11 de agosto de 2024

Primeira Impressão

Lives Outgrown
Beth Gibbons




Deve ser realmente revigorante chegar aos cinquenta e nove anos de idade com uma carreira completamente consagrada e ainda assim pode falar que está lançamento o seu primeiro álbum da carreira. E isso pode se vangloria a Beth Gibbons, vocalista do Portishead, ao lançar o ótimo Lives Outgrown.

Apesar de ser o seu terceiro álbum longe da sua banda, o álbum marca a primeira vez que a cantora não tem uma parceria na construção do trabalho. É apenas Beth Gibbons e ponto. Isso é realmente um fato louvável, pois artistas do seu peso e anos de experiencia quase nunca se aventuram tão fortemente fora da sua zona de conforto. E é isso que Lives Outgrown é: uma aventura de um grande nome em sua plenitude. E o grande trunfo do álbum é a sua impressionante e genial produção que capitaneado pela própria cantora ao lado de James Ford. E eu preciso dar todas as flores para o Ford devido a sua impressionante versatilidade, pois o produtor é capaz de entregar um álbum como esse e também trabalhar em obras completamente opostas para nomes como, por exemplo, Jessie Ware, Kylie Minogue, Haim, entre outros. É quase impossível imaginar sem a gente não soubesse que a mesma pessoa que está por trás desse álbum é a mesma por trás de Spotlight, por exemplo. A única coisa que liga é imensa qualidade entre os trabalhos.

Sóbrio, melancólico e poderoso, Lives Outgrown é tecido como um vigoroso encontro de champer pop, art rock e indie folk que nunca se torna pesado demais devido a tino de Ford, mas passa longe de ser frívolo. É um trabalho maduro que representa a força artística da cantora na mesma medida que a enverniza de uma sensação de vigor impressionante. E o grande trunfo aqui é a sensação que estamos ouvindo uma “tempestade silenciosa”, pois todo álbum tem essa vibe de se manter sonoramente contido e esconde toda a sua força emocional por trás. E a melhor canção do álbum mostra perfeitamente essa qualidade: Floating on a Moment. “a canção é uma verdadeira aula de como fazer uma slow burn que vai aos poucos grudando na nossa mente para não soltar mais com a sua atmosfera sufocante e de uma força constante e devastadora. A parte final em que surge um coral de vozes infantis é o ponto algo ao arrematar a canção de maneira inesperada. A maneira contida como quase fosse uma canção de ninar sombria que Gibbons é simplesmente brilhante, pois faz com que Floating On A Moment ganhe ainda mais nuances ao contar com a maturidade criativa de uma artista desse calibre”. Nem tudo, porém, funciona perfeitamente no álbum, pois as composições são trabalhos que não conectam facilmente com o público.

Não que sejam trabalhos ruins, mas, sim, apresentam uma maneira de mostrarem o seu poder emocional que dificultam a fácil assimilação com o publico de maneira “fácil”. Demora até a gente realmente entender a peculiar e distinta lírica criada pela Beth e o seu parceiro de composição, o musico Lee Harris, e isso tira certa força do álbum. Entretanto, quando a gente embarca começa a perceber a qualidade absurda das composições, especialmente as faz canções na parte final do álbum. Em Oceans, a cantora faz uma profunda e tocante crônica sobre envelhecer, principalmente o peso para uma mulher (“Fooled ovulation, but no babe in me”). Beyond the Sun é uma reflexão substancialmente simples, mas impressionante sobre se arrepender de um relacionamento passado que gosto em especial da seguinte construção:

If I had known where I'd begun
Would I still fear where I might end?
If I had known you from the start

Mesmo não acertando plenamente na lírica do álbum, o que a cantora não deixa dúvidas é na deslumbrante maneira que performa cada canção em Lives Outgrown. Sua voz carregava todo o peso da experiencia que se mistura lindamente com o seu cristalino timbre, criando o perfeito veiculo para carregar cada faixa. Gosto especialmente da maneira pomposa que Beth entoa a sensacional For Sale, pois dá par aa canção o acabamento perfeito. Outros momentos que preciso destacar no álbum ficam por conta da densa Burden of Life, a batida gloriosa soturna de Rewind e a deslumbrante Reaching Out. E que esse “começo” de carreira para a Beth Gibbons seja frutífero e possa dar fruto tão suculentos como é Lives Outgrown.



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