17 de agosto de 2017

Primeira Impressão

Humanz
Gorillaz


Para quem foi pré-adolescente/adolescente durante os anos dois mil irá lembrar que quando surgiam novos artistas era algo muito mais impactante do que nos dias de hoje, pois, em uma época pré-internet, nós conhecíamos novos artistas apenas quando os mesmo realmente faziam sucesso. Era simples: um artista novato apenas era conhecido do grande público quando suas músicas tocavam na rádio e o seus clipes apareciam na antiga MTV. Então, imaginem vocês "novinhos" o impacto que aconteceu quando surgiu o Gorillaz, uma banda que eram, na verdade, "desenho animado". Até hoje, o primeiro single deles, Clint Eastwood, é uma das canções mais queridas por mim, mas após crescer descobrir que gostava deles pelos simples fato deles serem desenhos, mas o projeto criado pelo músico Damon Albarn e o artista Jamie Hewlett é uma verdadeira joia da música contemporânea. E qual a minha felicidade em saber que o Gorillaz não perdeu o caminho após vinte anos de criação após ouvir o excelente Humanz.

Humanz, quinto álbum da banda, é assim como todos os outros trabalhos da banda uma verdadeira salada mista de gêneros que vão do eletrônico até ao R&B, passando pelo eletropop e soul music e chegando pelo rap e hip hop. Entretanto, ao contrário de outros artistas que seguem o mesmo caminho, o Gorillaz possui a capacidade de pegar todos esses gêneros e fundi-los em uma grande e coesa sonoridade única. Claro, é possível notar que existem músicas que pesam para um lado ou outro. Porém, isso não altera o resultado final da sonoridade do Gorillaz que é, resumidamente, o suco que sai dessa salada mista. Um suco gelado, bem temperado, suculento e completamente viciante. 

Tudo começa pelo fato que cada uma das inúmeras participações não estão ali para serem apenas fazer presença e, sim, para verdadeiramente contribuir com a elaboração do álbum. Contando com nomes de rappers relativamente novatos, cantores soul de várias gerações, artistas de música eletrônica, bandas de rock e algumas verdadeiras lendas da música (De La Soul, Grace Jones, Mavis Staples e Carly Simon)Humanz é uma verdadeira viagem musical que até agora 2017 não tinha sido contemplado. Estilos, vozes, nuances e texturas são adicionadas a toda essa mistura do Gorillaz que apenas somam na complicada e detalhista construção instrumental que, quando analisada mais de perto, fica fácil notar a sua grandiosidade que poderia ser a danação do álbum.

Sem perder o foco em nenhum momento com as suas vinte e seis faixas, Humanz cria uma atmosfera dançante e, até certo ponto, descontraída. Digo em até certo ponto, pois a banda decidiu entregar uma vibe bem mais sombria que o normal, principalmente devido a decisão de falar claramente sobre politica e temas sociais. Obviamente, essas composições estão sob a luz, ou melhor, a sombra pesada do atual cenário político nos Estados Unidos. A genial gospel/eletrônica/R&B Hallelujah Money com a presença do poeta/artista britânico Benjamin Clementine é um obvio exemplo disso, mas também encontramos elementos parecidos em Let Me OutSaturnz Barz. Todavia, Humanz não é um álbum politico, pois fala sobre outros temas como o de cunho sentimental e amoroso como a mesma eficiência e, principalmente, um domínio de usar o estilo "menos é mais" para criar algumas verdadeira perolas. Além das canções já citadas, o álbum guarda outros momentos geniais: a soul/disco/eletropop cativante Strobelite, a dancehall/industrial Saturnz BarzMomentz e a sua mistura descontrolada de rap/eletrônico e R&B, a linda e triste balada eletrônica Busted and BlueThe Apprentice e sua batida soul rock, a indie eletrônica/rap Out of Body e a indie pop contemporâneo Ticker TapeHumanz é um ótimo exemplo que o impacto inicial do Gorillaz não era apenas visual e preso em uma época especifica e, sim, o surgimento de algo atemporal.

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