Esperanza Spalding
Apesar de uma carreira relativamente longa com cinco álbuns no currículo, Esperanza Spalding ainda é uma desconhecida para uma parte do grande público. Não uma desconhecida totalmente, pois a cantora ainda pode ser lembrada por ter vencido o Grammy de New Artist na premiação de 2011, fazendo dela a primeira artista de jazz a realizar tal feito. Todavia, o fato mais marcante é que ela venceu sobre um então jovenzinho Justin Bieber, gerando uma onda de "protestos" das suas fãs que alteraram a página dela no Wikipédia com comentários racistas. Depois de cinco anos do ocorrido e mais três vitórias no Grammy, Esperanza lança o seu quinto álbum e prova que a sua premiação foi realmente para a pessoa certa.
Emily's D+Evolution, porém, não é exatamente o álbum tradicional de uma artista de jazz que se pode esperar. A primeira coisa que é necessária saber sobre o trabalho é que quem assina a sua co-produção é nada mais que o lendário produtor Tony Visconti, o homem que ajudou a construir quase toda a carreira de David Bowie. Então, imagine que o álbum irá ser qualquer coisa, menos tradicional. Além disso, Esperanza Spalding é uma artista singular: baixista e violoncelista que tem como grandes influências nomes como, por exemplo, Madonna, Joni Mitchell e Milton Nascimento, além de citar a música brasileira como fonte de inspiração. Essa mistura inusitada ajuda a transformar Emily's D+Evolution em uma obra inacreditavelmente moderna, ousada, poderosa e carismática.
Ao lado de Tony, a artista construí uma viagem sinuosa em uma fusão de jazz, jazz contemporâneo, R&B contemporâneo, art rock e funk salpicados por toques de bossa nova, rock e jazz improvisation. Nas mãos de outros menos talentosos essa combinação de tantos elementos poderia acabar em uma colisão de sons de proporções épicas. Não em Emily's D+Evolution: toda a estranheza é refinada por uma delicadeza tocante, toda escolha sonora é feita de maneira graciosa e cada nuance é adicionada como se fosse mel para adoçar o mais amargo dos cafés. A jornada que a artista nos leva poderia ser acidentada e cheios de buracos, mas a sua destreza em navegar por tantos terrenos acidentados é o grande trunfo para a experiência magnifica que é ouvir as doze faixas do álbum. Outro grande trunfo é a qualidade técnica das instrumentalizações feitas para as músicas, não apenas devido ao talento da artista em tocar vários instrumentos para o álbum, mas, também, a excelente a banda que a cerca. Apesar disso, Emily's D+Evolution não é exatamente uma passeio no parque e não deve ser apreciado por muitos devido a sua ousada sonoridade e complicadas composições. Escrevendo quase sozinha quase todas as letras do álbum, Esperanza é uma compositora virtuosa que parece primar pela inteligência e construção poética dos seus trabalhos. Mesmo com uma qualidade indiscutível, mas que tem um nível de dificuldade de compreensão bastante alto. Isso dificulta uma maior empatia pelas canções de primeira vez, levando algum tempo para isso acontecer. Entretanto, não há como não se apaixonar pela doce voz de Esperanza e as suas inspiradas performances durante todo o álbum que mostram uma versatilidade gigantesca, mostrando influências de cantores de jazz, R&B, bossa nova e até mesmo de musicais da Broadway. Emily's D+Evolution é trabalho memorável por inteiro, mas que tem em algumas faixas momentos geniais: Unconditional Love, Judas, Earth to Heaven e Ebony and Ivy. Em um ano tão interessante como o de 2016 no mundo da música, "descobrir" Esperanza Spalding é um dos momentos mais surpreendentes e gratificantes até agora. O que esperar para o segundo semestre?
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