13 de abril de 2018

Primeira Impressão

Golden Hour
Kacey Musgraves


Vivemos em uma época tão tensa e complexa que na maior parte do tempo esquecemos que a vida pode guardar pequenos e importantes prazeres. Olhar as borboletas em um jardim florido. Contemplar o azul do céu em um dia ensolarado. Ouvir a risada despretensiosa de uma criança brincando com um cachorro. Pequenas coisas que nos ajudam a tentar entender a grandeza que é a vida e, também, nos fazem apreciar esse dom. Assim como uma aurato vindo de algum lugar divino, a cantora Kacey Musgraves lança Golden Hour para nos ajudar a lembrar dessas pequenas coisas, resultando surpreendentemente no melhor álbum de 2018 até o momento. 

Depois de despontar no cenário country em 2013 com o aclamado álbum Same Trailer Different Park ao ser uma dos melhores nomes recentes surgido do gênero, Kacey Musgraves consolidou o seu lugar ao sol com o também ótimo Pageant Material e expondo cada vez mais o seu estilo irreverente, progressista, moderno e de uma qualidade inquestionável. O seu terceiro álbum, porém, é a a sua consagração definitiva como a melhor cantora country surgida na última década. Na verdade, Golden Hour coloca a cantora como uma das melhores artistas da atualidade e ponto. Para tanto, Kacey Musgraves só precisou falar sobre o lado bom da vida.

Ouvir Golden Hour é como colocar uma espreguiçadeira no meio de um jardim imenso em um dia ameno de primavera. Completamente florido, cheios de sons de batidas de asas de borboletas e beija-flores e com um aroma irresistível de terra molhada, a gente fica inebriado e entra em um quase estado de transe com uma serenidade que quase chega ao nirvana. A paz e a placidez que nos invade é algo que é lindamente transmitida em Golden Hour. Kacey resolveu que deveria pintar a vida com cores vivas, luminosas e sempre alegres ao contar sobre a como o mundo pode ser bonito. Sobre a alegria de se aceitar. Sobre se apaixonar à primeira vista. Sobre ver o lado bom das coisas. Sobre amar e até mesmo sobre terminar uma relação. Tudo isso é motivo para a cantora mostra que existe beleza. Otimismo em excesso pode em alguns casos ser tão irritante como o pessimismo exagerado. Todavia, Kacey Musgraves tem o talento saber escrever pequenas poesias, sabendo utilizar belas imagens, construções perfeitas e de uma simplicidade tocante revigorante. Veja o caso da quase intro Mother que fala sobre as saudades que todos têm de nossas mães de alguma forma, seja pela distância ou pela perda. Simples, delicada e de uma emoção genuína. Nunca simplista ou sem substância, as composições de Golden Hour é o que mais se aproxima do que o pop é de verdade, pois Kacey Musgraves entrega sonoramente a melhor definição do que é o country pop.

Fundindo os dois gêneros de uma maneira que de tão perfeita parece que sempre foi assim, Golden Hour é, na verdade, o resultado de todo da a personalidade artística de Kacey que vem construindo ao longos dos últimos. O álbum é a elevação do subgênero, revelando a perfeição de uma produção que consegue equilibrar duas sonoridades tão distintas em algo revigorante, melódico, carismática, atemporal, substancial, madura, refinada e de uma ousadia quase revolucionária. Não espere, porém, grandes lampejos de genialidade sem comparação, pois Golden Hour não traz nada de novo na sua essência, mas, sim, em como todo é construído ao utilizar coisas já feitas e conhecidas. Adicionando doses interessantes e deliciosas de eletrônico e indie, Golden Hour costura um álbum tão coeso e fluido que ouvi-lo na íntegra é uma experiência que acaba sendo até rápida demais, mas que guarda momentos que de pura fruição musical como é caso o da excepcional Oh, What A World em que a cantora entrega um começo estilo Frank Ocean para falar lindamente sobre a beleza do mundo ou da delicada e melancólica balada Happy & Sad sobre quebrar a cara, mas mesmo assim ter esperança no amor. Só a delicada, aveludada e bela voz de Kacey Musgraves é capaz de entregar a exata sensação de uma cantora que é a perfeita mistura de country e pop, mas sem cair para nenhum lado ou eclipsar nenhum. Dessa forma, a cantora é capaz de entregar a mais pop do álbum sem perder a sua personalidade: High Horse é uma divertida dance pop com toques de disco em que o country está na composição cheia de referências do gênero. Outros momentos de destaque são a que abre o álbum Slow Burn, a fofa Lonely Weekend, a dramática Space Cowboy, as divertidas Velvet Elvis Wonder Woman e, por fim, a lindinha e com mensagem de superação Rainbow. Ao entregar Golden Hour, Kacey Musgraves mostra que existe vida inteligente em todos os gêneros, mais do que isso, a genialidade está presente nas coisas mais simples de nossas vidas. Basta olhar, ou melhor, basta ouvir.

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