25 de agosto de 2024

Primeira Impressão

SMILE! :D
Porter Robinson





Sabe quando você tem um nível alto de expectativa sobre algo, mas quando essa coisa acontece não é nada do que você realmente esperava e, mesmo assim, você não saia exatamente desapontado? É um sentimento complicado de explicar, mas é assim que me sentir depois de ouvir SMILE! :D, novo trabalho do DJ/produtor/cantor Porter Robinson.

Com os lançamentos dos singles que antecederam o álbum começou a surgir em mim aquele famosa expectativa para escutar o trabalho como o todo, pois a qualidade das canções é bem alta e com uma proposta/estética bem peculiar e interessante. Entretanto, passando pelas canções que viraram single, SMILE! :D é bem diferente do que estava esperando, especialmente devido a sonoridade. A diferença é que os singles seguem uma linha mais electropop/EDM/house contra uma linha mais indie pop/rock com influencia eletrônica para as outras canções do álbum. Tenho que admitir que essa quebra de expectativa é algo que me pegou desprevenido, criando certo ruido na minha percepção do álbum. Todavia, Robinson consegue me manter na sua onda sonora no momento que mantem a qualidade do álbum e, principalmente, consegue dar uma razão para essa discrepância.

SMILE! :D é no seu coração um trabalho pessoal e intimo para o artista, pois explora sentimentos bastante complexos que normalmente não estariam associados com o seu estilo musical. E a mudança se explica já que reflete as crônicas e reflexões que Porter realiza ao explorar suas emoções que estão especialmente associadas com a sua relação com a fama e a indústria da música. Então, essa transição entre gêneros parece mais fluida ao olhar por esse lado já que esse tipo de discussão parece mais plausível em uma sonoridade mais indie rock, mas isso não impede que crie certo ruido para quem esperava algo estritamente como os primeiros singles. Apesar de conseguir ultrapassar essa quebra de expectativa preciso admitir que isso afetou um pouco a minha percepção em relação ao álbum, criando quase um pequeno tropeço na minha relação com o trabalho. Felizmente, isso é colocado de lado ao conseguir embarcar com essa visão de Porter ao entender o seu ponto de vista e, principalmente, a qualidade de produção em qualquer momento do álbum.

O melhor momento de SMILE! :D que segue essa linha indie pop/rock é a tocante balada Easier to Love You em que o artista reflete sobre como a maturidade o ajudou a entender e amar o seu eu jovem ao perdoar seus erros e inseguranças. É uma composição até simples, mas de uma força emocional realmente impressionante já que consegue encontrar facilmente uma conexão com quem escuta de várias maneiras. E essa vulnerabilidade sincera e empática que Porter mostra é o pilar de ouro do trabalho, fazendo a gente entender bem quem é o mesmo e, também, criar vínculos verdadeiros com a sua persona. Apesar desse grande momento, os melhores momentos realmente se encontram na vertente electropop/EDM/house do álbum.

Em Cheerleader, a “composição abrange a complexidade dessa relação ao mostrar que existe, sim, uma idolatria que pode passar do limite, mas que ao mesmo tempo o artista precisa de fãs para ter sucesso e uma carreira. Não existe nenhum dedo apontado para qualquer um dos lados de maneira acusativa, deixando julgamentos para quem escuta a canção. E tudo isso é feito com uma estética tão bem pensada para ser uma perfeita letra pop com um refrão fácil e viciante. Sonoramente, Cheerleader é uma inspirada e divertida hyperpop/pop punk/eletropop que está a par com a qualidade da sonoridade mostrada pelo artista até o momento”. Russian Roulette tem o seu ponto alto na “sua inesperada mudança rítmica na parte final da canção em que saímos de uma batida electropop para uma emocional e sentimental parte pop rock/emo-pop para logo depois mudar novamente para uma parte mais eletrônica e trance que termina a faixa de maneira inesperada e genial. A ponte entre as partes é de uma fluidez impressionante e que faz a gente fica desconcertado ao escutar pela primeira, notando o quanto as mudanças fazem sentido perante ao teor da canção e o como a temática é trabalhada ao longo da canção”. É necessário apontar outra qualidade do artista é que como cantor não temos nenhum gênio natural, mas, sim, o mesmo apresenta uma sabedoria em como usar os efeitos vocais possíveis para incrementar sua voz sem passar perto de a fazer algo criado por inteligência artificial. Outros grandes momentos do álbum ficam por conta de Knock Yourself Out XD em que “o artista reflete sobre a sua relação com a fama, a indústria, a expectativa que tem sobre ele e os haters de maneira a criar uma letra ácida, mas mais reflexiva em que podemos perceber os pensamentos conflitantes do artista. É inspirada, inteligente e engraçadona que no fundo dá uma sensação estranha de ouvirmos uma letra de uma canção pop falando de maneira tão desconcertante sobre o mundo em que admiramos de alguma forma. E aí o outro tapa na cara”, Kitsune Maison Freestyle e a sua pungente critica a pressão estética e, por fim, Year of the Cup que interpola uma entrevista do Lil’ Wayne de uma maneira tão interessante e original. SMILE! :D não corresponde exatamente a expectativas que foram criadas, mas Porter Robinson consegue entregar um trabalho realmente louvável e realmente memorável.

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