Did you know that there's a tunnel under Ocean Blvd
Lana Del Rey
Lana Del Rey cavou a sua presença na indústria da música como pouquíssimos artistas fizeram na história recente da música. Com uma personalidade artista única que ainda dividi opiniões, mas conseguindo crescer a sua percepção perante o publico e, principalmente, boa parte da critica especializada. Com o lançamento do seu oitavo álbum em onzes anos, Lana novamente se mostra prolifera ao mostrar que o seu pico de criatividade parece não dar sinas de cansaço. Nos últimos dois álbuns (Chemtrails over the Country Club e Blue Banisters) a entregou foi uma verdadeira montanha russa de qualidade que parecia que poderia continuar em Did you know that there's a tunnel under Ocean Blvd. Felizmente, Lana volta a boa forma ao entregar um dos seus melhores trabalhos até o momento ao unir com equilíbrio a velha Lana, experimentações ousadas e uma surpreendente e desconcertante emoção genuína.
E é dessa última qualidade que faz do álbum ser tão especial dentro da discografia de Lana. Quem acompanha com certo cuidado e visão imparcial a carreira da artista sabe que um dos pontos que a mesma é tão divisível é o fato que parece existir uma certa artificialidade em boa parte das letras que compõe boa parte da discografia. Relacionamentos tóxicos, homens maduros perigosos, drama da pobre garota branca, melancolia, desilusão e uma dose de violência fazem parte do consciente que é o que entendemos das histórias contadas pela Lana desde o seu primeiro grande sucesso em Video Games. E isso vem evoluindo ao longo dos anos, sendo amadurecendo em cada novo álbum e mantendo qualidade que afastam e, ao mesmo tempo, agradam o público. E isso continua em Did you know that there's a tunnel under Ocean Blvd em parte, pois em alguns momentos encontramos uma cantora que nunca tínhamos ouvido. Despida de boa parte desse verniz que a mesma construiu, Lana entrega os seus momentos mais devastadoramente honestos da sua carreira. Apesar de salpicado em vários outros momentos existem duas canções que melhor representam essa qualidade: Kintsugi e Fingertips.
Sonoramente, ambas canções são ótimas baladas indie pop/folk que não são lindamente instrumentalizadas, mas não apresentam nada exatamente de novo nessa área. O que as fazem serem os melhores momentos do álbum é a como Lana as compõe. Existem em ambas uma vulnerabilidade tão honesta e desprovida dos clichês que a Lana construiu para si que as tornam momentos arrasadores emocionalmente. Em Kintsugi, nome de uma técnica de restauração japonesa de cerâmicas e porcelanas que utiliza laca ou cola misturadas com pó de ouro, prata ou platina, a cantora mostra as feridas da sua relação com a família e com a mesma está tentando lidar com essa dor, especialmente aqueles que a mesma não pode estar em seus momentos finais. Apesar de especifica para a sua vida, a canção encontra um lugar em qualquer pessoa que tem sentimentos/experiências parecidas. Isso que consegue dar para a Lana esse ar de novidade, pois a mesma se deixa ser mostrar uma pessoa normal sem a armadura de “cool sad girl”. E Lana continua a sua exploração familiar com a presença da também genial Fingertips. Ainda mais pessoal ao retratar suas dúvidas, medos, dores e reflexões sobre a sua família e/ou sobre si mesma, a cantora elabora uma letra simplesmente genial que é dividida em dez versos, assim como os dedos das mãos, em que cada um discuti um tema em relação a sua família como, por exemplo, o verso cinco é sobre a morte do seu tio e o verso sete é sobre a sua relação com a mãe. Apesar das duas canções serem o ápice não apenas do álbum e, também, dessa faceta da artista, Lana entrega outros ótimos momentos nessa pegada como a Did you know that there's a tunnel under Ocean Blvd sobre a relação com a imagem da artista perante o grande público e como a mesma se vê e a balada romântica Let the Light In com backvocais de luxo do Father John Misty que, apesar de ser sobre um relacionamento difícil, tem uma composição bem “careta” para os padrões estéticos da Lana. Did you know that there's a tunnel under Ocean Blvd perde força, porém, quando a cantora vai para o lado experimental, mas até mesmo nesses momentos existem algo de interessante para se ouvir.
Na verdade, esses momentos estão na parte final, pois as que estão no começo realmente valem a pena. Não é exatamente genial e, sim, inspirado e um sopro de frescor sonoro para a cantora. Começa logo de cara com a ótima The Grants: “a decisão de colocar uma dose de gospel é algo que, ao menos para mim, soa completamente surpreendente e tão bem vindo. The Grants se beneficia da presença de Melodye Perry, Pattie Howard, e Shikena Jones, importantes e renomadas backvocais, que não apenas cumprem belíssima os seus papeis ao longo da canção, mas entoam sozinhas o começo inesperado e lindíssimo da canção. E é desde momento em diante que a canção ganha esse contorno gospel que a molda de maneira espetacular para logo fazer a boa transição para algo mais tradicional de Lana: baroque pop/art pop/indie pop”. A&W “toma uma grande liberdade dentro da sonoridade da cantora ao ser uma extensa mistura refinada de art pop, folk, tri hop e trap. O resultado dá uma oxigenada para a discografia da Lana, mas a produção da mesma ao lado do onipresente Jack Antonoff poderia ser ainda mais ousada ao não dividir em duas partes a canção, começando de forma tradicional para depois incorporar o lado mais experimental”. Entretanto, o ponto alto dessa Lana experimental é a curiosa parceria com Jon Batiste em Candy Necklace/ Jon Batiste Interlude que, mesmo sendo duas músicas separadas, precisam ser encaradas como apenas uma. Uma jazz/blues com fortíssima pinceladas de experimental que deixa a gente na beirada da nossa cadeira sem saber o esperar. O problema dessa faceta da cantora é, como já escrito anteriormente, a parte final (Margaret, Fishtail, Peppers e Taco Truck x VB) que não parece acertar o ponto ao não terem a mesma força que os momentos que dão certo. Na verdade, gosto de Taco Truck x VB devido a ideia de fazer uma espécie de remix com Venice Bitch, mostrando que a Lana é capaz de se referenciar e soar pretensiosamente divertida. Entretanto, o final parece que desconectou algo que vinha sendo construindo ao longo do resto do álbum, fazendo o mesmo perder certa coesão e ritmo. E o álbum ainda tem a Lana de sempre em momentos marcantes.
Em Sweet, a cantora entrega uma contida versão dos seus velhos clichês de maneira a não exagerar com dos versos que a melhor explica sua personalidade: I'm a different kind of woman/ If you want some basic bitch, go to the Beverly Center and find her /I'm sweet, bare feet. Entretanto, o grande momento Lana sendo Lana é a ótima Did You Know That There's a Tunnel Under Ocean Blvd: “single que abre os trabalhos do álbum do mesmo nome acerta perfeitamente na construção da instrumentalização que começa como uma simples balada pop para se desdobrar em uma lindíssima e épica balada orquestrada que apresenta um instrumental épico e espetacular na sua parte final. Queria que a canção fosse toda nessa segunda pegada, mas isso não impede da cantora entregar uma música bem acima da sua própria média recente”. Além disso, é necessário apontar que o álbum apresenta as melhores performances da cantora da sua carreira, especialmente devido ao fator de precisar alterar de forma brilhante e inspirada entre os estilos que o álbum vai navegando sem nunca perder o que a sua personalidade distinta. Did you know that there's a tunnel under Ocean Blvd é o álbum que pode ser um divisor de águas para a carreira da Lana ou mesmo uma exceção que confirma a regra. Independentemente, o álbum é uma experiência realmente prazerosa que vale apena escutar apenas pelo prazer de embargar nessa viagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário