3 de junho de 2019

Primeira Impressão

Cuz I Love You
Lizzo





Na abertura já clássica do desenho As Meninas Super Poderosas é narrado como o Professor Utónio criou as personagens ao adicionar açúcar, tempero e tudo que há de bom e, sem querer, um elemento super poderoso chamado X. Acredito que também possa ser assim a criação de um álbum ao colocar em um caldeirão uma porção generosa de personalidade cativante, doses cavalares de talento inegável e alguns quilos de uma qualidade técnica de primeira. Claro, isso não é suficiente para criar um trabalho poderoso o suficiente para ser algo genial. É aí que entra o elemento X. No caso do sensacional Cuz I Love You, o elemento X é a presença da sua própria dona: a extraordinária Lizzo.

Longe de ser uma novata, Melissa Viviane Jefferson, nome de nascimento da Lizzo, finalmente está colhendo os frutos de uma carreira que começou lá em 2010 de forma independente. Chamando a atenção com dois álbuns muito bem avaliados e conquistando fãs devido a sua personalidade artística impressionante, a cantora lança o seu primeiro álbum com uma grande gravadora apostando todas as suas fichas na construção de um trabalho que se baseia plenamente na sua presença. Essa decisão poderia ser o tiro no pé de qualquer um que tivesse um centímetro menos carisma, talento, coragem e /ou versatilidade que o necessário. Felizmente, Cuz I Love You é o veículo perfeito para o grande público sentir em todas as facetas da artística que entrega todo de si em todos os momentos.

Normalmente ao fazer uma resenha de um álbum começo falando sobre a produção/sonoridade do álbum, mas aqui é preciso realmente começar aclamando a Lizzo. Dona de um carisma que não atualmente não se tem equiparável, a cantora preenche cada possível lacuna que o álbum possa conter com uma a sua personalidade "larger than life", a sua voz poderosa e a sua versatilidade quase ilimitada. Não importa qual tipo de canção ou o seu gênero ou mesmo os sentimentos complexos ou despretensiosos, Lizzo está lá com a mesma intensidade, intencionalidade, força e personalidade. Acredito que a melhor maneira de exemplificar o poder de performance da Lizo no álbum é pegar em contraste os dois singles já lançados: Cuz I Love You Juice. A primeira sendo uma épica e grandiosa balada mid-tempo com uma performance avassaladora de Lizzo e a segundo sendo uma deliciosa, dançante e divertida soul/disco com uma performance carismática e descolada. Além de entrarem na lista de melhores do álbum, as duas canções apresentam perfeitamente toda a versatilidade e personalidade que a Lizzo apresenta. E para poder sustentar tamanha força, Cuz I Love You precisaria ser um álbum com força suficiente para segurar tamanha responsabilidade. Felizmente, o álbum entrega o é necessário para tamanho feito.

Cuz I Love You é uma divertida, bem amarrada, eficiente, despretensiosa, segura e carismática mistura de gêneros e estilos que conseguem conversarem entre si sem precisar de fazer exatamente uma fusão artística. Brincando e flertando com gêneros como rock, funk, soul, hip hop, indie pop, Lizzo entrega um explosivo álbum R&B/pop que claramente não tem intenções de ser algo revolucionário sonoramente, mas que sabe como carregar perfeitamente toda a sua exuberância artística de forma exemplar. Cada canção é uma aventura sonora diferente que deixa o álbum como uma jukebox que tem apenas a presença da cantora como ponto de coerência. E isso é suficiente para fazer de Cuz I Love You um trabalho fluído, coeso e de uma cadência fenomenal. Mesmo quando aparece uma balada, o álbum não perde cadência devido a força da Lizzo. Mesmo que a cantora mude de estilo ao ir de cantora para rapper ou de rapper para cantora ou os dois ao mesmo tempo, o álbum tem a base perfeita para Lizzo navegar sem perder o ritmo. Mesmo quando o álbum dá uma leve escorrega, a produção consegue salvar qualquer perda de qualidade ao deixar a cantora brilhar sem nenhuma amarra. E quando está alinhado, Cuz I Love You entrega momentos sensacionais como a balda soul/pop Jerome e a genial Boys que entra como um bônus, mas que cai perfeitamente dentro da "história" do álbum. Liricamente, Cuz I Love You pode não ser genial, mas é recheado de momentos inspiradíssimos. 

O álbum é que pode ser chamado de um trabalho empoderado de uma artista empoderada que fala sobre como ser empoderada. Ao contrário de querer colocar as mensagens de empoderamento em metáforas ou de forma "maquiada", Lizzo deixa bem claro a sua mensagem de querer inspirar mulheres e, acredito, que qualquer um que precise que a melhor coisa que existe é vocês amara, respeita, admirar, adora a si mesmo, seguindo a filosofia de Mama Ru que diz que "if you can't love yourself how can you love someone else". Relacionamento? Primeiro ame você mesmo para depois querer que um macho entre na sua vida. Sexo? Sinta tesão por si mesma não importa como você seja para depois querer fazer alguém ter tesão por você. Opiniões alheias? A única que você deve seguir é apenas a sua e o resto que se dane. Como dito anteriormente, as canção não apresentam composições que pode ser chamadas de geniais, mas são uma coleção de momentos que mostram personalidade, acidez, humor, maturidade e uma tino pop na medida. Dessa maneira não tem como se empolgar com canções de exaltação feminina com em Like A Girl, a divertidíssima Exactly How I Feel como o rapper Gucci Mane, Crybaby e a sua composição sobre como dar um belo pé na bunda, a mensagem de poder amar quem quiser em Better In Color e a sexy sem ser vulgar Lingerie.  Claro, essa maneira  explosiva e poderosa de se colocar como artista da Lizzo não é algo que todos conseguem curtir, mas é preciso reconhecer que em tempos de artistas com personalidades "estranhas", Lizzo é um bem precioso para a atual indústria fonográfica e que deve ser ovacionado por simplesmente ter a coragem ser em Cuz I Love You.

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