Primeira Impressão

Golden
Kylie Minogue

Kylie Minogue é uma das maiores artistas pop de todos os tempos. Isso é um fato e não tem como negar, mas o que impressiona é o fato da australiana nunca ter precisado fazer sucesso continuo nos Estados Unidos durante os trinta anos de carreira, concentrando o seu poder de estrela no mercado britânico e parte da Europa e, claro, na sua terra natal. Consagrada, dona da sua carreira e madura artisticamente, Kylie chega ao seu décimo quarto álbum sem medo de não agradar a gregos e troianos ao decidir fazer de Golden uma aventura no country pop. O resultado pode não ser algo para entrar na lista de melhores da sua carreira, mas é um simpático e bem feito álbum despretensioso.

Sempre mostrando vontade de se reinventar, Kylie Minogue foi buscar inspiração na meca no country nos Estados Unidos, a cidade de Nashville. Dessa nova direção surge um correto, divertido e bem intencionado álbum de country pop que incorpora o lado dance pop da cantora sem maiores arrombos de criatividade. Com uma produção tecnicamente perfeita, Golden não consegue se aprofundar nesse experimento de Kylie, resultando em uma sonoridade quase superficial demais. Faltou ousadia verdadeira para a produção dar para as faixas algo que fosse substancial suficiente para o trabalho não soar como sendo uma tentativa estereotipada de uma estrangeira de recriar um gênero tipicamente estadunidense. Repito: o resulto final não é ruim, mas é morno e sem a força necessária para criar algo acima do lugar comum. O que ajuda a dar um verniz melhor acabado em Golden é a presença sempre cativante de Kylie, soando tão jovial e animada como se esse fosse o seu primeiro álbum.

Escrevendo todas as canções pela primeira vez desde 1997 com o álbum Impossible Princess, a cantora entrega um dos seus trabalhos mais pessoas e íntimos da carreira. Falando de forma sincera e elegante de assuntos como a brevidade da vida, corações quebrados, novas chances para o amor, auto-descobrimento e simplesmente curtir a vida, Golden tem boas letras com refrões grudentos e radiofônicos, lembrando o potencial da cantora como a diva pop que é. As letras, porém, não são trabalhos revolucionários e, em alguns momentos, soam rasos e quase clichês. Nada que as performances luminosas e seguras de Kylie. 

Ao não ser dona de uma voz potente, a cantora encontrou o seu lugar certo ao saber como usar o seu timbre característico para o seu próprio beneficio, esbanjando simpatia e boa técnica. É a presença vocal da cantora que dá a liga necessária aqui, colando o maior número de pontas soltas possíveis e dando vida para cada uma das canções seja dançantes ou lentas. O melhor momento de Golden é a bonita balada Music's Too Sad Without You com o Jack Savoretti, sendo a faixa que melhor imerge a cantora no mundo country. Menos inspiradas ainda tempos o bom single Dancing, a divertida Low Blow, a menos country e mais pop Raining Glitter, as baladinhas Sincerely Yours e Shelby 68 e as fofas e dançantes A Lifetime To Repair e Radio On. Golden não é um pote de ouro, mas é bom ver a Kylie Minogue arriscar nessa altura da sua carreira e, felizmente, ainda mostrando talento.