28 de janeiro de 2018

Primeira Impressão

NO ONE EVER REALLY DIES
N.E.R.D.


Certos artistas são tão geniais que em várias vezes precisariam que alguém dissesse a eles para "editar" os seus trabalhos, isto é, tirar ou cortar coisas do seu trabalho final. Um bom caso disso é o do rapper/cantor/produtor Pharrell Williams que nem sempre consegue conter o seu ímpeto criativo como acontece no bom NO ONE EVER REALLY DIES, quinto álbum do seu projeto N.E.R.D.

Apesar de formado pelo Pharrell e pelo rapper Chad Hugo, o N.E.R.D. é basicamente um álbum do Pharrell, estrelado pelo Pharrell, composto pelo Pharrell, produzido quase inteiramente pelo Pharrell (salvo algumas faixas). Isso é longe de ser um trabalho, pois dá para perceber que o artista encarna uma outra persona em NO ONE EVER REALLY DIES, diferente daquele que ouvimos em Happy, por exemplo. Aqui podemos observar um Pharrell disposta a forçar os limites do rap/hip hop ao entregar uma sonoridade bem experimental, misturando com eletrônico, eletrofunk, indie pop e rap rock. Fica mais do que claro que a intenção é criar uma sonoridade que seja profunda, complexa, artista sem perder o toque popular e, acima de tudo, perfeita para carregar a intenção temática das letras de cada canção. E não se engane em achar que ele não consegue fazer isso quase com as mãos nas costas, pois NO ONE EVER REALLY DIES é exatamente isso que qualifiquei o mesmo. Todavia, Pharrel em vários momentos exagera nas intenções, resultado em momentos exagerados, pretensiosos e desnecessários. Não é ruim esses momentos, mas, sim, bem fora dos limites do que o bom senso manda. É como fazer uma excepcional massa caseira de macarrão e um delicioso molho de tomates frescos, porém, na hora de servir, colocar um pouco de massa e "encharcar" com várias conchas de molho. Esse é caso da faixa Lightning Fire Magic Prayer: não bastasse ter quase oito minutos, acontece tantas coisas durante a sua duração que, ao final, parece ser uma colagem de boas ideias do que uma canção sozinha. Na verdade, a faixa deveria ter sido dividida em duas e, talvez, o resultado seria melhor e mais palatável. Outro momento negativo é a repetitiva e desnecessária Rollinem 7's que, ainda por cima, perde a oportunidade de criar algo genial com a presença do rapper André 3000. Todavia, quando o N.E.R.D. acerta, NO ONE EVER REALLY DIES soa como um verdadeiro grande álbum.

Primeiramente, é necessário explicar que NO ONE EVER REALLY DIES é um álbum politico do começo ao fim. Em um clima dado pela loucuras do "presidente" Trump, Pharrell e a sua turma não tem medo de tocar em assuntos que vão do racismo e a brutalidade policial contra negros, passando por islamofobia e anti-imigração até os direitos de pessoas transexuais. Mais atual do que nunca. Além dessa contemporaneidade, as composições possuem uma qualidade rara no dias de hoje no hip hop: inteligência estética. Mais que saber sobre o que falar, o álbum sabe como falar ao adicionar dose cavalares de imagens fortes, irônicas, descoladas e refinadas. Muitas vezes acontecendo tudo isso de uma vez só como é o caso da ótima Secret Life Of Tigers ou a dançante ESP, sendo uma falando sobre imigração e direitos humanos e outra sobre tomar uma atitude, respectivamente. Dominando o álbum do começo ao fim com a sua forma de fazer rap/cantar, Pharrell abre espaços para nomes de peso da música como a Rihanna (Lemon), Gucci Mane e Wale (Voila), Future (100), Ed Sheeran (Lifting You), M.I.A (Kites) e Kendrick Lamar (Don't Don't Do It! e Kites, sendo a primeira a melhor do álbum). NO ONE EVER REALLY DIES poderia ser um álbum genial, mas é tanta genialidade saindo pelos poros que acaba se tornando uma boa tentativa.


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