Lola Young
Já disse algumas vezes aqui no blog que, infelizmente, nem sempre consigo “dar conta” dos principais lançamentos, mesmo tentando ao menos ser o mais abrangente e cuidadoso nas canções que decido resenhar. E é por isso que, de vez em quando, passa despercebida alguma canção que merecia a minha atenção. Esse é o caso de Messy, da Lola Young.
Single do seu segundo álbum, chamado This Wasn't Meant for You Anyway, a canção foi lançada em maio de 2024, mas foi ganhando destaque aos poucos devido a se tornar um viral no TikTok. E, ao contrário de canções que ganham esse status, Messy é uma canção com substância lírica e sonora. Caminhando no legado de cantoras britânicas que pavimentaram a história da música, a canção é uma refinada e sofisticada mistura de soul/pop soul, com uma estrutura muito bem pensada pela produção que ganha um belo e profundo verniz de indie rock, conferindo à canção novos contornos. Entretanto, o grande destaque do instrumental é a brilhante mudança de atmosfera entre os versos e o refrão, que reflete perfeitamente a diferença lírica e emocional das duas partes. E é aqui que Messy realmente se transforma em uma pérola rara e brilhante.
Messy é um trabalho de uma sinceridade desconcertante e de uma dor sentida, devido à impressionante capacidade da própria Lola, ao lado de Conor Dickinson, de criar uma crônica sobre um relacionamento tóxico causado pelos problemas mentais dos envolvidos. Muito longe de ser um trabalho de autopiedade barata, a letra conta, de maneira crua e nua, as incongruências entre as atitudes do companheiro de Lola em relação ao relacionamento, enquanto ela entende o seu lado na equação dos problemas, mas também deixa bem claro o seu sofrimento. E tudo isso é feito de maneira impressionante, pois mistura toda essa carga emocional com o humor ácido característico britânico, que chega a arder. E o grande momento é no sensacional refrão, especialmente na sua segunda metade:
And I'm too clever, and then I'm too fucking dumb
You hate it when I cry, unless it's that time of the month
And I'm too perfect 'til I show you that I'm not
A thousand people I could be for you, and you hate the fucking lot
E o pacote se fecha com a performance perfeita, ao saber lidar bem com as mudanças da canção, em especial o tom quase confidencial de algumas partes dos versos, e com a personalidade irresistível de Lola Young, devido ao seu timbre maduro, áspero e cativante. Mesmo perdendo o bonde inicial do sucesso de Messy, poder finalmente dar minhas flores para Lola Young é algo que realmente me deixa feliz.
nota: 8,5

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