção (da dupla Pop & Oak) se distância da sonoridade básica da Lorde. Indo da tentativa de captar e repetir o pop indie/rock/eletrônico de Pure Heroine, Here é um R&B/pop que tem como influência em nomes como TLC, Alicia Keys e Mary J. Blige misturando com soul old school que fica claro com a presença do sample de Ike's Rap II de Isaac Hayes, Flertando com o blues em vários momentos, Here não tem na sua sonoridade o seu grande trunfo, mas na qualidade da sua composição: longe de qualquer estereótipo, Alessia narra de maneira inteligente, ácida e sincera o seu deslocamento em relação ao mundo ao querer ficar sozinha em uma festa com "gente estranha" e "música alta". Dessa maneira, Here soa como uma verdadeira obra original dentro do contexto atual da música e do próprio começo da carreira da jovem encontrando um paralelo feliz com as características da Lorde sem ser uma cópia. Felizmente, o EP continua na mesma toada mesmo com uma pequena queda de qualidade.

Outlaws tem a finalização mais tradicional do trabalho com uma deliciosa produção misturando doo wop e as baladas da Motown. Com uma voz limitada, Alessia Cara encontra no seu timbre fofo e uma personalidade "awkward"/carismática o tom perfeito para carregar as suas canções de maneira muito eficiente. Isso está bem presente na R&B/dance pop I'm Yours que a cantora levanta a derradeira bandeira do "anti-pop" com uma graça que é o contraponto em relação a sua companheira do outro lado do planeta Terra. O EP termina com canção que dá nome ao EP: Four Pink Walls é um contagiante, mas inofensivo R&B dançante que fecha para cima o trabalho. Se Alessia Cara continuar no seu álbum debut nesse caminho "original" que ela está, a cantora tem tudo para crescer e encontrar o seu lugar ao sol.
notas
Seventeen: 6
Here: 8
Outlaws: 7,5
I'm Yours: 7,5
Four Pink Walls: 7
Média Geral: 7,2

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