Troye Sivan
Blue Neighbourhood, primeiro álbum do cantor australiano Troye Sivan, é sobre amadurecimento. Na verdade, não é sobre exatamente o amadurecimento propriamente dito, mas, na verdade, sobre o descobrimento de amadurecer. É sobre aquele momento que, ao final da adolescência, a gente realiza que o tempo está passando e estamos virando o que a gente mais temia: adultos. Por isso, Blue Neighbourhood tem uma delicada atmosfera de melancolia misturada com sentimentos ainda confusos de quem ainda não sabe exatamente quem é de verdade. Tudo isso envolto em um verniz pop inspirado e revigorante.
Troye Sivan é, talvez, um dos artistas a surgir esse ano que tenha melhor mostrado a sua faceto de compositor. O também ator e YouTuber, o jovem de apenas vinte anos mostra uma escrita com qualidades verdadeiramente poéticas pouco vistas em astros do pop ultimamente. A principal delas é não precisar recorrer a rebuscadas criações semânticas para criar as suas lindas imagens. Na verdade, Troye trabalha no simples e no singular para construir as suas crônicas sobre o fim da inocência. Talvez o lugar de onde ele fala nas suas canções é o ingrediente ideal para essa conquista: Troye encarna (ou talvez realmente seja) o jovem médio que vive nos subúrbios de países como o Estados Unidos ou a Austrália, ou seja, não precisa lidar com os problemas dos filhos dos podres de rico ou as dificuldades daqueles que precisam lutar para sobreviver, deixando espaço para as divagações muito mais existenciais. As letras são as reflexões das suas aventuras e descobertas nesse "mundo" perfeito por fora, onde vizinhos se dão bem, cachorros passeiam tranquilamente pelas brancas calçadas, gramas são as mais verdes possíveis e crianças vendem limonadas em bancas improvisadas, mas, por trás das portas, um outro mundo desenrola muito mais sombrio e perigoso que se pode imaginar. Amor, decepções, descobertas e, principalmente, a batalha para descobrir qual a seu eu interior marcam as faixas de Blue Neighbourhood em que somos presenteados por a apresentação de um artista incrivelmente sensível e, sem dúvida, com um potencial enorme.
Não são todas as faixas alcançam os mesmos resultados devido, principalmente, a paradoxa falta de maturidade artística de Troye. Ainda falta algum toque especial para elevar algumas composições que precisavam de um "tempero" especial. Além disso, a produção geral do álbum deixa a desejar em alguns momentos que poderia ter aprofundado a sonoridade de Troye, deixando Blue Neighbourhood mais eclético e único. Mesmo com esse problema, o cantor tem em mãos um pop teen/chiclete/alternativo muito refinado que contrasta com a melancolia trazida nas letras. Imagina uma mistura etera da sonoridade da Lana Del Rey com a Lorde, gerando algo parecido com o álbum 1989 da Taylor Swift, mas sem a pretensiosidade irritante. Blue Neighbourhood também se beneficia pela voz angelical de Troye e com a suas performances tristonhas e contemplativas. Eu acredito que o jovem ainda tem muito mais para entregar ao se deixar levar e buscar no fundo a força para cantar. Os melhores momentos de Blue Neighbourhood ficam por conta do ótimo single Wild, Bite, Fools, Talk Me Down, for him., Suburbia e Blue. Um pequeno grande álbum de artista com um potencial gigantesco que apenas precisar crescer um pouco para poder olhar melhor para ele mesmo.
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