13 de dezembro de 2018

Primeira Impressão

By The Way, I Forgive You
Brandi Carlile


De vez em quando acontece algo que a gente fica questionando se realmente existe a tal famosa coincidência. O último caso comigo aconteceu recentemente ao saírem os indicados ao Grammy ao ter na categoria de Álbum do Ano a presença de By The Way, I Forgive You da Brandi Carlile. O motivo disso é fato que, apesar de ter lançado em Fevereiro sem fazer muito estardalhaço, o álbum seria um dos próximos resenhados aqui no blog, pois ganhou a minha atenção após ter resenhado a nova versão de uma das canções: Party Of One com a presença do Sam Smith. Então, acredito que o universo conspirou para que o álbum realmente passasse pelo blog e, queridos leitores, a decisão não poderia ser melhor já que definitivamente By The Way, I Forgive You é um dos melhores álbuns do ano. 

Dona de uma carreira que começou em 2004 e que com o lançamento de By The Way, I Forgive You chegou ao sexto álbum, Brandi Carlile firmou o seu nome ao longo dos anos como uma das principais artistas de folk do que podemos chamar de nova geração. Apesar disso, a cantora nunca alcançou um grande destaque no mainstream norte americano, mas isso não impediu a cantora de construir uma carreira sólida e que continua em ascensão. Tanto que o álbum, além de ter alcançado a quinta posição na Billboard, foi contemplado com seis indicações ao Grammy, incluindo ao prestigioso Álbum do Ano. E depois de ouvir o trabalho é fácil de perceber o motivo de tudo isso.

Como apontado anteriormente, By The Way, I Forgive You (um dos melhores nomes de álbum dos últimos tempos) é um trabalho basicamente de um gênero chamado de americana. Gênero típico estadunidense, o americana nada mais é que a mistura abrangente de vários tipos de gêneros tipicamente dos Estados Unidos que vai do country e folk, passa pelo blues e gospel até chegar ao rock e o R&B. No álbum de Brandi, a sonoridade puxa mais para o country e folk, mas tem algumas boas pitadas de rock e até mesmo de rock. Artisticamente, a sonoridade não tem nada de novo ou algo que quebre alguma expectativa, ficando toda a base do álbum na pegada mais tradicional possível. Essa característica, porém, não significa um ponto negativo, pois, além de representar quem Brandi Carlile como artista, a produção geral do álbum acerta na instrumentalização que resultado em uma sonoridade impressionante, épica, robusta e de uma força desconcertante. E para dar o certo, o álbum não poderia ter nada diferente na sua produção, pois só assim para segurar a grandiosidade emocional que cada composição transmite. 


By The Way, I Forgive You é liricamente o que apenas posso denominar como uma gentil tormenta de emoções. Parece contraditório definir as composições como uma "gentil tormenta", mas é exatamente esse sentimento que a gente senti após terminar de ouvir o álbum. E, sejamos sinceros, essa é uma das funções da música, mas que parece tão renegadas à um segundo no atual cenário. Por isso, By The Way, I Forgive You é tão precioso nesse sentido, pois dá para quem ouve uma verdadeira experiência de emoções, principalmente devido ao fato de falar sobre assuntos tão comuns da nossa vida. E é nesse momento que o álbum brilha ainda mais ao conseguir elevar esses simples e corriqueiros sentimentos/emoções em algo tão poderoso como uma tormenta. Em The Mother, por exemplo, Brandi faz uma homenagem a sua filha Evangeline ao "listar" toda a loucura banal que a uma criança traz para a vida de seus pais. Nada mais "comum", mas, nas palavras de Brandi, vira algo com uma força emoção tocante e uma beleza poética deslumbrante. Sem precisar, porém, criar complicadas e rebuscadas sentenças, sendo desconcertadamente direta e de uma sinceridade cativante. Além disso, a maneira como a cantora coloca essas letras sem necessariamente soar como amarga ou raivosa, mesmo em composições que poderia pedir esse tipo de abordagem como é o caso de Most Of All sobre o que herdamos de nossos pais e como lidamos com essa carga para o resto da vida. A canção poderia cair naquele lugar de "reclamar" de reclamar dos nossos pais, mesmo sendo válida essa decisão, Brandi segue o caminho da delicadeza em todos os momentos, deixando By The Way, I Forgive You exatamente como descrevi no começo desse parágrafo: uma gentil tormenta de emoções. E olha que as canções já citada nem são exatamente os melhores momentos do álbum.

By The Way, I Forgive You já começo em alto nível, dando exatamente o tom que está por vim em todo o álbum: Every Time I Hear That Song é uma emocionante e pé no chão crônica sobre perdoar alguém que quebrou o seu coração e, até mesmo, conseguir tirar o melhor de tudo o que aconteceu. Já na quase acústica Whatever You DoBrandi Carlile destrói nossos corações com uma composição sobre escolher terminar um relacionamento, pois só assim a pessoa poderá seguir em frente com a sua vida. A canção é dona de um dos refrões mais bonitos e emocionantes dos últimos tempos: There's a road left behind me that I would rather not speak of / And a hard one ahead of me too / I love you, whatever you do / But I got a life to live tooSugartooth é uma pontual e devastadora história de um jovem viciado em opioides que, apesar de ser uma boa pessoa, não consegue vencer o problema, acabando se matando no final. Fechando o álbum está a canção que primeiramente chamou a minha atenção: um pouco diferente da versão com Sam Smith, mas com a mesma força, Party Of One é um triste e avassalador desabafo de alguém que chegou ao seu limite em uma relação devido ao comportamento da outra pessoa, mas que ainda existe amor verdadeira envolvido nesse relacionamento. Todavia, o grande momento do álbum é aquela faixa que merecidamente está indicada a quatro Grammys, incluindo Gravação e Canção do Ano: The Joke é uma balada épica e de uma genialidade incontestável que esconde uma mensagem mais profunda que se pode imaginar. A canção é quase um protesto contra a situação sociopolítica atual dos Estados Unidos, principalmente depois da eleição de Donald Trump, evidenciando e dando esperança para aqueles que se sentem marginalizados pela sociedade. Simplesmente uma obra espetacular que ainda tem a presença vocal de Brandi em uma performance impecável e à altura de trabalho tão impressionante como The Joke. Na verdade, Brandi repete performances avassaladoras em todos os momentos, apenas dando a perfeita tradução para as suas canções. Resenhar By The Way, I Forgive You talvez tenha sido uma das melhores coincidências que já aconteceu aqui blog. E isso é algo que não podemos dizer todos os dias.

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