Brandy
Soando com um grito de liberdade das amarras que as gravadoras impuseram na carreira da cantora ao longo dos anos, o álbum tem como grande defeito a sua produção. Apesar de instrumentalmente bem feito, o álbum erra na construção e, principalmente, na ideia por trás da intenção desejada para a persona da Brandy no álbum. Ao tentar modernizar a sonoridade da cantora, a produção não consegue, infelizmente, encontrar o tom certo para combinar com o talento de Brandy devido ao fato da sua voz ser completamente única. Conhecida como a “bíblia vocal” do R&B devido a sua imensa capacidade, Brandy tem uma presença tão forte e inesquecível que apenas uma produção pode derrapar nos trilhos se não tiver conhecimento necessário para unir voz, arranjo e composição de forma azeitada. E em B7, a produção encabeçada primordialmente por Darhyl Camper, Jr, não parece saber muito bem como unir essa modernidade sonora com a presença distinta da Brandy. E isso é muito fácil de observar nas primeiras faixas do álbum.
É possível perceber que as batidas estranhas que foram criadas para as duas primeiras faixas (Saving All My Love e Unconditional Oceans) soam bem descoladas das performances vocais e das composições. Sabe aquela sensação que a gente tem depois de ter uma tontura em que as coisas parecem não estarem no seu lugar devido? É mais ou menos assim que as canções no álbum parecem estarem. Estranho, mediano e principalmente sem o carisma usual das músicas da Brandy, o começo de B7 cria um ruído difícil de ouvir, mas, felizmente, o álbum vai melhorando aos poucos a partir da terceira faixa: Rather Be parece compreender melhor o talento que tem em mãos, mesmo soando mais como uma intro, e sem, principalmente, ter um toque de R&B contemporâneo que consegue se acomodar com a presença da cantora. O álbum melhora é um fato nítido, mas isso não quer dizer que o mesmo termina sendo um bom trabalho. O que realmente dá a liga para o álbum escapar de ser uma bomba é a presença poderosa da Brandy.
Como já dito, Brandy é uma das vocalistas mais talentosas, versáteis e competentes do cenário R&B, especialmente em relação aos artistas revelados durante os anos noventa. E isso não é deixando de lado no álbum, mesmo que a produção não saiba como se utilizar desse imenso recurso. O lado bom é que mesmo sem uma base ideal para sustentar todo o seu talento, a cantora ainda é capaz de entregar performances poderosas e cheias de nuances como é o caso da interessante Borderline que poderia ser melhor com uma duração menor que os mais de cinco minutos. Outro ponto que pode ser colocado como positivo são as composições que revelam o lado mais pessoal da artista em que é revelado experiências próprias da cantora. Não são marcantes o suficiente para salvar de fato o álbum, mas são trabalhos honestos e com certa profundida. Além das faixas já citadas, outros momentos que valem a pena destacar são a minimalista Lucid Dreams, a empoderada I Am More, o single Baby Mama e a parceria com o cantor Daniel Caesar em Love Again. Essa última canção é sem nenhuma dúvida a melhor do álbum e mostra qual é o verdadeiro caminho da modernização da sonoridade da cantora. Infelizmente, a sua presença, porém, for apenas ocasional, pois ela faz parte originalmente do álbum de Daniel. É bom ver a emancipação de uma cantora tão talentosa com a Brandy, mas agora é preciso encontrar o caminho que melhor acomode e eleve o seu oficio.
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