3 de julho de 2017

Primeira Impressão

Melodrama
Lorde



Com a diferença de apenas algumas semanas o mundo da música viu os dois lado de uma mesma moeda chamada pop: de um lado o grande tropeço criativo e comercial de uma já consolidada diva pop e do outro a consagração de uma ainda iniciante cantora com o seu segundo álbum que entra para a história recente do pop como um dos trabalhos mais aclamados da critica especializada. Acredito que essa segunda cantora vocês todos já sabem quem é: a neozelandesa Lorde que com o seu inesperado Melodrama se transforma na voz de uma geração que ainda nem sabe muito bem quem são ainda, mas que já tem muito sobre o que falar. 

Melodrama é, essencialmente, um álbum sobre corações quebrados, ilusões amorosas e amores despedaçados. Temas tão recorrentes no mundo da música como o nosso arroz com feijão no almoço, mas que na perspectiva de Lorde ganha contornos modernos, descolados e com uma linguagem completamente avant-garde. As composições em Melodrama são como roteiros de filmes indies feitos por jovens diretores/roteiristas na casa dos vintes anos que tem a intenção de relatar a vida dos seus similares (e eles também) da maneira que as mesmas estão se passando atualmente sob a luz dessa sociedade que ainda não sabe muito o que fazer com esses millennials. Apesar disso, as letras criadas para o álbum possuem uma profundidade desconcertante, mostrando que existe muito mais do que a aparência de tecnológicos e com uma inquietação incontrolável nesse grupo: velhos e poderosos sentimentos, mas emolduradas de maneiras bem diferentes. Boa parte dessa qualidade vem do fato de Lorde ter-se unido com o compositor/produtor Jack Antonoff que adicionou uma experiência imprescindível para o trabalho final. Não são letrar que vão encontrar um público exatamente muito grande, mas que acerta precisamente o público para que é destinado. Um belo exemplo disso é a ótima Supercut sobre como fantasiamos sobre como é um relacionamento, mas que, na verdade, é tudo completamente diferente na realidade. Para poder expor tudo isso que as letras falam, Lorde se torna literalmente uma voz que representa uma geração.

Completamente única no quesito timbre, a jovem de apenas 20 anos encontrou uma persona vocal que a coloca em um posto muito parecido com o da Amy Winehouse: pode até haver pessoas parecidas, mas nada será comparada exatamente com o original. A forma com a cantora "ataca" cada nota é deliciosamente inusitado, estranho, descontraído, original, desconstruído e, em alguns momentos, até parece "errado" para quem ouve pela primeira vez ou que não curte a cantora. Seja como for a sua percepção não há como negar que ouvir dez segundos de qualquer canção na voz da Lorde já o bastante para saber quem está cantando. Ouça a cativante dark Sober e me diga que não estou certo? Impossível. O ponto de "discórdia", ao menos para mim, é a sonoridade como um todo de Melodrama: não que o indie pop/electropop maduro e contagiante não seja um ótimo trabalho, ainda mais com todas as nuances e ideias que Antonoff e outros produtores adicionam ajudando a criar uma sonoridade coesa e bastante divertida. Todavia, o resultado final é, resumidamente, seguro demais, pois não apresenta de realmente muito novo e quebrado de barreiras. Digo e repito: sonoramente extremamente bem produzido, mas não vai muito mais longe do que já ouvimos por aí. Outros momentos de destaques do álbum ficam por conta Perfect Places, The Louvre e Liability. Melodrama não é o álbum perfeito, mas é perfeito para essa geração e, principalmente, perfeito para colocar Lorde no top do mundo top, mesmo ela própria não se considerando uma diva pop.

Um comentário:

G. RLS disse...

Rapaz como eu AMO suas críticas. Na minha opinião, um dos melhores críticos musicais do Brasil !! Obrigado ¡