21 de dezembro de 2014

Primeira Impressão

My Favourite Faded Fantasy
Damien Rice




No meio cinematográfico existem aqueles filmes que não foram sucesso de público, mas, apesar disso, são considerados "pequenos grandes clássicos" devido a sua imensa qualidade. Isso também acontece no mundo da música: álbuns quase não conhecidos pelo grande público que guardam, para aqueles que sabem da sua existência, uma experiência verdadeiramente fantástica. 

Conhecido pelo sucesso do seu álbum de estréia O de 2002 que continha os sucesso de Cannonball e The Blower's Daughter (provavelmente, a minha canção favorita de todos os tempos), o irlandês Damien Rice passou oito anos sem lançar nada desde o seu segundo álbum intitulado 9 de 2006 passando esse tempo se dedicando a projetos ao lado de outros artistas. Esse ano, contudo, Damien resolveu lançar o seu terceiro álbum, fato esse, que passou desapercebido por muitos e quase não entrou aqui no blog. Só que como a curiosidade da minha parte falou mais alto, resolvi dar uma ouvida em My Favourite Faded Fantasy e, graças à Deus, eu resolvi fazer isso, pois poderia perder um dos melhore álbuns dos últimos tempos. 

Quem conhece um pouco sobre Damien sabe que o cantor sempre navegou por águas tranquilas, mas que são extremamente profundas e densas em seus significados. Em My Favourite Faded Fantasy, Damien nos conduz em uma jornada noite adentro nas asas de um pássaro que ama e, por isso, se fere e é ferido pelo tóxico doce do amor. As suas impressionantes composições são crônicas melancólicas, reflexivas e arrebatadoramente compelidas de realidade nua e crua sobre as artimanhas do amor. Esse é o caso da devastadora I Don't Want To Change You sobre a dor de amar e não ser correspondido. No mundo de Damien não há lugar para a fantasia de contos de fadas. O amor, longe da mistificação feita por muitos, é o mais real dos sofrimentos em qualquer situação e isso está impresso no álbum do começo ao fim. Mesmo com tamanha complexidade, Damien se utiliza de uma escrita relativamente simples e direta que apenas ajuda a intensificar a sensação de devastação que My Favourite Faded Fantasy transmiti. Com seu estilo único de cantar em que vários momentos apenas "sussurra" a música, Damien consegue imprimir toda a complexidade de seus sentimentos em performances cativantes que refletem a dor de suas palavras. Como único produtor, a lenda viva Rick Rubin soube manter intacta a atmosfera da sonoridade de Damien baseada apenas em poucos instrumentos e uma atmosfera folk "acústica", mas, com muita propriedade, Rick injeta um ar fresco ao adicionar uma estrutura elaborada com a introdução de arranjos mais encorpados. Além disso, sem se preocupar com a urgência de construir canções feitas para vender, as canções em My Favourite Faded Fantasy levam o tempo necessário para desenrolar as suas histórias e, por causa disso, as durações das oito músicas ficam entre quatro minutos e meio e nove minutos e meio, mas sem causar a sensação de ser um álbum arrastado. Em Trusty and True tudo dito fica bem nítido, pois, a belíssima faixa, representa todos os acertos de My Favourite Faded Fantasy. E não são poucos os acertos. Claro que eu aconselho a todos a descobrirem esse "pequeno grande clássico", pois são desses momentos que quem ama música depende para "viver".


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