30 de junho de 2019

Primeira Impressão

Madame X
Madonna




Qualquer um que estranhar que o décimo quarto álbum da carreira da Madonna seja um trabalho que mostra a Rainha do Pop explorando e experimentando coisas novas é porque realmente não conhece nada da carreira da cantora, pois desde o lançamento de True Blue é possível notar essa característica que a transformou nessa lenda do pop. E o que falar dos anos noventa? Todavia, isso é assunto para outro dia. O que deveria estranhar é o fato que a cantora não tenha demonstrado essa sua vontade de inovar nos últimos três álbuns que, analisando em retrospectiva, mostraram uma Madonna apostando no já conhecido, seguro e, por algumas vezes, na preguiçosa modinha da vez. Dessa vez, porém, Madonna parece que resolve dar um passo além ao decidir não apenas copiar uma outra tendência e, sim, dar o seu olhar sobre os mesmos como sempre realizou. E mais: Madame X é uma álbum que apresenta uma espinha dorsal sonora com ousadas experiências sonoras. Uma pena, porém, que o mesmo se perde da metade para frente, fazendo a sonoridade engatar uma marcha pop automática e com uma lotação de fillers que não estão na mesma cadência.

Madame X começa interessante e parecendo deixar claro que, mesmo imperfeito, o álbum irá levar quem escuta em uma viagem estranha, envolvente, audaciosa e intrigante. Madonna começa a desenrolar a sua jornada como a espiã internacional Madame X abrindo espaço para uma sonoridade experimental que brinca, flerta, usurpa e intrigante misturando eletrônico, indie pop, electropop, latin pop, música clássica e reggaeton em uma caldeirão envernizado de uma personalidade que apenas uma artista do porte da Rainha do Pop consegue carregar. E, querido leitores, isso não é uma decisão feita para agradar a todos, mas é uma escolha quase genial para uma artista que, além de ter já provado dezenas de vezes o seu talento, parece ainda querer buscar algo de novo para mostrar ao seu público. E as primeiras canções do álbum mostram perfeitamente essa Madonna que não quer agradar a ninguém e, sim, criar o burburinho necessário para mostrar que ainda sabe como ser a dona da p$rra toda. Abrindo com a montanha-russa Medellin, passando pela sombria mistura de electropop com música clássica de Dark Ballet e chegando na forte, excêntrica, polêmica e grandiosa God Control, o álbum tem uma abertura impactante, mostrando uma Madonna nada comercial, engajada politicamente, divertida, sem medo e renovada artista. Repeito: não é perfeito ou para todos os gostos, mas são canções que ter seus méritos e que, sejamos sinceros, tem mais personalidade que boa parte do atual maistream pop. O problema é que Madame X não continua nessa mesma toada nem mesmo para a gente poder criticar. E o pior: o álbum começa um desfile de fillers completamente dispensáveis e sem nenhuma graça.


Entender o que deu de erra é meio complicado, pois passa por especulações que não há como saber exato. Teria a Madonna e o resto da produção realmente acreditado que todo álbum estava no mesmo nível artístico? Teria a Madonna meio que colocado várias músicas para simples encher a cota de faixas prometidas para entregar o álbum para a gravadora? Teria a produção entrado em um automático? Ou todas as alternativas estão certas? Sinceramente, não sei ao certo, mas é decepcionante o álbum apresentar uma coleção de canção pop que, apesar da tentativa de serem ousadas, não passam de trabalhos medianos, sem inspiração e, algumas vezes, entediantes. Canções como I Dont Search I FindLooking For MercyCome Alive, a péssima Future com o rapper Quavo e a medíocre Crave com a presença de um dos rappers mais chatos da atualidade, Swae Lee, não deveriam ter sobrevivido ao corte final devido a sua qualidade bastante questionável. E, obviamente, nenhuma delas acrescenta em nada para o resultado final. Na verdade, as canções citadas tiram boa parte do interesse conquistado devido ao seu começo impactante. Outro grande problema em Madame X é algo que, normalmente, nunca foi algo que gerou comentários negativos na carreira da Madonna. Ao contrário, as performances vocais da cantora sempre foram dignas de grandes elogios.

Todos sabemos que a Rainha do Pop nunca foi dona de um vozeirão. Todavia, isso nunca foi um problema para a mesma entrega performances vocais memoráveis. Além do fato da cantora ter um timbre lindo e, normalmente, sempre ter "carregado" inúmeras canções dançante e vocalmente menos complexas, Madonna sempre apresentou uma técnica primorosa que a ajudou a dar a impressão que a mesma realmente tinha um vozeirão. Se não fosse assim, Madonna nunca tinha lançando canções como Frozen, You'll SeeLike a Prayer. E isso é apenas para citar algumas. Então, o grande susto é ouvir que basicamente em todo álbum, a voz da Madonna foi enterrada por uma tonelada de efeitos vocais que literalmente empobreceram o trabalho, deixando por vários momentos a voz da cantora irreconhecível. Claro, nunca acreditei que a mesma não usa-se esse tipo de ajuda assim como qualquer outro artística, mas em Madame X é algo excessivo e descaracterizador. Apesar de funcionar em vários momentos como parte real da canção (God Control, por exemplo), outros momentos são apenas lastimáveis como é caso de Batuka que tem uma produção vocal incompreensível. Uma que o caminho escolhi tenha sido dessa forma. Tematicamente, Madame X navega entre letras politizadas, letras reflexivas sobre a vida e letras que exploram a sexualidade que devido a sua morada em Portugal flertam fortemente com o português. Sem alcançar nenhum momento uma composição icônica, o álbum consegue se manter na média devido, claro, a qualidade já conhecida da cantora e certas ousadias aqui e ali. Existe, porém, um momento que o álbum chega ao seu pico, mostrando o que o mesmo poderia ser se tivesse alcançando o seu verdadeiro potencial: Killers Who Are Partyng é um inusitado, emocionante, inspirado e cativante mistura de dance-pop com fado que funciona melhor que o esperado. E, queridos leitores, devo torcer que a tentativa da Rainha do Pop fazer o funk cariosa ao lado da Anitta em Faz Gostoso é divertidinha e tem um bom refrãoMadame X é um álbum que fica raspando acima da média, mas, felizmente, ajuda a mostrar que a Madonna ainda continua a disposta a arriscar da mesma maneira que a fez construir a sua carreira. Espero que só da próxima vez acerte o alvo do começo ao fim.

Um comentário:

Vinícius Carvalho disse...

Resenha extremamente bem feita. A maioria dos sites estão endeusando o álbum mas quando ouvir fiquei tipo ???. O conceito é magnífico mas a execução tá repleta de erros, bagunçada e excessiva. Uma bela polida na voz (com robotização tosca), na quantidade de faixas e uma melhor escolha de parcerias tornariam o disco bem mais interessante.