BTS
Uma confissão: tinha medo de analisar um trabalho completo do BTS. Medo é uma palavra forte, mas é perfeita para explicar a minha sensação sobre resenhar um artista de um gênero que parecia até então desconhecido para mim. Após um pedido aqui no blog decidi me aventurar no longo álbum Map of the Soul: 7, lançado no começo desse ano. E qual a minha surpresa ao ouvi-lo foi descobrir que, apesar de não ser um álbum excepcional, Map of the Soul: 7 mostra que o k-pop da boy band coreana não é nada mais que um bom e divertido álbum pop feito para agradar em cheio os fãs em um verdadeiro fan-service musical. A minha grande descoberta é, porém, que a sonoridade ouvida aqui não passa de uma versão moderna e estilizada que outras boy bands já fizeram ao longo dos anos. E isso não é nenhum problema no final das contas.
Para qualquer fã da boy band que esteja lendo essa resenha tenha em mente o seguinte: eu gostei do álbum. Tenho algumas criticas para fazer, mas não acredite que ao dizer que a sonoridade deles não passa de uma evolução/modernizada do que o Backstreet Boys ou o N'Sync fizeram nos anos noventa e começo dos anos dois mil seja algo ruim. A verdade é que o BTS segue as mesmas diretrizes do que já foi a base do sucesso dessas boys bands ocidentais, mas com um grande fato de diferenciação importante: a cultura. Apesar das semelhanças, o fato é que estamos falando de sete garotos asiáticos que até poucos anos antes não tinham nenhum reconhecimento dentro do mainstream ocidental. E o mais importante: as suas imagens físicas não eram nem de longe consideradas "atrativas". Tente lembrar aí: qual nome de um artista asiático nascido ou descendente que foram de alguma forma considerados símbolos de beleza para a cultura ocidental? Difícil, não é? Então, o surgimento e ascensão de nomes do k-pop estão ajudando a mudar esse cenário, mesmo que ainda exista um grande caminho pela frente. E um dos principais responsáveis por isso é o BTS que, ao seguir regras ocidentais, subvertem as regras ao adicionar uma bagagem de significação racial e cultural. Tirando isso, o importante é falar que sonoramente, a boy band está longe da perfeição, mas sabem o mais importante: pop é pop em qualquer lugar do mundo. E aqui é elevado a outro patamar.
Ouvir Map of the Soul: 7 é entender melhor que o k-pop não é um gênero musical, mas, sim, um caldeirão de gêneros que giram predominante em torno do pop/R&B/hip hop como, por exemplo, dance-pop, electropop, soul e trap music. Entretanto, a produção geral do álbum dá uma envernizada nesses gêneros para criar uma sensação continua de pomposidade épica que parece ser a marcar principal do k-pop. Se no ocidente o pop está no nível 10, o k-pop eleva tudo ao nível 11. E o BTS abraça com louvor essa característica, fazendo do álbum uma verdadeira porrada pop sonora. Cada canção parece ser feita para virar single com um clipe complexo e grandioso. Nada é pequeno, discreto ou despretensioso, Map of the Soul: 7 é feito para impressionar com a sua grandiosidade. O lado ruim disso é que tudo parece ser feito para virar clipe e, não, um trabalho realmente orgânico. Existem vários momentos que é possível imaginar que aquela batida irá se transformar em um movimento de câmera ou o corte de edição. Isso quebra um pouco da fantasia por trás da produção, fazendo a gente pensar que se a banda realmente se preocupa com a música em seu estado bruto e não apenas como um veículo para gerar engajamento nas redes sociais e views no YouTube. Tirando essa formigante questão, o BTS guarda alguns outros bons motivos para elogios.
O primeiro deles é excepcional divisão de papeis para os sete integrantes do BTS. Na minha visão não existe aqui a famosa sensação de existir uma Beyoncé ou um Justin Timberlake dentro do grupo. Todos têm praticamente a mesma chance de brilhar sozinhos ou/e em grupo, mostrando os seus pontos fortes. E, queridos leitores, os rapazes são talentosos e carismáticos como deveria ser todos os integrantes de uma boy/girl band. Entre as vertentes de rappers e cantores, o BTS tem um je ne sais quoi que ajuda a entender todo o sucesso entre os fãs de k-pop. Apesar disso, um dos integrantes chamou muito a minha atenção. Logo nas primeiras faixas notei que havia um forte backvocal feminino durante as faixas. Então, surge a sétima faixa Filter e vem a surpresa que essa voz é, na verdade, de um dos integrantes: Jimin. Com um timbre extremamente diferente do que já ouvi até agora, o integrante tem uma voz que na teoria não funcionaria devido a sua estranheza que gera ao ouvir. Entretanto, alguma coisa acontece que faz Jimin ser um verdadeiro achado em uma canção R&B/pop que poderia passar batido em um álbum de uma boy band ocidental. Outro momento que Jimin elava é fofa e cafona Friends ao lado do companheiro de banda V. E, novamente, desafiando as probabilidades, o uso do cafona aqui é algo sinceramente positivo, pois Map of the Soul: 7 termina nessa mesma surpreendente toada.
Depois de todo um álbum com batidas densas, forte e com uma atmosfera de seriedade, o álbum embarca em uma viagem de sentimentalismo brega, cafona e adoravelmente envolvente. Sinceramente, não sei o que acontece aqui, mas a parte final do álbum é algo que tirou boas risadas de mim enquanto ouvia. Não risada de deboche, mas, sim, de um prazer nada culposo ouvindo letras melosas, tocantes e deliciosamente sentimentais. Tudo começa com a épica estilo One Direction encontra One Republic Inner Child (solo do V), passa pela já citada Friends e pela doce R&B/dream-pop Moon (solo de Jin) e termina na explosiva old fashion hip hop/pop Respect. É aqui que fica realmente claro que liricamente o BTS entrega o que o seu público deseja: letras diretas, bem construídas, possivelmente pessoais e irremediavelmente românticas. Não posso opinar propriamente nas letras, pois a maior parte está em coreano e, apesar de traduzidas, sempre haverá algo que se perde na tradução. Todavia, o que realmente dá para entender é que existe um trabalho sólido, bem pensado e com alguns momentos realmente inspirados como é caso da melhor faixa do álbum: co-escrita por Troye Sivan, Allie X e Leland, a madura dance-pop Louder Than Bombs. Outros momentos de destaque ficam por conta de Boy With Luv com a participação modesta da Halsey, a batida redonda de Make It Right, a rap/hip hop/pop Interlude: Shadow, My Time e, por fim, a divertida UGH!. Assim qualquer álbum pop recentemente, Map of the Soul: 7 também sofre de ter muitas faixas e uma duração de quase uma hora e quinze minutos, mostrando que o BTS segue uma cartilha pop já bem conhecida. A diferença, porém, é a bagagem cultural trazida e o talento nato dos integrantes da boy band.
3 comentários:
Aee, até q enfim, foi eu q pedi.
Adoro esse album.
Valeu por atender meu pedido por essa resenha. Sou um fã do grupo e acompanho seu blog a anos, tava curioso por sua opinião já não conhece muito o grupo ou kpop.
Muito boa a resenha.adorei.
Marcos.
Muito obrigado pelo carinho. Que bom que gostou. Volte sempre.
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