Maria Rita
Para quem viveu intensamente os anos dois mil irá se lembrar que 2003 foi um ano muito movimentado na música. Arrisco a dizer que foi o ano que definiu a cara daquela década e, consequentemente, ajudou a remodelar a cara da música como conhecemos hoje em dia. Citarei apenas cinco fatos que aconteceram nesse ano de maior importância: o lançamento das carreiras solo de Beyoncé e Justin Timberlake, a popularização do nu metal com o Link Park e o Evanescence, o surgimento de nomes como 50 Cent, Maroon 5 e Amy Winehouse, a morte de Barry White, Nina Simone e Johnny Cash e o encontro da Madonna com Britney e Christina na famosa apresentação no VMA. Aqui no Brasil tivemos grandes momentos e um deles foi o lançamento da carreira da Maria Rita. Uma jovem cantora de 25 anos na época que até poderia passar batido como mais uma cantora de MPB, mas, como vocês devem saber, Maria Rita não era apenas mais uma cantora e, sim, uma cantora filha da maior cantora brasileira de todos os tempos: Elis Regina.
No momento do lançamento do álbum faziam vinte e um anos que Elis tinha morrido, mas não tinha sumido nem por um centímetro do imaginário popular como apenas verdadeiras lendas conseguem. Então, imagem o peso que a sua filha não teria ao lançar a sua carreira. Cercada de nomes talentosos, Maria Rita fez o mais correto para alguém que, mesmo antes de começar, já carregava tanta bagagem nas suas contas: afastou-se de qualquer referência direta ao trabalho da mãe. Sem escolher regravar nenhuma canção que já tinha sido interpretada por Elis, fato esse que só aconteceria anos mais tarde em um projeto chamado Redescobrir de 2012, Maria Rita mostrou logo de cara que estava buscando trilhar o seu próprio caminho, mesmo que ainda haveria criticas de que a cantora estava usando do nome de Elis e, claro, surgiram as comparações entre as duas. Felizmente, Maria não precisou de muito tempo para comprovar que o seu talento poderia até passar pela genética da mãe e do pai (o músico César Camargo Mariano), mas era dona de uma luz especial só sua.
Produzido por Tom Capone, que morreria um ano após em um acidente de moto na volta do Grammy Latino em que o álbum venceu em quatro categorias, Marco da Costa e pela própria Maria Rita, o álbum tem como primeira grande qualidade o fato de saber como dosar perfeitamente regravações com canções inéditas sempre mantendo a qualidade em alta e com a mesma direção sonora. Maria Rita é, basicamente, um álbum MPB com influência e inserções de samba, jazz e blues que ajuda a agregar elementos ricos na sonoridade da cantora. Não é um álbum revolucionário, mas é de uma elegância precisa e moderna que parece querer mostrar a disposição de Maria Rita em envernizar o já estabelecido com cores vibrantes, porém, sabiamente com tons já utilizados por outros nomes. Bem instrumentalizado e com uma atmosfera comercial na medida certa, o álbum foi o perfeito veiculo para a jovem cantora pudesse se apresentar ao público como uma artista que pudesse caminhar sozinha. E isso foi alcançado com sucesso. Lembro-me do sucesso do álbum na época e de como fiquei com vontade de ter o CD, coisa que não pude ter naquele momento. Mesmo assim, Maria Rita ficou marcado na minha mente devido a encantamento de ouvir a voz suave e melódica que, em alguns momentos, soa parecido com a de Elis, mesmo que Maria trilhou um caminho diferente da explosão da mãe ao saber lidar com a limitação natural da sua voz. Outro fator de lembrança é a presença de algumas canções de sucesso presentes no álbum: A Festa, escrita por Milton Nascimento, foi o maior sucesso do álbum e, também, uma das melhores canções daquela década, o samba melancólico de Cara Valente de autoria de Marcelo Camelo e a lindíssima e atemporal Encontros e Despedidas popularizado como tema da novela Senhora do Destino é dona de uma letras mais bonitas sobre saudade. Olhando de mais perto hoje em dia é possível notar que o álbum possui outros grandes acertos como as duas regravações de Rita Lee (Agora Só Falta Você e Pagu), as belas Não Vale a Pena e Menina da Lua / Música Incidental: MARIA RITA (com instrumentalização de seu pai) e a dançante Lavadeira Do Rio. Com uma carreira solida e estabilizada, Maria Rita não repetiu o mesmo sucesso comercial do seu começo, porém, abençoada pelos deuses da música, conseguiu construir a sua própria história.
2 comentários:
Pode até não ter repetido e vendido horrores, mas o Samba Meu foi o seu estouro e sua popularidade somente aumentou.
Show !! Seria demais um "Passando a limpo" da Gal !!! Assisti o "O nome dela é Gal" na HBO e fiquei encantado !!
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