Mariah Carey
Existem alguns álbuns que não necessariamente é se transformam em um marco que será um imenso legado no futuro, mas, de alguma forma, o mesmo ganha uma vibe que o ajuda a se perpetuar ao longo do anos. Nesse especial do Antes Tarde do Que Nunca irei olhar para um álbum que conseguiu criar vida além do seu lançamento devido a dois fatores: a presença de uma canção e o momento de reviravolta na carreira da artista dona do álbum.
Lançado há exatamente vinte e dois anos, Daydream, o quinto álbum da carreira da Mariah Carey, foi o segundo grande marco na sua então recente carreira da cantora. Depois do estrondoso começo de carreira seis anos antes, Mariah começou a querer algo que, praticamente, todos os artistas desejam: liberdade. Explicando: naquela época a carreira de Mariah era controlado por o seu empresário e marido Tommy Mottola. Toda a sonoridade, imagem e vida eram controlados de Mariah eram controlados pelo empresário. Todavia, a cantora começou a mostrar sinais de insatisfação e rebeldia quando começo a elaborar o que seria o sucessor de Music Box de 1993 ao decidir trabalhar com nomes de produtores que não faziam exatamente parte da sonoridade pop contemporâneo que ela tinha mostrado até aquele momento. Em Daydream, a sonoridade da cantora começa a enveredar pelo R&B/hip hop que seria a sua marca a partir daquele momento e seria apenas consolidado no próximo álbum Butterfly, também marcando o fim definitivo da sua parceria com Tommy. Apesar de ser até considerado pela própria cantora como o seu melhor trabalho, Butterfly não tem o que realmente faz de Daydream tão marcante: a presença de uma canção como Fantasy.
Sim, todo o álbum tem como espinha torçal, bússola orientadora e grande momento artístico de uma carreira inteira apenas uma canção. E não é apenas uma canção, mas uma canção que foi responsável praticamente sozinha em mostrar Mariah como uma verdadeira força artística e não apenas uma voz e rosto bonitinho, redefinir toda uma carreira de uma das maiores estrelas de todos tempos e, também, a sonoridade de toda uma década e influenciar uma geração que veio posteriormente. Essa é basicamente toda a importância de Fantasy para o mundo pop. Com uma inigualável batida pop/R&B com toques hip hop, vocais inesquecíveis, letra simples e viciante, Fantasy é o tipo de canção que parece não envelhecer e, ao mesmo tempo, tem uma atmosfera a frente ao seu tempo que permaneceu até hoje, sendo a primeira canção de uma mulher a estrear diretamente no top da Billboard. Apesar de possuir ainda vários outros trabalhos brilhantes na carreira, Fantasy é sem dúvida a magnum opus de toda a discografia de Mariah Carey. O que não podemos dizer exatamente do álbum em si, pois Daydream sofreu ao longo algo que passou longe de Fantasy: o efeito do tempo.
Daydream é uma obra que, infelizmente, ficou quase parada do seu tempo, ou seja, o álbum não envelheceu bem. Não que tenha agora cheiro de naftalina, pois muito do que podemos ouvir no atual R&B contemporâneo, principalmente o mais comercial, é ouvido na base da sonoridade do álbum graças a nomes como Babyface, Dave Hall e Jermaine Dupri. Todavia, o álbum ainda contem grandes e substâncias doses de um pop que ficou parado no tempo. Veja o caso do clássico R&B/gospel One Sweet Day ao lado do Boyz II Men: apesar de ser uma emocionante canções sobre sentir saudades daqueles que já partiram, a faixa é considerada hoje como uma balada datada e um pouco brega. A canção é indiscutivelmente um ótimo trabalho, mas o tempo fez com que soasse como algo sem espaço nos dias de hoje. Assim acontece com as outras faixas do álbum como menos intensidade em alguns casos como, por exemplo, Always Be My Baby e Long Ago. Aquelas produzidas pela icônico Walter Afanasieff são as que mais sofreram com isso como Underneath the Stars e When I Saw You. O problema maior, porém, é o mesmo problema na maioria da discografia de Mariah: o componente lírico. A cantora sempre foi dona de letras que beira o clichê e uma temática romântica melosa que sempre agradou seus fãs, mas não é algo muito agradável para alguns críticos. Tirando a simplicidade honesta de Fantasy, Daydream é recheado de faixas açucaradas, dramáticas e de uma qualidade questionável. Claro, as composições tão envelheceram bem depois de vinte anos. Isso não é algo que impeça das composições tocarem de verdade nos fãs da cantora e, isso, é algo louvável. Obviamente, Mariah aqui estava no topo da sua capacidade vocal e no álbum a cantora adicionou mais camadas nas suas performances, ajudando a criar uma imagem vocal mais versátil. Daydream hoje em dia não é exatamente uma obra genial, mas é possuidora de grandes qualidades, precisando ser redescoberta como um dos melhores momentos da carreira de Mariah Carey.
Um comentário:
Adoro o Daydream, mas concordo com esse fator de não ter envelhecido bem, aliás, a discografia de Mimi não envelheceu bem. Na minha opinião de fã que têm todos os álbuns dela de 1990 a 2008 (depois disso me desinteressei), acho que o álbum que mais autêntico e com frescor das décadas seguintes é justamente o que ela quer esquecer, Glitter.
Postar um comentário