A Moon Shaped Pool
Radiohead
Não seria correto começar essa resenha sobre o novo álbum da banda Radiohead com a mesma estrutura que normalmente faço para essas postagens: revisitar os antecedentes do artista para dar uma visão geral sobre como o álbum se encaixa na trajetória do mesmo. Apesar de toda a sua importância para a música, especialmente para o rock moderno, eu não tenho nenhum conhecimento de verdade sobre a sonoridade e a carreira da banda. O máximo que conheço de fato é de ter ouvido Creep e Fake Plastic Trees, em especial o clipe devido a sua popularidade nos áureos tempos da MTV Brasil. E, infelizmente, nada mais conheço sobre o Radiohead. Então, como devo fazer a resenha de A Moon Shaped Pool, álbum que está sendo considerado um dos melhores deles e, segundo algumas fontes, pode ser o último deles?
Analisar A Moon Shaped Pool se tornou uma para mim uma experiência nova e inesquecível assim como deve ser ver uma pintura surreal pela primeira vez. Pensando dessa maneira, avaliar o álbum segue as mesmas sensações de observar a pintura Guernica do pintor Pablo Picasso que mostra os horrores da Primeira Guerra Mundial: a sensação de grandiosidade e perplexidade é completamente avassaladora, mesmo não conseguindo compreender toda a sua complexidade. Começa pela monstruosa sensação de amplidão e solidão que a sonoridade de
A Moon Shaped Pool expressa em apenas onze faixas através da sua grandiosa sonoridade e instrumentalização. Entretanto, essa sensação tão poderosa não é conseguida ao utilizar previsíveis construções cheias de pompa e circunstância, mas, na verdade, criando uma atmosfera que transita na tênue entre o minimalista e o complexo. É tão intrigado explicar a sonoridade de A Moon Shaped Pool que é mais fácil explicar que ao ouvir é como sentir todo o peso do silêncio que nos cerca e, ao mesmo tempo, tocar todos os sons do mundo. É extremamente intricado, multifacetado, dinâmico, rico, avassalador, ousado, genial e, principalmente, transcendente de qualquer álbum de rock dos últimos tempos. Definir o gênero aqui como art rock com elementos de eletrônico é limitar magnitude e nobreza do trabalho do Radiohead. Um ótimo exemplo disso é a faixa Daydreaming: uma viagem quase espacial em um caleidoscópio de sons inigualável. A canção também tem uma composição de quebrar qualquer coração sobre aqueles que ainda acreditam no amor sem precisar de muitas palavras para tal feito. Sempre contido em suas letras, o
Radiohead entrega uma coleção de faixas sobre amor, perdão e remorso de uma sinceridade crua e nua, mas com um senso estético tão estranho como único. O seu único problema é que as composições parecem funcionar com toda a sua carga em pelo vapor da metade para frente quando surge a trinca genial de Glass Eyes, Identikit e
The Numbers. Com a sua voz completamente distinta e performances que apenas ele poderia render, Thom Yorke continua sendo a alma da banda e, por consequência, o que dá a vida para
A Moon Shaped Pool. A Moon Shaped Pool é como obra de arte de alguma das vanguardas modernas: não é raro não conseguir compreender plenamente, mas o que mais importa é o turbilhão de sentimentos que a mesma causa em nosso interior.
Um comentário:
Suas resenhas são fantásticas !
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