Bruce Springsteen
O amadurecimento de um artista não ser apenas para o refinamento e a melhoria artística de seu ofício, mas, também, serve para a o artista ter a capacidade de aplicar uma nova visão sobre o resultado do seu trabalho. Com quase setenta anos e lançando o seu décimo nono álbum de estúdio, Bruce Springsteen tem a total liberdade artística para refletir todo o peso da sua experiência em um álbum que mostra um artista com um olhar diferente do que o público está acostumado e, ao mesmo tempo, mostrando todas as características que o transformaram em uma das lendas do rock. Para tanto, o "the Boss" decidiu seguir o caminho da contemplação em Western Stars, indo contra o artista que "nasceu para correr".
Resenhando a sua obra prima Born in the U.S.A. disse sobre o compositor Bruce Springsteen: "Dono de uma lírica sem rodeios poéticos, mas que consegue dar voz ao "homem comum" ao expressar seus sentimentos com imagens fortes e reais.". Em Western Stars, porém, o público é apresentado a um Bruce contemplativo, levemente melancólico e com um gosto para criar belas imagens que buscam inspiração da natureza, especialmente o amanhecer e o pôr do sol. É obviamente uma mudança e tanto, ainda mais quando se lembra que o músico é conhecido pela bela dureza que as suas composições retratam as relações do homem comum americano. Todavia, ao analisar as composições em Western Stars nota-se claramente que Bruce ainda está falando desse homem comum, mas o que muda é como esse homem está vendo atualmente o mundo ao seu redor. E é obvio que a decisão de mudar esse foco vem do fato que Bruce se encontra em um momento de vida que, provavelmente, está passando pelo mesmo momento contemplativo sobre a vida.
A melhor maneira de explicar a intenção que o artista é explicar que Western Stars é sobre um viajante que, depois de muitas viagens e mudanças de uma cidade para outra, começa a cansar e procurar um lugar ou/e uma pessoa para se assentar, podendo assim contemplar o resto do seu caminho. E esse viajante tem uma bagagem emocional que, além de pesada, deixa a mostra todas as suas feridas que ainda não se cicatrizaram. Feridas essas que apenas são escondidas por uma fina camada de uma poesia rústica que foi sendo acumulada ao longo dos anos. Cansado, mas que ainda não desistiu de lutar. Contemplativo, mas sem perder o foco em seu caminho. Melancólico, mas nunca exatamente triste já que sabe que existe um fim para chamar de seu ao final da caminhada. Western Stars apresenta um Bruce com as emoções com mais nuances em toda a sua carreira. Em nenhum momento, porém, o artista que escreveu sozinho todas as canções não deixa de mostrar que todas essas emoções são saídas desse homem médio americano que, mesmo são mudar as suas origens, chegou nesse estágio de vida. E isso é basicamente a pilastra central de toda a persona artística de Springsteen e não é perdida em nenhum momento em Western Stars. Um desses momentos e que se pode classificar como um dos ápices do álbum e, sem nenhuma dúvida, uma das melhore canções do artista em muitos anos é a genial Western Stars, canção que dá nome ao álbum. Colocando em prática e em toda a forma o seu lado de contador de história, Springsteen conta a história de um astro do cinema em fim de carreira que, enquanto relembra o passado, observa o seu presenta através das mudanças da natureza em sua volta. Todos isso é envolto em uma espetacular produção de Ron Aniello que transforma a faixa em uma slow burn e poderosa mistura de rock com americana. E a mudança sonora ouvida no álbum não é exatamente uma novidade completamente, pois Western Stars é uma quase volta ao começo da carreira do artista.
Conhecido pelo seu rock, mais precisamente por ter popularizado o chamado heartland rock, Bruce Springsteen se volta para uma sonoridade mais raiz ao entregar em Western Stars uma espetacular e grandiosa mistura de rock com americana, country e folk. Inspirado por nomes como a lenda do country Glen Campbell e a outra lenda do cancioneiro americano Burt Bacharach, o cantor volta a suas origens ao ter como base não a sua banda E Street Band e, sim, uma orquestra completa para tocar os instrumentais de todas as canções. Essa mudança não é algo realmente novo, pois o mesmo já trabalhado dessa maneira no começo da carreira lá pelos começo dos anos '70. A decisão não altera a qualidade do trabalho de Bruce, acrescentando uma sensação de encorpar as instrumentalização das canções e ajudando a dar ainda mais a sensação de contemplação que as composições remetem o tempo todo. Apesar de não apresentar nada exatamente novo, a sonoridade do álbum é de uma elegância madura, de uma classe atemporal e de uma força emocional que toca com o ouvinte de forma gradual e constante como o calor de uma fogueira. Talvez um pouco longo demais, deixando o meio do álbum um tiquinho arrastado, Western Stars não se afeta no quadro geral ao ser um dos álbuns mais inspiradores do ano. E um desses momentos de maior brilho é o genial single Hello Sunshine que a defini como sendo uma "robusta, poderosa e madura country rock/rock com uma instrumentalização substancial e complexa, mas que consegue passar toda a tocante quietude que o cantor quer passar na sua genial composição". Outros momentos de destaque ficam por conta da dupla que abre o álbum Hitch Hikin' e The Wayfarer, a delicada Drive Fast (The Stuntman), a simples e tocante intro Somewhere North of Nashville e, fechando de forma sensacional, a linda Moonlight Motel. Apesar de já ter tido que não irá fazer uma turnê do álbum e que já está em gravação para um novo álbum com a E Street Band, Bruce Springsteen nos contempla com uma obra que não faz feio perante os seus grandes os seus grandes momentos e ainda adiciona uma maravilhosa curva em uma carreira genial.
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