28 de maio de 2023

Primeira Impressão

Vício Inerente
Marina Sena





Com o lançamento do seu segundo álbum, Marina Sena consolida o seu nome como o mais importante do mainstream brasileiro ao fazer a ponto entre o atual pop com a música mais tradicional. Apesar de uma boa produção e a presença magnética da jovem, Vício Inerente é um trabalho que ainda funciona no campo das ideias do que realmente na pratica.

A ideia por trás de Vício Inerente é genial: pegar todas as tendências do atual cenário pop nacional e misturar com o mais fino da MPB, adicionando doses de latin pop, R&B, hip hop e gêneros brasileiros. Seria algo parecido com o que a Rosalía vem fazendo nos últimos anos, mas partindo da experiência de uma artista brasileira. Tudo seria lindo ser o resultado estivesse na mesma altura das ideias por trás. O problema aqui é que a produção até entrega o que promete, mas fica faltando coragem para ir além do lugar comum do que era esperado. É como se tivesse um muro que a álbum consegue subir sem saber, porém, como descer e atravessar essa barreira entre o campo da ideia e a realização de fato.

Produzido por Iuri Rio Branco, Vício Inerente apresenta uma ótima qualidade técnica que o distingui de boa parte do cenário pop atual com destaque especial para os sólidos instrumentais. O que faltou de verdade foi saber como realmente misturar todas as influencias que são invocadas para criar um trabalho que realmente seja essa fusão entre o tradicional e o moderno. Boa parte do álbum parece que estamos diante entre o encontro de água Dom Perignon com o mais puro azeite português: tudo é de qualidade excepcional, mas isso não quer dizer que os mesmos se misturam. E o que poderia ser o ponto de fusão que são as composições ficam bem longe do ideal ao serem trabalhos que faltam uma dose cavalar de engenhosidade, profundidade e refinamento.

O problema é que na maior das letras a decisão é ir para um caminho mais viral ao entregar trabalhos que repetem vícios temáticos (o recorrente “sentar”, por exemplo) e estruturais (repetições de versos). Não que sejam exatamente ruins, mas Marina ainda parece presa a um certo método de criação que não deixa muito espaço para evolução no momento, mesmo que tenha fleches de criatividade aqui e ali. E o melhor exemplo da capacidade é a simpática balada pop/R&B Tudo Seu que parece invocar os trabalhos feitos no final dos anos oitenta e começo dos noventa. Não é sensacional, mas é onde tudo parece melhor cravejado para deixar Marina realmente brilhar no seu verdadeiro potencial. Na verdade, a cantora é a melhor coisa no álbum, pois é a sua presença que sustenta boa parte do que poderia ser um desastre. E isso é algo bastante importante já que a o timbre da Marina a coloca no mesmo lugar que nomes como Shakira e Miley Cyrus: vocalistas talentosas, mas que precisam acertar perfeitamente na produção vocal para não ficarem entre a fina linha entre a personalidade distinta e o simplesmente irritante. Devo admitir que ainda falta certa maturidade, mas boa parte do desempenho de Marina é bem lapidado e apresenta a sua personalidade de maneira fluida e sem maiores tropeços. Alguns momentos bons do álbum ficam por conta do single Tudo pra Amar Você ao ser “uma redonda, fofa, bonitinha e inofensiva MPB/pop/afrobeats que deixa claro que ao menos a cantora não está longe de se render ao fácil”, a hip hop/latin pop/dance Que Ta com a participação do cantor Fleezus, a animada e envolvente Partiu Capoeira, a sexy trap/electropop Mais de Mil e, por fim, o gostosinha Sonho Bom. Acredito que a Marina Sena esteja no caminho correto para ser a grande estrela dessa nova geração. Falta apenas aquele toque de genialidade que deve vim com o tempo.


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