Troye Sivan
Durante muitos e muitos anos, a cultura queer ficou renega ao underground, podendo ser consumida pelo público LGBTQ de forma que, muitas vezes, era literalmente contra a lei. Infelizmente, isso ainda acontece em vários países, mas, apesar dos pesares, os últimos anos foram responsáveis por uma virada nessa situação. Apesar de ter sempre bebido dessa cultura, o mainstream finalmente está começando a ser abrir para toda essa cultura e para quem a faz, seja pelo sucesso de programas como o RuPaul's Drag Race ou a série Pose, seja pelo o aparecimento de ídolos abertamente LGBTQ ou a presença de mais representatividade em vários setores da sociedade. Ainda caminhamos a passos lentos e existem grandes pedras que aparecem para bloquear essa jornada, mas é fato que estamos vivendo uma época em que não há como mais o público LGBTQ voltar para o armário. Por isso, ouvir um álbum como Bloom do Troye Sivan deve ser festejado em plenos pulmões. E, para melhor essa festa, o álbum é um verdadeiro e emocionante triunfo do que há de melhor no pop.
Apesar de não ser o melhor álbum lançado esse ano com a temática, pois o posto fica para excepcional Palo Santo do Years & Years, Bloom tem maior representatividade devido a exposição de Troye já que o mesmo começou a carreira como ator e, depois, como YouTuber. E isso deve ajudar ainda mais a aceitação do trabalho por um público maior, mesmo que os dois álbuns mereçam esse destaque. O importante é, na verdade, que estamos diante de outra peça importante para a comunidade LGBTQ ao ser o equivalente do filme Me Chame Pelo Seu Nome na música.
Desde o auspicioso primeiro álbum (Blue Neighbourhood) já deu para perceber que Troye era um talentoso cronista sobres as dores e prazeres de ser um jovem gay (ou não) que não se enquadra nos padrões nos dias de hoje. Em Bloom, porém, essa característica é refinada e apurada quase a perfeição ao fazer do álbum um sensível, inteligente, emocionante, tocante, sensual, sincero, divertido, ousado, melancólico e espirituoso diário sobre o coming of age de um jovem gay descobrindo e explorando o mundo. Falando sobre assuntos como descoberta sexual, desejos, corações quebrados, dores de cotovelo, paixonites e auto conhecimento, Troye construí um dos álbuns pop de maior alcance temático dos últimos tempos e de uma profundidade impressionante sem que em nenhum momento soe pedante ou muito menos perder o senso que, no final das contas, Bloom é um álbum pop. Uma das faixas que melhor mostra a qualidade lirica do álbum é a irresistível faixa que dá nome ao álbum: Bloom é, como disse o próprio Troye, um hino para os passivos, mas, falando bonito, a faixa é uma sobre a exploração sexual por um jovem em descobrimento próprio que não esquece der ser uma refinadíssima canção pop. E essa é a melhor definição para a sonoridade do álbum: pop refinadíssimo.
A primeira mudança notável do álbum de estreia para o Bloom é que a produção conseguiu corrigir o principal do primeiro ao dar personalidade distinta para cada faixa, resultando em um álbum colorido e rico em sonoridades diferentes, mas que tem uma coesão impecável devido, principalmente, a fluidez e a quantidade restrita de faixas (apenas dez na versão standart). Se isso já daria um verdadeiro up na sonoridade do cantor, a produção impecável de vários nomes poucos conhecidos (tirando o Ariel Rechtshaid) consegue evoluir o pop apresentando ao transitar perfeitamente entre o artístico e o comercial sem perder a personalidade base do cantor que já tinha sido estabelecida fortemente no primeiro álbum. Em termos gerais, Bloom é um excepcional dance-pop/indie pop/pop que dá a atmosfera necessária para que a mensagem de Troye possa ser transmitida com a clareza e as nuances que os temas abordados merecem. E mais: longe de qualquer presentação estilista, o álbum consegue ser uma acerto precioso naquele senso que pop é para "massas". Lindo, dançante, sensual e muito divertido, Bloom é um feito e tanto em todos os quesitos e ainda tem a presença luminosa, segura e de um carisma arrebatador dos vocais de Troye que parece dar tudo de si em cada gravação. Além da faixa já citada, os outros momentos de imenso destaque é a sensacional My My My!, uma das melhores canções pop do ano, e a impressionante e melancólica The Good Side. Ainda é necessário citar a intrigante Seventeen sobre uma das primeiras experiências sexuais do cantor, a triste balada Postcard com a presença da cantora Gordi, a fofíssima Lucky Strike e a sombria e sensual Animal. O resultado por si só de Bloom já seria algo importante pop, mas o seu peso para a comunidade LGBTQ faz do mesmo um marco moderno que deve ser apreciado por todos que lutamos pela igualdade e a visibilidade de milhares de rostos sem nome. Muito obrigado, Troye Sivan!
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