10 de outubro de 2018

Primeira Impressão

Dancing Queen
Cher


Café com leite. Queijo com goiabada. Cinema com pipoca. Amor com beijinho. Sexo com carinho. Essas são apenas algumas combinações que foram parecem ter sido feito no céus e que parecem tão comuns no nosso dia a dia que seria um sacrilégio não existirem. Entretanto, de tempos em tempos, aparece uma dessas combinações que a gente fica incrédulo que nunca ninguém tenha pensado antes, resultando em algo tão perfeito juntos que se torna algo que irá ficar para sempre nas nossas vidas. O último caso a surgir que deveria sempre ter existido é a "união" entre dois dos maiores nomes da música de todos os tempos com o lançamento do álbum de covers do ABBA pela Cher no irresistível Dancing Queen.

Chegando ao seu 26° álbum da carreira aos 72 anos, Cher ainda mostra a sua força na realeza pop ao decidir regravar os maiores sucessos de outra parte da realeza pop, o quarteto sueco ABBA. Inspirada pela ótima recepção da sua participação na continuação do filme Mamma Mia! em que interpreta a mãe da Merly Streep (?!?!?!), a cantora se juntou novamente com o seu colaborador de longa data Mark Taylor (produtor de Believe) e, também, teve a presença executiva de dois dos quatro integrantes da banda (Benny e Björn) para dar vida a um trabalho que, ao mesmo tempo, reverência os originais e introduz toda a personalidade "large than life" da Cher. Essa mistura poderia muito bem acabar em um desastre gigantesco ao ser a colisão frente de duas frentes tão fortes, mas o resultado de Dancing Queen é um verdadeiro presente para o público de ambos artistas ao ser um dos melhores e mais refinados trabalhos pop do ano e, sem dúvidas, o melhor álbum da carreira da Cher.

Apesar de conhecidas mundialmente desde os anos setenta, as músicas do ABBA são muito mais complicadas de serem regravadas do que a gente pode imaginar e qualquer pequeno erro pode acabar em um desastre. O grande mérito da banda foi terem criado canções pop de fácil assimilação pelo grande público com letras cativantes e de sonoridades mais grudentas que chiclete recém mascado no chão, mas que guardam verdadeiras surpresas ao terem letras mais profundas que uma simples olhada pode revelar e, principalmente, arranjos bem mais complexos e ousados que se pode imaginar. Por causa disso, as canções do ABBA podem se tornar verdadeiras bombas minadas para quem decide regrava-las, mas sabendo como transitar entre todos os espinhos de forma competente chega o resultado que ouvimos em Dancing Queen. A produção acerta no tom do álbum ao respeitar as versões originais, mas sabendo como atualizar cada canção de maneira que possas ser canções atuais e, principalmente, canções da Cher. Caminhando entre o dancepop, o electropop e o bom e velho pop, Dancing Queen consegue divertir e emocionar ao unir esses dois mundos de uma forma tão irresistível  e deliciosamente nostálgico que fica difícil não se deixar levar por cada canção assim como nas versões originais como é o caso do single Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight ou a divertidíssima Mamma Mia. Nem todas as canções funcionam plenamente como era de esperar como é o caso da versão "semi" dançante da que deveria ser a mega balada do álbum The Winner Takes It All que é, na minha opinião, a maior balada pop de todos os tempos. Entretanto, nada disso, porém, consegue atrapalhar a grande estrela do álbum: a própria Cher.

Dona de uma das vozes mais icônicas do pop, Cher se esparrama e esbanja toda o seu poder vocal e o seu grave timbre para elevar cada uma das canções em um outro patamar ao carimbar toda a sua personalidade em cada performance. Essa característica outro ponto importante para o resultado final do álbum, pois dá força, originalidade e uma atmosfera tão distinta que faz de Dancing Queen uma verdadeira pérola pop. Rainhas do bate cabelo, Cher entrega momentos inspiradíssimos e de pura nostalgia dançantes ao entoar clássicos da discoteca como, por exemplo, The Name of the Game e, claro, a canção que dá nome ao álbum Dancing Queen, adicionando toques do seu famoso uso do auto-tune sem, porém, atrapalhar a qualidade vocal de Cher. Todavia, o grande trunfo de Cher no álbum são as suas poderosas interpretações para algumas das baladas mais marcantes do ABBA como é o caso de Fernando e Chiquitita. E, dessa leva, vem as duas melhores gravações do álbum: a tocante One of Us e a versão, com ares de empoderamento feminino devido ao excelente clipe, de SOS. Sem precisar reinventar a roda, Dancing Queen é um prova retumbante que o encontro de dois talentos atemporais pode e deve ser a comprovação que música não envelhece, mas, sim, é refeita da maneira errada.


Nenhum comentário: