Viagra Boys
Viagr Aboys, quinto álbum da banda Viagra Boys, é um trabalho que, sonoramente, está deslocado no tempo ao apresentar um som que teve seu auge há cerca de trinta anos ou mais. Entretanto, o trabalho nunca soa datado ou como uma nostalgia barata, pois a banda entrega um álbum sucinto, despretensioso, incômodo, divertidíssimo e excitante.
Apesar de não serem novatos, a banda apresenta uma energia tão impressionante no álbum que parece o trabalho de uma promissora banda em começo de carreira, se jogando sem medo, amarras ou cartilhas. Corajoso e audacioso, o álbum é, no entanto, estruturado em uma base sólida, maturada e estabelecida ao entregar um trabalho inspirado de art/dance/post/synth-punk que consegue empolgar devido à sua força quase descomunal. E boa parte disso vem da inteligente decisão de fazer um álbum rápido e direto, pois, com o tempo “reduzido”, o álbum nunca parece arrastado ou que ultrapassou o seu alcance criativo.
Viagr Aboys tem onze faixas e cerca de trinta e sete minutos de duração, e, ao contrário de trabalhos curtos que não precisariam de mais tempo para realmente explorar suas ideias, a produção aqui acerta perfeitamente em saber quais ideias seguir e, principalmente, como fazer toda a força criativa caber como uma luva. É um trabalho sucinto, mas nunca falta ou sobra espaço, o que cria a sensação de que nada ficou de fora. Não deixa aquele sentimento de querer mais por parecer incompleto; ao contrário, a gente fica querendo mais da banda em um novo álbum, já que aqui tudo é satisfatório ao extremo. Entretanto, Viagra Boys não é uma banda para qualquer público, e isso se reflete no álbum.
Obviamente, a banda não tem o intuito de ser comercial dentro do mainstream, pois sua sonoridade é algo que claramente teve seu auge na geração que hoje está entre os seus trinta e cinco até beirando os cinquenta anos, em uma época de ascensão do punk. Felizmente, a sonoridade do Viagra Boys nunca soa datada, mofada ou como uma nostalgia barata devido ao frescor criativo colocado no álbum. O que acontece aqui é que existe uma aspereza incômoda no contexto geral da sonoridade, que não é atrativa para muitos, mas é o ponto ideal para quem realmente se sente puxado para o centro gravitacional do estilo da banda. É incômodo, estranho, imprevisível e viciante. Esse mix de emoções vem muito devido à lírica devastadora e ácida da banda.
Uma das características do(s) gênero(s) que a banda escolheu seguir é essa constante e pungente crítica à sociedade, sempre misturando humor, galhofa, honestidade, ironia e uma dose cavalar de acidez capaz de corroer qualquer senso mais conservador. E é isso que a banda faz aqui de maneira exemplar e, em algumas vezes, genial. Um desses momentos é no single Man Made of Meat. “A canção é afiadíssima, desconcertante, ácida e uma explosiva crítica à sociedade moderna, especialmente à maneira como as pessoas lidam com a internet, o consumismo e a cultura da celebridade. Todavia, não é apenas uma crítica/reflexão, mas, sim, uma porrada descomunal, ao usar construções líricas que vão do cair o queixo até versos que nos deixam sem nenhuma reação de verdade”. É preciso dizer que, apesar de toda essa qualidade, Viagr Aboys não teria o mesmo impacto se não fosse pela verdadeira tour de force performática do vocalista Sebastian Murphy.
Dentro do estilo punk, o cantor simplesmente entrega uma coleção espetacular, versátil, estilizada, poderosa, surpreendente, louca, frenética e sempre divertidíssima de performances que realmente são a cola que junta todos os aspectos do álbum de maneira definitiva. Existem vocalistas melhores tecnicamente que Sebastian, mas, sinceramente, não existe nenhum atualmente com o mesmo alcance performático, que o transforma em uma força da natureza. E o seu ápice está na impressionante dance-punk/post-punk Dirty Boyz, em que o vocalista entrega uma performance raivosa, terminando em uma “imitação” de Elvis Presley. Apesar de o álbum ser um trabalho que precisa ser escutado como um todo para entender seu impacto, outros momentos de destaque ficam por conta de Uno II, que é escrita da perspectiva do cachorro do vocalista, e a versão de balada romântica da banda na soturna e climática Medicine for Horses.
Viagr Aboys não se torna apenas um dos melhores álbuns do ano, mas faz com que o Viagra Boys entregue um dos melhores álbuns de rock dos últimos anos.


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